sexta-feira, 27 de junho de 2025

Assim Israel cava sua própria ruína

 

Foto: Amir Cohen/Associated Press Pool

 

 


 Texto original de Luiz Marques em 23/06/2025 no site Outras Palavras

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Texto editado / NMM:

 Em 2024, a Universidade de Uppsala (UCDP) registrou 61 conflitos ativos no mundo, “o maior número desde o início das estatísticas em 1946. Onze desses conflitos atingiram o nível de guerra, definido como um conflito que causa pelo menos 1.000 mortes relacionadas a batalhas em um ano”. 

Essa proliferação de guerras ocorre justamente quando a humanidade precisa de cooperação para desacelerar o aquecimento global e reverter a destruição da natureza. Em 2024, o orçamento militar global superou 2,7 trilhões de dólares, um aumento de 9,4% em termos reais (já descontada a inflação) em relação a 2023. É o 10o ano consecutivo de aumento. Em 2024, os aumentos mais significativos ocorreram na Europa e no Oriente Médio (+65% em Israel).

As estimativas são de que a engrenagem militar responde por 5,5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Se essa engrenagem fosse um país, esse “país” seria o quarto mais emissor do mundo, após apenas a China, os Estados Unidos e a Índia. 

1. Sudão e Israel

Nesse contexto, avançam impunes os dois maiores genocídios deste século, ambos iniciados em 2023. O primeiro está de volta a Darfur, no Sudão, após o genocídio de 2003-2005.  Visando o controle de recursos hídricos, terras agrícolas, reservas de metais e de gás natural, generais travam uma guerra intestina, apoiados, de um lado, pela Arábia Saudita e, de outro, pelos Emirados Árabes.  Esse conflito afeta sobretudo os grupos étnicos não árabes, mas o país como um todo é vitimado; e já matou 150 mil pessoas, forçou o deslocamento interno de 8,6 milhões e o deslocamento externo de outros 4 milhões. O abandono da agricultura está levando 24,6 milhões de pessoas a um estado de insegurança alimentar aguda.

O segundo genocídio, bem documentado e condenado pelo Tribunal Penal Internacional, ocorre desde outubro de 2023 em Israel, sobretudo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e tem por vítimas os palestinos.

Esse genocídio sem precedentes em nosso século está se consumando com as armas, a logística e o apoio econômico e diplomático dos Estados Unidos e de vários países da Europa. Em março de 2025, a vice-presidente da Comissão europeia, Kaja Kallas, declarou, em visita oficial a Israel, que o país “é um parceiro muito relevante para a União Europeia e também um ator maior no setor de tecnologia.” Em “Os últimos dias de Gaza”, Chris Hedges resume o que os “ótimos parceiros” da União Europeia estão cometendo:

“O genocídio está quase completo. Quando estiver concluído, terá não apenas dizimado os palestinos, mas terá também exposto a falência moral da civilização ocidental. (…) Dois milhões de pessoas estão acampadas entre os escombros ou ao ar livre. Dezenas são mortas e feridas diariamente por granadas, mísseis, drones, bombas e balas israelenses. Falta-lhes água limpa, remédios e alimentos. Chegaram a um ponto de colapso. Doentes. Feridas. Aterrorizadas. Humilhadas. Abandonadas. Destituídas. Famintas. Sem esperança”.

Até semanas antes de 7 de outubro de 2023, data do ataque mortífero do Hamas contra militares e civis israelenses, a intenção do governo de Israel nunca foi derrotar essa organização. Ao contrário. Netanyahu dizia que convinha fortalecer o Hamas e enfraquecer Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina na Cisjordânia, dificultando assim o estabelecimento de um Estado palestino unificado.

Mark Mazzetti e Ronen Bergman confirmam que durante anos, o Qatar enviou milhões de dólares para a Faixa de Gaza, fortalecendo o Hamas, com total apoio de Netanyahu. E isso, repita-se, até setembro de 2023… Netanyahu agora usa o ataque do Hamas como pretexto para pôr em prática sua real intenção: reduzir Gaza a pó, exterminar ou expulsar sua população desse território. Essa intenção foi abertamente proclamada por ele em uma declaração ao seu Parlamento: “O único óbvio resultado será que os habitantes de Gaza escolherão emigrar. Mas nosso problema é encontrar países que os aceitem”. Também o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou que “em alguns meses, poderemos dizer que vencemos. Gaza será totalmente destruída”.  Em uma mensagem na rede digital “X”, de 2025, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ofereceu aos palestinos a alternativa: “partir ou morrer”. Julian Fernandez e Olivier de Frouville, professores de direito internacional, denunciaram essa intenção genocida:

“Raramente na história se ouviu um alto funcionário do Estado expressar tão abertamente a intenção de destruir parte de um grupo humano como na recente mensagem do ministro da Defesa israelense”.

Com o genocídio e a destruição de Gaza, Israel pode também se apoderar das jazidas de gás natural no Mediterrâneo. Ocorre que os planos de Netanyahu de criar uma “Grande Israel” estão redundando na autodestruição de seu país.

2. Genocídio: fatos e números

Até setembro de 2023, a Faixa de Gaza concentrava uma população de cerca de 2,3 milhões de pessoas em um território de 365 km2, área equivalente a apenas 24% da área do município de São Paulo. Essa população está sendo exterminada. Segundo o Euro-Med Human Rights Monitor, já no primeiro mês dos bombardeios, Israel lançou sobre a Faixa de Gaza “o equivalente a duas bombas nucleares”. Até abril de 2024, foram lançadas 70 mil toneladas de bombas, mais que a soma das bombas lançadas sobre Londres, Hamburgo e Dresden na Segunda Guerra Mundial. Em outubro do mesmo ano, 85 mil toneladas de bombas haviam arrasado esse território. Segundo a ONU, em finais de 2024 Israel já havia destruído mais de 66% do patrimônio edificado da Faixa de Gaza.

 A Figura 1 mostra que até 11 de janeiro de 2025, nove em cada 10 construções haviam sido destruídas por Israel nas quatro maiores cidades e em áreas circundantes na Faixa de Gaza.

Figura 1 – Cidades e territórios bombardeados ou demolidos por Israel até 11 de janeiro de 2025 na Faixa de Gaza. Fonte: Emma Graham-Harrison et al., “A visual guide to the destruction of Gaza”. The Guardian, 11 jan. 2025.

 

Israel impôs o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas em Gaza, muitas delas várias vezes. Também na Cisjordânia, o exército de Israel arrancou de suas casas cerca de 40 mil palestinos, o maior ato de deslocamento de civis nesse território desde a guerra dos seis dias em 1967.

Segundo a ONU, até 18 de junho de 2025, Israel matou 55.297 e feriu 125 mil palestinos, perdendo 1.200 de seus soldados em Gaza. O Escritório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) estimou que, durante os primeiros seis meses desse massacre, cerca de 70% das vítimas fatais eram mulheres e crianças, pois as bombas lançadas por Israel atingiam áreas amplas e densamente habitadas. Ademais, as forças armadas de Israel mataram centenas de agentes internacionais, funcionários da ONU, paramédicos e jornalistas, todos protegidos pela lei internacional.

O número real de mortes palestinas é, com toda probabilidade, mais de três vezes maior do que as estimativas oficiais.

A matança continua, não apenas por bombas e balas, mas por desnutrição, doenças e epidemias, dado que Israel continua bloqueando ou dificultando ao máximo qualquer assistência humanitária a essa população.

3. O Estado da Palestina e a cumplicidade da Europa

Em março de 2025, 147 dos 193 membros da ONU reconhecem o Estado da Palestina, estabelecido pela ONU em novembro de 1947. A Figura 2 mostra os Estados que o reconhecem e os que não o reconhecem.

Figura 2 – Mapa dos 147 países que reconhecem o Estado da Palestina (em verde) e dos países que não o reconhecem (em cinza). Fonte: Wikipedia, “International Recognition of Palestine”, baseado em dados da ONU.

 

Desde 1948 e ainda mais em 1967, Israel ocupou militarmente territórios além dos que lhe haviam sido outorgados pela ONU em 1947, infligindo mortes e humilhação não apenas ao povo palestino, mas também aos povos do Líbano, Síria, Iêmen e Irã. Desde 1967, a Assembleia Geral da ONU adotou mais de 160 Resoluções contra Israel, exigindo, entre outras coisas, seu desarmamento nuclear e a desocupação dos territórios palestinos. 

Resoluções da ONU repetem-se até hoje, apelando, em vão, para que o Estado de Israel recue para suas fronteiras anteriores a 1967 e reconheça os direitos dos palestinos à constituição de um Estado nacional soberano.

No âmbito do ordenamento jurídico internacional, Israel é, portanto, um Estado fora da lei, um Estado pária. Gigantescas e reiteradas manifestações populares em vários países europeus demonstram solidariedade com os palestinos e indignação contra Israel. Mas seus governos continuam submetidos ao Diktat dos Estados Unidos e apoiando Netanyahu, condenado pelo Tribunal Penal Internacional por usar fome “como método de guerra”, atacar intencionalmente a população civil e cometer “outros atos desumanos”. 

Figura 3 – Principais fornecedores de armas a Israel em porcentagens, entre 2016 e 2024. Fonte: Matthew Ward Agius, “Quem são os grandes fornecedores de armas de Israel?” DW, 30 maio 2025.

 

Os Estados Unidos lideram o belicismo global, com um orçamento militar de US$ 997 bilhões em 2024 (36,7% do orçamento militar global). Em 2016, o país se comprometeu a fornecer US$ 3,8 bilhões por ano em ajuda financeira militar a Israel entre 2019 e 2028. Até 2024, a Alemanha só aumentou suas exportações de armas a Israel. A França e o Reino Unido são igualmente cúmplices do genocídio. Segundo dossiê da ONG Progressive International, produzido em cooperação com outras ONGs:

“A França desempenhou e continua a desempenhar um papel central no tráfico de armas para Israel, não para fins defensivos, mas para serem usadas contra o povo de Gaza e da Cisjordânia. (…)

Também as empresas do Reino Unido continuam a vender a Israel tanques de guerra, bombas, granadas, torpedos, minas e mísseis.

4. A cumplicidade tácita do Brasil

O Brasil reconhece desde 2010 o Estado Palestino, e Lula tem sido certeiro em suas palavras:

“O que nós estamos vendo não é uma guerra entre dois exércitos preparados, é um exército matando mulheres e crianças na Faixa de Gaza. Isso não é uma guerra, é um genocídio”.

Os atos não acompanham essas belas palavras. O Brasil encomendou à Elbit Systems de Israel 36 veículos blindados de combate e forneceu 9% do petróleo bruto importado por Israel nos primeiros nove meses dos bombardeios sobre a Faixa de Gaza. O Brasil exporta barras de aço para a indústria bélica israelense. Como lembra Vinícius Konchinski, “basta uma ordem de Lula para que determinados negócios sejam proibidos”.

As universidades e a ciência não estão acima da ética. Em 6 de agosto de 2024, o Conselho Universitário da Unicamp rejeitou a proposta de 160 docentes de suspensão de um convênio com a Technion, que se define como a “coluna dorsal” da tecnologia militar de Israel. A FAPESP e a Technion celebraram um Acordo de Cooperação em setembro de 2024, quase um ano após o início do genocídio.  Além disso, o governo federal brasileiro, a USP e a UFMG têm convênios e acordos científicos com universidades israelenses.

5. “Efeito bumerangue”, crises ambientais e emigração: a inviabilização de Israel

Chegamos aqui ao núcleo duro deste artigo. Dominado pelo sionismo de extrema-direita, pelo nacionalismo suprematista, pelo racismo, pelo revanchismo e pela teocracia, o governo de Israel está não apenas matando a riquíssima tradição cultural judaica, mas também a viabilidade mesma dessa sociedade.

Comecemos pelas consequências de uma economia de guerra. Entre 2001 e 2021, a guerra do Afeganistão custou aos Estados Unidos US$ 2 trilhões. E muitas das consequências econômicas dessa guerra estão ainda por vir. A economia de Israel está em vias de colapsar sob o peso de despesas militares, não só na Palestina, mas no Líbano, na Síria, no Iêmen e, agora, no Irã. Limito-me aqui a cinco rápidas observações:

(1) O bombardeio das centrais nucleares iranianas poderia causar uma grave contaminação radioativa no Golfo Pérsico. Em resposta a Trump [que atacou o Irã sem declaração de guerra, contrariando a Constituição estadunidense e a Carta das Nações Unidas], o Irã poderia fechar o Estreito de Ormuz, por onde passam 20 milhões de barris de petróleo por dia, o que poderia levar a uma crise econômica gigantesca e a um confronto militar generalizado. 

(2) Israel não é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, tem hoje ao menos 90 ogivas de plutônio e está aparentemente expandindo seu próprio arsenal nuclear.

(3) O Irã, ao contrário, é signatário desse Tratado;  e, segundo Piotr Smolar, é consenso entre especialistas que não há provas de um esforço do Irã para a construção de uma bomba atômica.

(4) A agressão ao Irã tem, entre suas várias causas, desviar a atenção mundial do genocídio palestino.

(5) O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou que, ao atacar o Irã, Israel faz “o trabalho sujo por nós”.

Em 2024 o orçamento militar de Israel aumentou 65% em relação a 2023, atingindo US$ 46,5 bilhões, ou seja, 8,8% de seu PIB! Desde outubro de 2023, essa atividade militar custou à economia e aos cofres públicos de Israel cerca de US$ 85 bilhões. Mas isso era antes do ataque ao Irã, que teria custado, só nos dois dias iniciais dos combates, US$ 1,45 bilhão, entre operações ofensivas e defensivas; sem mencionar os prejuízos econômicos generalizados. Já antes do ataque ao Irã, em maio de 2025, o Times of Israel intitulou um de seus artigos: “Os custos da guerra colocam os serviços públicos de Israel em risco de colapso”. Em 2025, o turismo em Israel deve entrar em colapso.

Incomparavelmente mais grave e irreparável do que a crise econômica, são as perdas em vidas humanas em guerras e, sobretudo, em decorrência da devastadora crise ambiental ecológica, alimentar, sanitária e climática, apenas iniciada. A censura imposta à imprensa pelo governo de Israel impede estimativas sobre o número de vítimas da guerra contra o Irã. Desde 14 de junho, centenas de mísseis iranianos atingiram edificações militares e civis em Tel Aviv, Jerusalém e outras cidades israelenses.

Isso posto, um saldo incomparavelmente maior de vítimas advirá do que se pode chamar de “efeito bumerangue” do bombardeio israelense sobre o povo palestino. Israel é um país de 21,9 mil km2, cerca da metade da área do estado do Rio de Janeiro (43,7 mil km2). Assim sendo, a destruição imposta à Faixa de Gaza e ao Líbano não ficará apenas em Gaza e no Líbano. Cedo ou tarde, ela se voltará contra Israel, pois a poluição dos solos, da água e do ar (inclusive pelos milhares de cadáveres em decomposição) não conhece fronteiras. Os solos de Gaza e do sul do Líbano estão hoje saturados de metais pesados e dos resíduos de bombas incendiárias à base de fósforo branco (substância altamente tóxica), uma arma proibida pelo Protocolo III da Convenção das Nações Unidas, em regiões com população civil. O fósforo branco e os mais de 50 milhões de toneladas de detritos potencialmente tóxicos, inclusive amianto, lançados à atmosfera pelas bombas israelenses em Gaza e no sul do Líbano, já atingiram ou atingirão também a água e os solos israelenses, bem como o ar que eles inalam. Graves problemas de saúde poderão surgir – inclusive o mesotelioma, um tipo de câncer do mesotélio, tecido que reveste vários órgãos humanos, cuja causa principal é a exposição ao amianto. Em fevereiro de 2025, a Oxfam publicou que mais de 80% de toda a rede de água e de saneamento básico de Gaza já havia então sido destruída pelas bombas israelenses. Repita-se: o que ocorre em Gaza não fica apenas em Gaza. A infiltração de água poluída nos lençóis freáticos e no mar, e o colapso da gestão de resíduos urbanos aumentarão os riscos de epidemias por bactérias, vírus, fungos etc. Netanyahu e os seus estão condenando também os israelenses a morrer ou a adoecer por câncer, intoxicação e infecções sem precedentes.

Também a agricultura de Israel foi atingida, com impactos crescentes sobre a segurança alimentar no país. E é lícito se perguntar o que esses solos contaminados reservam aos futuros agricultores e consumidores israelenses.

No que se refere à emergência climática, Israel é exemplo do negacionismo contemporâneo. Desde outubro de 2023, a máquina de guerra israelense produziu mais de 32 milhões de toneladas de dióxido de carbono. As piores consequências dessas emissões estão ainda por vir, mas o clima atual já tem causado secas e incêndios gravíssimos. A taxa de aquecimento em Israel nas últimas três décadas já é o dobro da média global, e continua subindo.

No próximo decênio, mesmo sem mais aceleração do aquecimento, os israelenses sofrerão picos de calor insuportáveis. Além disso, desde 1992 o nível do Mediterrâneo oriental subiu em média 4,7 mm por ano, uma velocidade 40% maior do que a elevação média global. Nos próximos 20 anos, o mar ameaçará cidades, estradas e estações de dessalinização israelenses.

O medo, a instabilidade política, a crise econômica e socioambiental já se refletem na crescente emigração do país. Já em maio de 2024, o The Times of Israel publicava dados impressionantes:

“Quase 60.000 israelenses deixaram o país no ano passado e não retornaram – mais do dobro do número registrado em 2023. Cerca de 40% dos israelenses que ainda estão aqui estão considerando partir”.

Portanto, quase 90 mil israelenses [muitos com alta qualificação] deixaram o país e não retornaram em 2022 e 2023. Além disso, uma pesquisa realizada em março de 2024 pela Hebrew University revelou que 80% dos israelenses que vivem no exterior não pretendem voltar a Israel.

Enquanto isso, o governo de Israel tenta convencer seus cidadãos de que a ameaça existencial que paira sobre o país advém… dos palestinos e do Irã! Os que criticam um Estado teocrático, genocida e autodestrutivo, são acusados de antissemitismo pela engrenagem sionista.

6. Estados Unidos e Europa, ávidos de guerras

Marx afirmava, no rastro de Hegel: “A violência é a parteira de toda velha sociedade grávida de uma nova”. Em nossas sociedades parturientes de um colapso socioambiental global, essa parteira tem dado à luz apenas monstros que geram monstros ainda mais abomináveis.

“A Europa deve adotar uma mentalidade de guerra”, afirmou em 2024, Mark Rutte, secretário-geral da Otan. Essa “mentalidade de guerra” acelerará o aquecimento na Europa e demais países da Otan. O mesmo ocorre com Israel, que acelera seu próprio processo de colapso moral, econômico e socioambiental.

Isso posto, estamos assistindo, ainda que tardiamente, a um sobressalto de ética e de consciência humanitária em muitos países, inclusive no nosso. Milhares de pessoas têm saído às ruas para pressionar o governo Lula a ir além da retórica, endossando na prática a proposta  da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) e de mais quatro instituições: (1) o imediato cessar-fogo e fim da ocupação militar em Gaza e em todos os territórios palestinos; (2) o fim do bloqueio a Gaza e a garantia de acesso irrestrito à ajuda humanitária; (3) o boicote econômico e diplomático a Israel até que cesse a violência e sejam respeitados os direitos do povo palestino; (4) a punição pelo Tribunal Penal Internacional dos responsáveis por crimes de guerra e genocídio e, principalmente, (5) o reconhecimento pleno do Estado da Palestina nas fronteiras determinadas pela ONU. 

Esses cinco pontos são cruciais para a sobrevivência do povo palestino e, não menos, para a sobrevivência dos próprios israelenses.

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