Foto: Amir Cohen/Associated Press Pool
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Texto editado / NMM:
Essa
proliferação de guerras ocorre justamente quando a humanidade precisa de
cooperação para desacelerar o aquecimento global e reverter a destruição da natureza.
Em 2024, o orçamento militar global superou 2,7 trilhões de dólares, um aumento
de 9,4% em termos reais (já descontada a inflação) em relação a 2023. É o 10o ano
consecutivo de aumento. Em 2024, os aumentos mais significativos ocorreram na
Europa e no Oriente Médio (+65% em Israel).
As
estimativas são de que a engrenagem militar responde por 5,5% das emissões
globais de gases de efeito estufa. Se essa engrenagem fosse um país, esse
“país” seria o quarto mais emissor do mundo, após apenas a China, os Estados
Unidos e a Índia.
1. Sudão
e Israel
Nesse
contexto, avançam impunes os dois maiores genocídios deste século, ambos
iniciados em 2023. O primeiro está de volta a Darfur, no Sudão, após o
genocídio de 2003-2005. Visando o controle de recursos
hídricos, terras agrícolas, reservas de metais e de gás natural, generais
travam uma guerra intestina, apoiados, de um lado, pela Arábia Saudita e, de
outro, pelos Emirados Árabes. Esse conflito afeta sobretudo os grupos
étnicos não árabes, mas o país como um todo é vitimado; e já matou 150 mil
pessoas, forçou o deslocamento interno de 8,6 milhões e o deslocamento externo
de outros 4 milhões. O abandono da agricultura está levando 24,6 milhões de
pessoas a um estado de insegurança alimentar aguda.
O segundo
genocídio, bem documentado e condenado pelo Tribunal Penal Internacional, ocorre
desde outubro de 2023 em Israel, sobretudo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e
tem por vítimas os palestinos.
Esse
genocídio sem precedentes em nosso século está se consumando com as armas, a
logística e o apoio econômico e diplomático dos Estados Unidos e de vários
países da Europa. Em março de 2025, a vice-presidente da Comissão europeia,
Kaja Kallas, declarou, em visita oficial a Israel, que o país “é um parceiro
muito relevante para a União Europeia e também um ator maior no setor de
tecnologia.” Em “Os últimos dias de Gaza”, Chris Hedges resume o que os “ótimos
parceiros” da União Europeia estão cometendo:
“O
genocídio está quase completo. Quando estiver concluído, terá não apenas
dizimado os palestinos, mas terá também exposto a falência moral da civilização
ocidental. (…) Dois milhões de pessoas estão acampadas entre os escombros ou ao
ar livre. Dezenas são mortas e feridas diariamente por granadas, mísseis,
drones, bombas e balas israelenses. Falta-lhes água limpa, remédios e
alimentos. Chegaram a um ponto de colapso. Doentes. Feridas. Aterrorizadas.
Humilhadas. Abandonadas. Destituídas. Famintas. Sem esperança”.
Até semanas
antes de 7 de outubro de 2023, data do ataque mortífero do Hamas contra
militares e civis israelenses, a intenção do governo de Israel nunca foi
derrotar essa organização. Ao contrário. Netanyahu dizia que convinha
fortalecer o Hamas e enfraquecer Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade
Palestina na Cisjordânia, dificultando assim o estabelecimento de um Estado
palestino unificado.
Mark
Mazzetti e Ronen Bergman confirmam que durante anos, o Qatar enviou milhões de
dólares para a Faixa de Gaza, fortalecendo o Hamas, com total apoio de Netanyahu. E
isso, repita-se, até setembro de 2023… Netanyahu agora usa o ataque do Hamas
como pretexto para pôr em prática sua real intenção: reduzir Gaza a
pó, exterminar ou expulsar sua população desse território. Essa intenção
foi abertamente proclamada por ele em uma declaração ao seu Parlamento: “O
único óbvio resultado será que os habitantes de Gaza escolherão emigrar. Mas
nosso problema é encontrar países que os aceitem”. Também o ministro das Finanças
de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou que “em alguns meses, poderemos dizer que
vencemos. Gaza será totalmente destruída”. Em uma mensagem na rede
digital “X”, de 2025, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ofereceu aos
palestinos a alternativa: “partir ou morrer”. Julian Fernandez e Olivier de
Frouville, professores de direito internacional, denunciaram essa intenção
genocida:
“Raramente
na história se ouviu um alto funcionário do Estado expressar tão abertamente a
intenção de destruir parte de um grupo humano como na recente mensagem do
ministro da Defesa israelense”.
Com o
genocídio e a destruição de Gaza, Israel pode também se apoderar das jazidas de
gás natural no Mediterrâneo. Ocorre que os planos de Netanyahu de criar
uma “Grande Israel” estão redundando na autodestruição de seu país.
2.
Genocídio: fatos e números
Até setembro
de 2023, a Faixa de Gaza concentrava uma população de cerca de 2,3 milhões de
pessoas em um território de 365 km2, área equivalente a apenas 24%
da área do município de São Paulo. Essa população está sendo exterminada.
Segundo o Euro-Med Human Rights Monitor, já no primeiro mês dos bombardeios,
Israel lançou sobre a Faixa de Gaza “o equivalente a duas bombas
nucleares”. Até abril de 2024, foram lançadas 70 mil toneladas de bombas,
mais que a soma das bombas lançadas sobre Londres, Hamburgo e Dresden na
Segunda Guerra Mundial. Em outubro do mesmo ano, 85 mil toneladas de
bombas haviam arrasado esse território. Segundo a ONU, em finais de 2024
Israel já havia destruído mais de 66% do patrimônio edificado da Faixa de Gaza.
A
Figura 1 mostra que até 11 de janeiro de 2025, nove em cada 10 construções
haviam sido destruídas por Israel nas quatro maiores cidades e em áreas
circundantes na Faixa de Gaza.
Figura 1 – Cidades e territórios bombardeados ou demolidos
por Israel até 11 de janeiro de 2025 na Faixa de Gaza. Fonte: Emma
Graham-Harrison et al., “A visual guide to the destruction of
Gaza”. The Guardian, 11 jan. 2025.
Israel impôs
o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas em Gaza, muitas delas várias
vezes. Também na Cisjordânia, o exército de Israel arrancou de suas casas cerca
de 40 mil palestinos, o maior ato de deslocamento de civis nesse território
desde a guerra dos seis dias em 1967.
Segundo a
ONU, até 18 de junho de 2025, Israel matou 55.297 e feriu 125 mil palestinos,
perdendo 1.200 de seus soldados em Gaza. O Escritório do Alto-Comissariado
das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) estimou que, durante os
primeiros seis meses desse massacre, cerca de 70% das vítimas fatais eram
mulheres e crianças, pois as bombas lançadas por Israel atingiam áreas
amplas e densamente habitadas. Ademais, as forças armadas de Israel mataram
centenas de agentes internacionais, funcionários da ONU, paramédicos e
jornalistas, todos protegidos pela lei internacional.
O número
real de mortes palestinas é, com toda probabilidade, mais de três vezes maior
do que as estimativas oficiais.
A matança
continua, não apenas por bombas e balas, mas por desnutrição, doenças e
epidemias, dado que Israel continua bloqueando ou dificultando ao máximo
qualquer assistência humanitária a essa população.
3. O
Estado da Palestina e a cumplicidade da Europa
Em março de
2025, 147 dos 193 membros da ONU reconhecem o Estado da Palestina, estabelecido
pela ONU em novembro de 1947. A Figura 2 mostra os Estados que o reconhecem e
os que não o reconhecem.
Figura 2 – Mapa dos 147 países que reconhecem o Estado da
Palestina (em verde) e dos países que não o reconhecem (em cinza). Fonte:
Wikipedia, “International Recognition of Palestine”, baseado em dados da ONU.
Desde 1948 e
ainda mais em 1967, Israel ocupou militarmente territórios além dos que lhe
haviam sido outorgados pela ONU em 1947, infligindo mortes e humilhação não
apenas ao povo palestino, mas também aos povos do Líbano, Síria, Iêmen e Irã. Desde
1967, a Assembleia Geral da ONU adotou mais de 160 Resoluções contra Israel,
exigindo, entre outras coisas, seu desarmamento nuclear e a desocupação dos
territórios palestinos.
Resoluções
da ONU repetem-se até hoje, apelando, em vão, para que o Estado de Israel recue
para suas fronteiras anteriores a 1967 e reconheça os direitos dos palestinos à
constituição de um Estado nacional soberano.
No âmbito do
ordenamento jurídico internacional, Israel é, portanto, um Estado fora da lei,
um Estado pária. Gigantescas e reiteradas manifestações populares em vários
países europeus demonstram solidariedade com os palestinos e indignação contra
Israel. Mas seus governos continuam submetidos ao Diktat dos
Estados Unidos e apoiando Netanyahu, condenado pelo Tribunal Penal
Internacional por usar fome “como método de guerra”, atacar intencionalmente a
população civil e cometer “outros atos desumanos”.
Figura 3 – Principais fornecedores de armas a Israel em
porcentagens, entre 2016 e 2024. Fonte: Matthew Ward Agius, “Quem são os
grandes fornecedores de armas de Israel?” DW, 30 maio 2025.
Os Estados
Unidos lideram o belicismo global, com um orçamento militar de US$ 997 bilhões
em 2024 (36,7% do orçamento militar global). Em 2016, o país se comprometeu a
fornecer US$ 3,8 bilhões por ano em ajuda financeira militar a Israel entre
2019 e 2028. Até 2024, a Alemanha só aumentou suas exportações de armas a
Israel. A França e o Reino Unido são igualmente cúmplices do genocídio. Segundo
dossiê da ONG Progressive International, produzido em cooperação com outras
ONGs:
“A França
desempenhou e continua a desempenhar um papel central no tráfico de armas para
Israel, não para fins defensivos, mas para serem usadas contra o povo de Gaza e
da Cisjordânia. (…)
Também as
empresas do Reino Unido continuam a vender a Israel tanques de guerra, bombas,
granadas, torpedos, minas e mísseis.
4. A
cumplicidade tácita do Brasil
O Brasil
reconhece desde 2010 o Estado Palestino, e Lula tem sido certeiro em suas
palavras:
“O que
nós estamos vendo não é uma guerra entre dois exércitos preparados, é um
exército matando mulheres e crianças na Faixa de Gaza. Isso não é uma guerra, é
um genocídio”.
Os atos não
acompanham essas belas palavras. O Brasil encomendou à Elbit Systems de Israel
36 veículos blindados de combate e forneceu 9% do petróleo bruto importado por
Israel nos primeiros nove meses dos bombardeios sobre a Faixa de Gaza. O
Brasil exporta barras de aço para a indústria bélica israelense. Como lembra
Vinícius Konchinski, “basta uma ordem de Lula para que determinados negócios
sejam proibidos”.
As
universidades e a ciência não estão acima da ética. Em 6 de agosto de 2024, o
Conselho Universitário da Unicamp rejeitou a proposta de 160 docentes de
suspensão de um convênio com a Technion, que se define como a “coluna dorsal”
da tecnologia militar de Israel. A FAPESP e a Technion celebraram um
Acordo de Cooperação em setembro de 2024, quase um ano após o início do
genocídio. Além disso, o governo federal brasileiro, a USP e a UFMG têm
convênios e acordos científicos com universidades israelenses.
5.
“Efeito bumerangue”, crises ambientais e emigração: a inviabilização de Israel
Chegamos
aqui ao núcleo duro deste artigo. Dominado pelo sionismo de extrema-direita,
pelo nacionalismo suprematista, pelo racismo, pelo revanchismo e pela
teocracia, o governo de Israel está não apenas matando a riquíssima tradição
cultural judaica, mas também a viabilidade mesma dessa sociedade.
Comecemos
pelas consequências de uma economia de guerra. Entre 2001 e 2021, a guerra do
Afeganistão custou aos Estados Unidos US$ 2 trilhões. E muitas das
consequências econômicas dessa guerra estão ainda por vir. A economia de Israel
está em vias de colapsar sob o peso de despesas militares, não só na Palestina,
mas no Líbano, na Síria, no Iêmen e, agora, no Irã. Limito-me aqui a cinco
rápidas observações:
(1) O
bombardeio das centrais nucleares iranianas poderia causar uma grave
contaminação radioativa no Golfo Pérsico. Em resposta a Trump [que atacou
o Irã sem declaração de guerra, contrariando a Constituição estadunidense e a
Carta das Nações Unidas], o Irã poderia fechar o Estreito de Ormuz, por onde
passam 20 milhões de barris de petróleo por dia, o que poderia levar a uma
crise econômica gigantesca e a um confronto militar generalizado.
(2) Israel
não é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, tem hoje ao
menos 90 ogivas de plutônio e está aparentemente expandindo seu próprio arsenal
nuclear.
(3) O Irã,
ao contrário, é signatário desse Tratado; e, segundo Piotr Smolar, é consenso entre
especialistas que não há provas de um esforço do Irã para a construção de uma
bomba atômica.
(4) A
agressão ao Irã tem, entre suas várias causas, desviar a atenção mundial do
genocídio palestino.
(5) O
primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou que, ao atacar o
Irã, Israel faz “o trabalho sujo por nós”.
Em 2024 o orçamento
militar de Israel aumentou 65% em relação a 2023, atingindo US$ 46,5 bilhões,
ou seja, 8,8% de seu PIB! Desde outubro de 2023, essa atividade militar
custou à economia e aos cofres públicos de Israel cerca de US$ 85
bilhões. Mas isso era antes do ataque ao Irã, que teria custado, só nos dois
dias iniciais dos combates, US$ 1,45 bilhão, entre operações ofensivas e
defensivas; sem mencionar os prejuízos econômicos generalizados. Já antes do
ataque ao Irã, em maio de 2025, o Times of Israel intitulou
um de seus artigos: “Os custos da guerra colocam os serviços públicos de Israel
em risco de colapso”. Em 2025, o turismo em Israel deve entrar em colapso.
Incomparavelmente
mais grave e irreparável do que a crise econômica, são as perdas em vidas
humanas em guerras e, sobretudo, em decorrência da devastadora crise ambiental
ecológica, alimentar, sanitária e climática, apenas iniciada. A censura imposta
à imprensa pelo governo de Israel impede estimativas sobre o número de vítimas
da guerra contra o Irã. Desde 14 de junho, centenas de mísseis iranianos
atingiram edificações militares e civis em Tel Aviv, Jerusalém e outras cidades
israelenses.
Isso posto,
um saldo incomparavelmente maior de vítimas advirá do que se pode chamar de
“efeito bumerangue” do bombardeio israelense sobre o povo palestino. Israel é
um país de 21,9 mil km2, cerca da metade da área do estado do Rio de
Janeiro (43,7 mil km2). Assim sendo, a destruição imposta à Faixa de
Gaza e ao Líbano não ficará apenas em Gaza e no Líbano. Cedo ou tarde, ela se
voltará contra Israel, pois a poluição dos solos, da água e do ar (inclusive
pelos milhares de cadáveres em decomposição) não conhece fronteiras. Os solos
de Gaza e do sul do Líbano estão hoje saturados de metais pesados e dos
resíduos de bombas incendiárias à base de fósforo branco (substância altamente
tóxica), uma arma proibida pelo Protocolo III da Convenção das Nações Unidas,
em regiões com população civil. O fósforo branco e os mais de 50 milhões de
toneladas de detritos potencialmente tóxicos, inclusive amianto, lançados à
atmosfera pelas bombas israelenses em Gaza e no sul do Líbano, já atingiram ou
atingirão também a água e os solos israelenses, bem como o ar que eles inalam. Graves
problemas de saúde poderão surgir – inclusive o mesotelioma, um tipo de câncer
do mesotélio, tecido que reveste vários órgãos humanos, cuja causa principal é
a exposição ao amianto. Em fevereiro de 2025, a Oxfam publicou que mais de 80%
de toda a rede de água e de saneamento básico de Gaza já havia então sido
destruída pelas bombas israelenses. Repita-se: o que ocorre em Gaza não fica
apenas em Gaza. A infiltração de água poluída nos lençóis freáticos e no mar, e
o colapso da gestão de resíduos urbanos aumentarão os riscos de epidemias por
bactérias, vírus, fungos etc. Netanyahu e os seus estão condenando também os
israelenses a morrer ou a adoecer por câncer, intoxicação e infecções sem
precedentes.
Também a
agricultura de Israel foi atingida, com impactos crescentes sobre a segurança
alimentar no país. E é lícito se perguntar o que esses solos contaminados
reservam aos futuros agricultores e consumidores israelenses.
No que se
refere à emergência climática, Israel é exemplo do negacionismo contemporâneo.
Desde outubro de 2023, a máquina de guerra israelense produziu mais de 32
milhões de toneladas de dióxido de carbono. As piores consequências dessas
emissões estão ainda por vir, mas o clima atual já tem causado secas e
incêndios gravíssimos. A taxa de aquecimento em Israel nas últimas três décadas
já é o dobro da média global, e continua subindo.
No próximo
decênio, mesmo sem mais aceleração do aquecimento, os israelenses sofrerão
picos de calor insuportáveis. Além disso, desde 1992 o nível do Mediterrâneo
oriental subiu em média 4,7 mm por ano, uma velocidade 40% maior do que a
elevação média global. Nos próximos 20 anos, o mar ameaçará cidades, estradas e
estações de dessalinização israelenses.
O medo, a
instabilidade política, a crise econômica e socioambiental já se refletem na
crescente emigração do país. Já em maio de 2024, o The Times of
Israel publicava dados impressionantes:
“Quase
60.000 israelenses deixaram o país no ano passado e não retornaram – mais do
dobro do número registrado em 2023. Cerca de 40% dos israelenses que ainda
estão aqui estão considerando partir”.
Portanto,
quase 90 mil israelenses [muitos com alta qualificação] deixaram o país e não
retornaram em 2022 e 2023. Além disso, uma pesquisa realizada em março de 2024
pela Hebrew University revelou que 80% dos israelenses que vivem no exterior
não pretendem voltar a Israel.
Enquanto
isso, o governo de Israel tenta convencer seus cidadãos de que a ameaça
existencial que paira sobre o país advém… dos palestinos e do Irã! Os que
criticam um Estado teocrático, genocida e autodestrutivo, são acusados de antissemitismo
pela engrenagem sionista.
6.
Estados Unidos e Europa, ávidos de guerras
Marx
afirmava, no rastro de Hegel: “A violência é a parteira de toda velha sociedade
grávida de uma nova”. Em nossas sociedades parturientes de um colapso
socioambiental global, essa parteira tem dado à luz apenas monstros que geram
monstros ainda mais abomináveis.
“A Europa
deve adotar uma mentalidade de guerra”, afirmou em 2024, Mark Rutte,
secretário-geral da Otan. Essa “mentalidade de guerra” acelerará o
aquecimento na Europa e demais países da Otan. O mesmo ocorre com Israel, que acelera
seu próprio processo de colapso moral, econômico e socioambiental.
Isso posto,
estamos assistindo, ainda que tardiamente, a um sobressalto de ética e de
consciência humanitária em muitos países, inclusive no nosso. Milhares de
pessoas têm saído às ruas para pressionar o governo Lula a ir além da retórica,
endossando na prática a proposta da Comissão Brasileira
Justiça e Paz (CBJP) e de mais quatro instituições: (1) o imediato
cessar-fogo e fim da ocupação militar em Gaza e em todos os territórios
palestinos; (2) o fim do bloqueio a Gaza e a garantia de acesso irrestrito
à ajuda humanitária; (3) o boicote econômico e diplomático a Israel até
que cesse a violência e sejam respeitados os direitos do povo palestino; (4) a
punição pelo Tribunal Penal Internacional dos responsáveis por crimes de guerra
e genocídio e, principalmente, (5) o reconhecimento pleno do Estado da
Palestina nas fronteiras determinadas pela ONU.
Esses cinco
pontos são cruciais para a sobrevivência do povo palestino e, não menos, para a
sobrevivência dos próprios israelenses.
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