Nelson Moraes Mendes
O problema
era Dilma; o problema era Lula; o problema era o PT. O problema era a
corrupção.
A corrupção
sempre existiu no Brasil, desde os tempos de Cabral. Com Juscelino, o tocador
de obras, as empreiteiras começaram a se locupletar – e os “intermediários”
políticos também. O esquema continuou na ditadura (mas nada se divulgava na
época, claro). Manteve-se durante a chamada “redemocratização”. Durante o
governo tucano de FHC, a apoteose: foi o
período da “privataria”, quando, segundo o autor do termo, Elio Gaspari (que
está longe de ser petista), muita gente ganhou muito dinheiro “sem produzir um
único prego”.
Mas
corrupção de direita não dói. Que os políticos roubem à vontade, desde que os “comunistas”
sejam mantidos longe daqui. Nas ruas e nas redes sociais, se viu a seguinte
mensagem, recentemente: “Eduardo Cunha é corrupto, mas está do nosso lado.” O “nosso
lado” é o lado do anticomunismo, do antibolivarianismo, do antipetismo. Esse
definitivamente não é o lado do homem comum, do trabalhador; principalmente
daquele que vive numa das sociedades mais desiguais do mundo. Mas décadas de doutrinação, à sombra da Guerra
Fria e através de todos os recursos da chamada “indústria cultural” (cinema,
telenovelas, propaganda direta, “jornalistas amestrados”, etc.) convenceram
esse homem comum de que o que era bom para os banqueiros era bom para ele; o
que era bom para os EUA era bom para o Brasil. E a senzala passou a fazer o
jogo e o discurso da Casa-Grande.
Está
claríssimo (e é isso que a História deverá registrar) que o problema de Lula e
Dilma nunca foi a corrupção. Tanto que o golpe que derrubou Dilma foi promovido
por um Congresso infestado de fichas-sujíssimas, com assessoria de um Judiciário
venal e partidário, e entusiástico apoio de uma mídia que dispensa adjetivos. O
governo Temer (o títere usurpador) mais parece uma organização criminosa; e
veio para implementar o programa que interessa a todos: bancos, megaempresas,
empreiteiras, multinacionais, previdência privada, rentistas em geral – menos ao
homem comum. Mas pelo menos os “comunistas”
foram expulsos do governo.
A crise
econômica que alcançou o governo Dilma não era culpa dela: tinha raízes
estruturais, como em vão escreveu o economista Adriano Benayon e explicaram
muitos outros pensadores. Mas problemas econômicos e “pedaladas fiscais”
(manobras comuns em todos os níveis de governo) forneceram o pretexto para os
que nunca aceitaram o PT, nunca aceitaram qualquer concessão da Casa-Grande à
senzala. E veio o golpe.
A promessa
era a de que, com Temer, a economia se recuperaria, haveria mais emprego, os investidores
estrangeiros retornariam – todo esse blá-blá-blá a que estamos acostumados. A situação econômica está pior do que nunca.
Culpa do Temer? Em parte, sim: fiel ao princípio capitalista de privatizar o
lucro e socializar o prejuízo, ele tratou de passar a conta da crise exatamente
para quem menos tem (e não foi culpado pela crise). Toca a meter a faca na Previdência,
na Saúde, na Educação, nos programas sociais. Isenções a megaempresários
continuaram; o implacável “serviço” de uma dívida pública jamais auditada
continuou comprometendo quase metade do Orçamento Federal. Mas as panelas não cantaram
em protesto, porque os “comunistas” tinham sido expulsos.
Estaria a
situação melhor com Dilma? Em parte, sim: ela não teria sido tão enfática na
aplicação do “pacote de maldades” que fere a carne da senzala e poupa as banhas
da Casa-Grande. Porém, ainda aqui temos que reiterar: as causas da crise são
estruturais.
O problema
não é Dilma, não é Lula, não é nem mesmo o boneco usurpador Temer.
Diga-se às
células cancerosas que parem de multiplicar-se; elas obedecerão? Diga-se ao
leão que não mate os filhotes que não são seus – procedimento que visa a
induzir o cio na fêmea; ele obedecerá? A
índole “animal”, “selvagem” do homem não foi extinta. A civilização tem sido um
esforço para controlar um tanto essa índole. A solução terá forçosamente que
vir de dentro – lá do coração, onde, segundo o saudoso Alceu Amoroso Lima, mora a verdadeira sabedoria.
Enquanto esse tempo não chega, a humanidade segue ingenuamente, como já
lembrava Platão, fazendo experimentos com doutrinas e sistemas.
O problema é
que o Capitalismo é a institucionalização (ou “naturalização”, como
esquisitamente se diz hoje em dia) da “lei do câncer”; ou “lei da selva”. Vale
multiplicar indefinidamente; vale tomar do outro. Nada disso é considerado
desvio, ilegalidade. Não sabemos o que virá depois do carcomido Capitalismo.
Mas chegou a hora de um novo experimento.
Enquanto a
sabedoria não vem.
Um comentário:
Causa uma irritação profunda essa hipocrisia!
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