segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ocupação patética, reação tenebrosa

Matheus Pichonelli

Texto editado. Versão integral em:

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ocupacao-patetica-reacao-tenebrosa/

Ao que tudo indica, a ocupação da reitoria da USP foi de fato patrocinada por um grupo de aloprados, que fez rolar morro abaixo uma pedra que, aos trancos, deveria ser endereçada para pontos mais altos da discussão.

O episódio mostra que a discussão sobre a rebeldia estudantil é hoje um convite para o enterro do bom senso.,De um lado, uma minoria de estudantes que, sim, usa a universidade para o que há de pior na vida pública, e que atrai uma nuvem de antipatia que contamina qualquer avanço ou reivindicação legítima . Do outro, uma parcela da opinião pública que jamais suportou qualquer sinal de organização política.

A ocupação da reitoria da maior universidade do País deu munição para que boa parte da opinião pública (inclusive estudantes) testemunhasse, a legitimação de seus desprezos contra estudantes que, diferentemente deles, ainda ousam dizer que alguma coisa está errada.

Muitos usaram as redes sociais para despejar os argumentos mais covardes contra o universo estudantil, sobretudo o sistema público de ensino. Mas o que mais estranha não é ver senhores engravatados pedindo punição exemplar aos “aloprados. Para a reitoria, o governador e os empresários que querem se apropriar do espaço público para obter lucros privados, parece mais que óbvio o interesse em deslegitimar não só ocupações estapafúrdias, como foi o caso, mas também esmagar a voz, quiçá para sempre, do movimento estudantil.

O que é estranho dessas reações é que elas partem de quem muito cedo na vida já se apropriou do discurso dos pais, herdado do regime militar; e que, portanto, veem na obediência, no não-engajamento, na docilidade, na adaptação a um mundo já pronto o único caminho possível. Tenho, para isso, uma tese de botequim: a de que minha geração, nascida em meados dos anos 80 e criada nos 90, foi o maior baby boom de bundões que o Brasil já testemunhou; crescemos com medo da violência, das doenças sexualmente transmissíveis e do outro (do favelado ao muçulmano) e, por este motivo, decidimos nos enclausurar em bolsões de segurança (o shopping, a escola particular e os condomínios fechados) para poder nascer e morrer em paz, sem grandes objetivos na vida a não ser aceitá-la.

Uns aceitam a situação. Outros, pelos métodos certos ou não, resolveram deixar claro que não aceitam. São muitos os ingredientes que fazem do confronto um tema complexo, que não poderia jamais descambar para o Fla-Flu. Mas descambou, graças à ação desastrada de um grupo que virou tema de piada para quem nunca deu a mínima para ideias como coletividade, bom senso e democracia.

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