quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Boechat sobre protestos na USP

Comentário no Jornal BandNews Rio - 1ª edição de 09.11.2011


Excertos. Áudio original em:

http://www.youtube.com/watch?v=Ay_pqJTbPkg


A USP tem um campus gigantesco aqui em São Paulo. [...] A insegurança era um problema seríssimo. [...] Diante do clamor público [...] a USP assinou um convênio [...] e Polícia Militar passou a atuar dentro do campus da universidade. Alguns alunos [...] reagiram negativamente, porque é um padrão internacional que polícias regulares não atuem na segurança de espaços universitários, de campus, espaços escolares. [...] Porque em muitas ocasiões, ao longo de muitos eventos houve um preço grande a pagar por esta fórmula de aproximar a polícia dos ambientes universitários, dos ambientes escolares. [...] Protestos, manifestações, são estudantes sempre com uma palavra revolucionária na ponta da língua [...] numa fase da vida em que todos medem pouco as conseqüências [...] e às vezes a reação policial [...] acaba impondo um preço alto demais às sociedades: morre um, aleija o outro [...] No mundo inteiro, com raríssimas exceções, tem-se como conceito que a segurança nos ambientes, nos campus universitários é feita por polícias universitárias. [...] É assim na Europa, é assim nos Estados Unidos, todos os que já viveram episódios dramáticos de ação policial em campus universitários. [...] No caso, como a prioridade é segurança, é melhor ter a PM do que nada. [...] Mas a USP, se fosse uma cidade, seria o sétimo maior orçamento do Brasil [...] que é de 3 bilhões e seiscentos milhões de reais.[...] Então a USP pode perfeitamente equipar-se com uma polícia universitária adequada, com equipamentos de vigilância, com a iluminação de suas alamedas, com o controle de acessos, entradas e saídas, detectores de metal, o diabo! Não precisa da PM, que aliás tem que estar atendendo às necessidades da comunidade inteira de São Paulo, que são enormes [...] Dentro de um campus, onde a universidade tem recursos para prover seus mecanismos de segurança... me desculpem, a PM não só não tem que estar por aquelas razões iniciais, que valem para o mundo inteiro, como não faz sentido que esteja em função deste pormenor, que não é tão menor assim: a USP é bilionária...

[...] Passemos agora para um outro detalhe [...] O que foi o elemento deflagrador disso tudo? Foi a ação da PM prendendo [...] três estudantes [...] que estavam fumando um baseado. [...] Nós não temos aí a marcha da maconha? [...] Significa que a repressão ao consumo de maconha está sendo questionada no mundo inteiro sob vários aspectos: o aspecto econômico, porque as sociedades dedicam a essa repressão um volume de esforço financeiro e humano que muitas entidades internacionais – incluindo a ONU – [começam a questionar][...]Então você tem países com a experiência como a Holanda [...] você tem fóruns internacionais como a ONU que estão dizendo: “Olha, vamos nos concentrar nas drogas prioritárias [...] legaliza essa porcaria [...] manda vender isso aí na mão de governo [...] cobrar imposto de quem vende, e tal, que isso aí vai desmobilizar um aparato colossal de repressão [...] e corrupção que também historicamente mostrou que fracassou. Então, num ambiente em que o mundo está discutindo isso, eu entendo que uma PM dentro de um campus, onde são assassinados alunos e estupradas alunas, tem outras coisas pra fazer do que ficar atrás de cara que está fumando um bagulhinho. Eu não estou a favor de fumar um bagulhinho. [...] A discussão sobre a maconha é uma discussão global, que tem gente séria envolvida – Fernando Henrique Cardoso, Bil Clinton [...] – questionando a razoabilidade da criminalização da maconha, e temos uma questão específica: que dentro do campus da USP, que deve ser do tamanho de 50 maracanãs, a PM, que está lá para reprimir o cara que vai matar um menino, vai estuprar uma menina, está pegando estudante de filosofia fumando um bagulho. Aí cria-se um bafafá [...] Aí deu aquela lambança, a garotada foi lá, protestou [...] O estopim da história está aí. [...]Aí é a marcha da insensatez: você começa com uma besteira e essa besteira vai crescendo geometricamente pelos atos subsequentes. [...] O que aconteceu? [...] Garotada cheia de testosterona [...] vamos mudar o mundo, ocupa Wall Street [...] O que eles fizeram? Foram pro pau, ocuparam a reitoria e, ao fazê-lo, cometeram também os erros muito típicos [...] quantas vezes os pais aí que estão me ouvindo já viram isso em suas próprias gerações – por favor, vamos parar também com a hipocrisia. Aí depredaram, quebraram não sei o quê [...] Olha pra eles, lá: vê se aquilo ameaça a sociedade, ameaça o establishment, ameaça a vida de alguém [...] É um momento da vida, isso é assim. [...] O que não faz nenhum sentido é tu lidar com isso na base da porrada [...] Nosso problema não está ali. [...] É claro que a desocupação tinha que acontecer. É claro que a depredação é uma burrice, uma babaquice. É claro que a decisão de manter a invasão depois que uma assembléia reprovou essa idéia [...] foi um ato errado. [...] Mas eu estou discutindo como é que nós vamos lidar com isso, e o contexto em que isso surgiu. [...] No mérito, eu não apóio o que aquela garotada fez [...] mas... mas eu prefiro uma juventude que briga. Eu prefiro uma juventude que se revolta, uma juventude que erra, a uma juventude que se acomoda [...] uma juventude que só está de olho na competição. [...] Eu gosto mais das pessoas que perguntam por que estão competindo do que daquelas que competem a todo custo [...] Eu gosto de quem questiona a competição.

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