quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A falsa simetria

 



Texto original:

 

https://revistaforum.com.br/blogs/socialistamorena/midia-comercial-comete-fake-news-ao-comparar-bolsonaro-a-lula/

 

Mídia comercial comete fake news ao comparar Bolsonaro a Lula

 

Por Socialista Morena

 

 

 

Texto editado / NMM:

CYNARA MENEZES

Tudo começou na eleição de 2018, quando o Estadão teve a pachorra de, em editorial, igualar um professor, Fernando Haddad, a um energúmeno defensor da ditadura, Jair Bolsonaro, defendendo a tese surreal de que, para o eleitor, seria uma “escolha muito difícil” optar entre os dois. Recentemente, uma revista semanal publicou uma capa onde equipara Bolsonaro a Lula como “inimigos da nação”, um representando a “extrema direita” e outro a “extrema esquerda”. Colunistas da direita liberal na imprensa comercial também não se cansam de estabelecer falsas simetrias entre o petista e o atual presidente que ela própria, a mídia, ajudou a eleger.

Mas o que Lula, afinal, tem a ver com Bolsonaro? Nada. Serve à narrativa dos próceres do “centro” que a população acredite que Lula e Bolsonaro são a mesma coisa. Que Lula e Bolsonaro são igualmente nocivos ao país. Será? Por que então quando Lula deixou a presidência após 8 anos, em 2010, o povo estava tão satisfeito que ele tinha 87% de aprovação e popularidade, enquanto Bolsonaro patina nos 37% no segundo ano de mandato? Alguém está mentindo.

A primeira diferença entre Bolsonaro e Lula é, para começar, de classe. O petista vem de uma família pobre de retirantes nordestinos. Lula começou a trabalhar ainda criança e, já empregado numa metalúrgica desde os 14 anos, fez o curso de técnico de torneiro mecânico do Senai.

Já Bolsonaro é paulista de Glicério, descendente de italianos e alemães. Embora a vida da família fosse simples, nenhum dos Bolsonaro conheceu a fome. Jair logo ascenderia para outro patamar da pirâmide social, ao entrar para o Exército, aos 17 anos, em 1973. Lula, metalúrgico e sindicalista, estava na base da pirâmide e permaneceu fiel à sua origem de classe; Bolsonaro transmutou-se em membro da guarda pretoriana do capitalismo, confortavelmente instalado entre os que defendem a propriedade privada e os poderosos. 

Outro fato que separa Lula de Bolsonaro de forma abissal é que um sempre foi um defensor da democracia, enquanto o outro sempre defendeu a ditadura.

Uma das falsas simetrias favoritas da mídia comercial em relação a Lula é dizer que o PT tem “tendências autoritárias”, pelo simples fato de o partido defender, quando ocupou o governo, a democratização dos meios de comunicação e a regulação da mídia, algo que existe em vários países. Enquanto isso, o extremista de direita que a imprensa “profissional” ajudou a promover e que permitiu que chegasse à presidência, agora expõe jornalistas nas redes sociais, manda repórter calar a boca, ameaça a Globo de cassar sua concessão, confecciona lista de “detratores” com dinheiro público e ataca cotidianamente a liberdade de imprensa. Coisa que Lula nunca fez.

Posso enumerar outras diferenças fundamentais: Lula criou um partido que é hoje, apesar das perseguições judiciais e midiáticas, um dos maiores do país, com mais de 2 milhões de filiados; Bolsonaro não conseguiu nem sequer juntar 10% das 420 mil assinaturas para criar o seu partido, Aliança Pelo Brasil. Em termos ideológicos, Lula é de centro-esquerda; e Bolsonaro, de extrema direita – muito embora a mídia tente pintar o petista como “extremista”, ao mesmo tempo que proíbe seus jornalistas de se referirem a Bolsonaro pelo que ele é.

Lula promoveu o país lá fora e, mesmo condenado num processo injusto, continua a ser respeitado no exterior; já Bolsonaro é alvo do desprezo da imprensa internacional e destruiu a imagem do Brasil no mundo. Não há comparação possível entre os dois; é como tentar encontrar semelhanças entre um gigante e um rato.

O que a mídia comercial tem que responder ao povo é: se Bolsonaro e Lula são “iguais”, por que ela apoiou todos os projetos da agenda econômica de um e fez oposição a todos os projetos do outro, inclusive os que promoviam a igualdade social e a inclusão de negros nas universidades? Deveria reconhecer que mente para manipular a população, almejando, assim, que os brasileiros votem no candidato dela, o tal “centro” representado principalmente pelo PSDB e pelo DEM, de quem foi braço auxiliar todos estes anos.

Aliás, quer maior fake news do que a mídia comercial se dizer “imparcial”?


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