Texto original:
Mídia comercial comete fake news ao comparar Bolsonaro a
Lula
Texto editado /
NMM:
CYNARA MENEZES
Tudo começou na eleição de
2018, quando o Estadão teve a pachorra de, em editorial,
igualar um professor, Fernando Haddad, a um energúmeno defensor da ditadura,
Jair Bolsonaro, defendendo a tese surreal de que, para o eleitor, seria uma
“escolha muito difícil” optar entre os dois. Recentemente, uma revista semanal publicou
uma capa onde equipara Bolsonaro a Lula como “inimigos da nação”, um
representando a “extrema direita” e outro a “extrema esquerda”. Colunistas da
direita liberal na imprensa comercial também não se cansam de estabelecer
falsas simetrias entre o petista e o atual presidente que ela própria, a mídia,
ajudou a eleger.
Mas o que Lula, afinal, tem a
ver com Bolsonaro? Nada. Serve à narrativa dos próceres do “centro” que a
população acredite que Lula e Bolsonaro são a mesma coisa. Que Lula e Bolsonaro
são igualmente nocivos ao país. Será? Por que então quando Lula deixou a
presidência após 8 anos, em 2010, o povo estava tão satisfeito que ele tinha 87% de aprovação e popularidade,
enquanto Bolsonaro patina nos 37% no segundo ano de mandato?
Alguém está mentindo.
A primeira diferença entre
Bolsonaro e Lula é, para começar, de classe. O petista vem de uma família pobre
de retirantes nordestinos. Lula começou a trabalhar ainda criança e, já
empregado numa metalúrgica desde os 14 anos, fez o curso de técnico de
torneiro mecânico do Senai.
Já Bolsonaro é paulista de Glicério, descendente de italianos e alemães. Embora a vida da família fosse simples, nenhum dos Bolsonaro conheceu a fome. Jair logo ascenderia para outro patamar da pirâmide social, ao entrar para o Exército, aos 17 anos, em 1973. Lula, metalúrgico e sindicalista, estava na base da pirâmide e permaneceu fiel à sua origem de classe; Bolsonaro transmutou-se em membro da guarda pretoriana do capitalismo, confortavelmente instalado entre os que defendem a propriedade privada e os poderosos.
Outro fato que separa Lula de Bolsonaro de forma abissal é que um sempre foi um defensor da democracia, enquanto o outro sempre defendeu a ditadura.
Uma
das falsas simetrias favoritas da mídia comercial em relação a Lula é dizer que
o PT tem “tendências autoritárias”, pelo simples fato de o partido defender,
quando ocupou o governo, a democratização dos meios de comunicação e a
regulação da mídia, algo que existe em vários países. Enquanto isso, o
extremista de direita que a imprensa “profissional” ajudou a promover e
que permitiu que chegasse à presidência, agora expõe jornalistas nas redes
sociais, manda repórter calar a boca, ameaça a Globo de cassar sua concessão,
confecciona lista de “detratores” com dinheiro público e ataca cotidianamente a
liberdade de imprensa. Coisa que Lula nunca fez.
Posso enumerar outras diferenças
fundamentais: Lula criou um partido que é hoje,
apesar das perseguições judiciais e midiáticas, um dos maiores do país, com mais de 2 milhões de filiados; Bolsonaro não
conseguiu nem sequer juntar 10% das 420 mil assinaturas para criar o
seu partido, Aliança Pelo Brasil. Em termos ideológicos, Lula é de
centro-esquerda; e Bolsonaro, de extrema direita – muito embora a mídia
tente pintar o petista como “extremista”, ao mesmo tempo que proíbe seus jornalistas de se referirem a
Bolsonaro pelo que ele é.
Lula
promoveu o país lá fora e, mesmo condenado num processo injusto, continua a ser
respeitado no exterior; já Bolsonaro é alvo do desprezo da imprensa internacional
e destruiu a imagem do Brasil no mundo. Não há comparação possível entre os
dois; é como tentar encontrar semelhanças entre um gigante e um rato.
O que a mídia comercial tem
que responder ao povo é: se Bolsonaro e Lula são “iguais”, por que ela apoiou
todos os projetos da agenda econômica de um e fez oposição a todos os projetos
do outro, inclusive os que promoviam a igualdade social e a inclusão de negros
nas universidades? Deveria reconhecer que mente para manipular a população,
almejando, assim, que os brasileiros votem no candidato dela, o tal “centro”
representado principalmente pelo PSDB e pelo DEM, de quem foi braço auxiliar
todos estes anos.
Aliás, quer maior fake news
do que a mídia comercial se dizer “imparcial”?
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