Foto: International Humanitarian Law Centre
Texto original, de Luís Pellegrini, em 21 de junho de 2025:
https://www.brasil247.com/blog/gaza-sob-fogo-a-limpeza-etnica-de-um-povo-ao-vivo-e-em-tempo-real
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Texto editado / NMM:
O Êxodo, mito fundador dos israelitas, descreve a fuga à escravidão no Egito através do Mar Vermelho, sob a liderança de Moisés. No século XX, cerca de 6 milhões de judeus morreram nos campos de concentração nazistas.
Nesse
contexto, é espantoso que o atual governo de Israel seja algoz de um outro
povo, os palestinos, com quem, durante séculos, os israelitas compartilharam o
mesmo território. Mais espantoso ainda é o silêncio dos membros da diáspora
judaica espalhada mundo afora. À exceção de uns poucos corajosos que não
hesitam em protestar contra Netanyhau e seu governo, todo o resto prefere não
se manifestar. O silêncio, neste caso, não é neutralidade. É aliança com o
opressor.
Os
indicadores atuais são claros: cerca de 55 mil mortos; 126 mil feridos; 2
milhões de pessoas forçadas a fugir de suas casas e se deslocar continuamente;
a quase totalidade das escolas e estruturas hospitalares destruída; bairros
inteiros reduzidos a escombros. A lógica por trás dessa destruição sistemática:
trata-se de esvaziar Gaza de seus habitantes palestinos, não de desarticular o
Hamas.
Desde a
fundação do Estado de Israel, em 1948, os palestinos vivenciam
sucessivas ondas de expulsão, desapropriação e confinamento. A Nakba
(“catástrofe”, em árabe) marcou o início dessa tragédia histórica: mais de 750
mil palestinos foram expulsos ou fugiram de suas terras durante a guerra de
independência de Israel. A ocupação da Cisjordânia e de Gaza após 1967, a
expansão de assentamentos ilegais e o bloqueio total de Gaza desde 2007 são
capítulos de uma mesma narrativa: a substituição de um povo por outro.
A diferença
agora está na escala e na transparência da violência. O mundo inteiro assiste,
em tempo real, à tentativa de destruição física e simbólica de uma população
inteira, sob o pretexto da “guerra contra o terrorismo”.
O atual
governo israelense tem sido explícito em seus objetivos. Ministros e
parlamentares defendem publicamente a “remoção” dos palestinos de Gaza, e falam
em “recolonizar” a região com assentamentos judaicos. A limpeza étnica é política
de Estado.
Discute-se
sobre se o que ocorre em Gaza é genocídio. No entanto, a limpeza étnica – definida
como o deslocamento forçado de um grupo étnico, com ou sem extermínio – é um
fato. Há evidências claras de crimes contra a humanidade, inclusive o uso de fome
como arma de guerra. O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra. É um
projeto de erradicação nacional.
O apoio cego
dos Estados Unidos e da União Europeia à narrativa israelense revela
cumplicidade. Ao justificar a destruição em massa como autodefesa, e ao
bloquear resoluções de cessar-fogo na ONU, esses países contribuem para a
manutenção de um sistema de apartheid e ocupação que já dura décadas.
Gaza, hoje,
é o epicentro de uma catástrofe humanitária fabricada.
O governo
israelense planeja concentrar a população palestina em uma faixa pobre junto ao
Egito, sem água, eletricidade ou hospitais. Bezalel Smotrich, ministro das
Finanças de extrema direita de Israel, declarou que “Gaza será totalmente
destruída” e que os palestinos serão “concentrados no sul”.
Milhares de
crianças padecem de desnutrição aguda. Organizações humanitárias, como a
Médicos Sem Fronteiras, afirmam que restrição deliberada à assistência,
destruição de infraestrutura civil e ordens de evacuação sem retorno configuram
crime contra a humanidade e limpeza étnica. A ONU caracterizou isso como
“deslocamento forçado e limpeza étnica”.
Todas as
evidências apontam para um padrão de limpeza étnica em tempo real. A comunidade
internacional exige pressão global contra a expulsão dos palestinos de sua
terra. Dizer isso não significa defender o Hamas. Significa reconhecer que a
população civil palestina está sendo vítima de uma violência extrema.
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