segunda-feira, 23 de junho de 2025

Gaza sob fogo: a limpeza étnica

 


Foto: International Humanitarian Law Centre 


Texto original, de Luís Pellegrini, em 21 de junho de 2025:

https://www.brasil247.com/blog/gaza-sob-fogo-a-limpeza-etnica-de-um-povo-ao-vivo-e-em-tempo-real

 __________

 

Texto editado / NMM:

O Êxodo, mito fundador dos israelitas, descreve a fuga à escravidão no Egito através do Mar Vermelho, sob a liderança de Moisés. No século XX, cerca de 6 milhões de judeus morreram nos campos de concentração nazistas.

Nesse contexto, é espantoso que o atual governo de Israel seja algoz de um outro povo, os palestinos, com quem, durante séculos, os israelitas compartilharam o mesmo território. Mais espantoso ainda é o silêncio dos membros da diáspora judaica espalhada mundo afora. À exceção de uns poucos corajosos que não hesitam em protestar contra Netanyhau e seu governo, todo o resto prefere não se manifestar. O silêncio, neste caso, não é neutralidade. É aliança com o opressor.

Os indicadores atuais são claros: cerca de 55 mil mortos; 126 mil feridos; 2 milhões de pessoas forçadas a fugir de suas casas e se deslocar continuamente; a quase totalidade das escolas e estruturas hospitalares destruída; bairros inteiros reduzidos a escombros. A lógica por trás dessa destruição sistemática: trata-se de esvaziar Gaza de seus habitantes palestinos, não de desarticular o Hamas.

Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, os palestinos vivenciam sucessivas ondas de expulsão, desapropriação e confinamento. A Nakba (“catástrofe”, em árabe) marcou o início dessa tragédia histórica: mais de 750 mil palestinos foram expulsos ou fugiram de suas terras durante a guerra de independência de Israel. A ocupação da Cisjordânia e de Gaza após 1967, a expansão de assentamentos ilegais e o bloqueio total de Gaza desde 2007 são capítulos de uma mesma narrativa: a substituição de um povo por outro.

A diferença agora está na escala e na transparência da violência. O mundo inteiro assiste, em tempo real, à tentativa de destruição física e simbólica de uma população inteira, sob o pretexto da “guerra contra o terrorismo”.

O atual governo israelense tem sido explícito em seus objetivos. Ministros e parlamentares defendem publicamente a “remoção” dos palestinos de Gaza, e falam em “recolonizar” a região com assentamentos judaicos. A limpeza étnica é política de Estado.

Discute-se sobre se o que ocorre em Gaza é genocídio. No entanto, a limpeza étnica – definida como o deslocamento forçado de um grupo étnico, com ou sem extermínio – é um fato. Há evidências claras de crimes contra a humanidade, inclusive o uso de fome como arma de guerra. O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra. É um projeto de erradicação nacional.

O apoio cego dos Estados Unidos e da União Europeia à narrativa israelense revela cumplicidade. Ao justificar a destruição em massa como autodefesa, e ao bloquear resoluções de cessar-fogo na ONU, esses países contribuem para a manutenção de um sistema de apartheid e ocupação que já dura décadas.

Gaza, hoje, é o epicentro de uma catástrofe humanitária fabricada.

O governo israelense planeja concentrar a população palestina em uma faixa pobre junto ao Egito, sem água, eletricidade ou hospitais. Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de extrema direita de Israel, declarou que “Gaza será totalmente destruída” e que os palestinos serão “concentrados no sul”.

Milhares de crianças padecem de desnutrição aguda. Organizações humanitárias, como a Médicos Sem Fronteiras, afirmam que restrição deliberada à assistência, destruição de infraestrutura civil e ordens de evacuação sem retorno configuram crime contra a humanidade e limpeza étnica. A ONU caracterizou isso como “deslocamento forçado e limpeza étnica”.

Todas as evidências apontam para um padrão de limpeza étnica em tempo real. A comunidade internacional exige pressão global contra a expulsão dos palestinos de sua terra. Dizer isso não significa defender o Hamas. Significa reconhecer que a população civil palestina está sendo vítima de uma violência extrema.

Nenhum comentário: