sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O neoliberalismo está acabado? Pense bem antes de responder


O neoliberalismo está acabado? Pense bem antes de responder
George Montbiot* – The Guardian

TEXTO EDITADO. Versão integral em:


Londres - O aumento das fortunas dos super-ricos é resultado direto de medidas políticas: a redução das taxas de impostos e da ação fiscal; a negativa dos Estados em recuperar uma porção dos ingressos procedentes dos minerais e da terra; a privatização de ativos públicos e a criação de uma economia de cabines de pedágio; a liberalização salarial e a destruição da negociação coletiva.

As medidas políticas que fizeram tão ricos os monarcas globais estão espremendo todos os demais. Friedrich Hayek, Milton Friedman e seus discípulos, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e governos modernos argumentaram que quanto menos os Estados acionem fiscalmente os ricos, menos defendam os trabalhadores e redistribuam a riqueza, mais próspero será todo o mundo. Seus apóstolos levaram a cabo uma experiência global durante 30 anos e os resultados estão hoje à vista. Fracasso total.

Não acredito que o crescimento perpétuo seja sustentável ou desejável. Mas se o objetivo é o crescimento, não se pode organizar maior desatino no tocante a isso que liberando os super-ricos das restrições estabelecidas pela democracia.

O relatório anual do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) mostra que na medida em que essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar ativos do Estado, desregular o mercado de trabalho, reduzir a seguridade social) começavam, dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento e a aumentar o desemprego.

O  crescimento dos países ricos durante as décadas de 50, 60 e 70 se fez como resultado da Depressão e da II Guerra Mundial e outorgou, aos 99% restantes, a oportunidade de exigir, em redistribuição, gasto público e seguridade social.

O neoliberalismo foi uma tentativa de inverter o sentido destas reformas.
Em todos os países da OCDE, os impostos se fizeram mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais. Sustentavam os neoliberais que aumentariam a eficiência econômica e o investimento. Aconteceu o contrário. Enquanto diminuíam os impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de gasto do Estado  e se contraiu a demanda. Caíram as taxas de investimento e de crescimento das empresas.

Os neoliberais insistiram que a desigualdade irrestrita em ingressos e os salários flexíveis reduziriam o desemprego. Mas em todo o mundo rico, tanto a desigualdade como o desemprego dispararam. A teoria fracassou pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que deprime o emprego.

Conforme os salários se estancavam, as pessoas complementavam seus ingressos endividando-se. A dívida alimentou os bancos desregulados. Quanto maior a desigualdade, descobre o relatório das Nações Unidas, menos estável é a economia e mais reduzidas suas taxas de crescimento.  As medidas neoliberais são contraproducentes.

“Voltar a aprender algumas antigas lições sobre justiça e participação”, afirma a ONU, “é a única forma de acabar superando a crise e prosseguir por um caminho de desenvolvimento econômico sustentável”.

Como disse antes, não tenho favorito nesta corrida, salvo a crença de que ninguém, neste oceano de riquezas, deveria ser pobre. Mas observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder.
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