CANOLA -
A grande fraudola (THE GREAT CON-OLA)
(NT: con: entre outros
significados: abusar da boa fé, trapacear, iludir. - ola: sufixo de significado
impreciso encontrado em uma variedade de palavras de cunho comercial (Crayola;
granola; Victrola) e variações jocosas de certas palavras (crapola))
Artigo de: Sally Fallon e Mary G. Enig, PhD
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EDIÇÃO
por NMM. Texto original (recolhido em 15 de dezembro de 2013):
Óleo de canola é "amplamente reconhecido como o mais
sadio”: rico em ácido oleico e ômega-3, e pobre em gorduras saturadas, é útil
na prevenção de doenças do coração.
Isso é que a indústria alimentar afirma sobre o óleo de
canola.
Óleo de Canola é uma substância venenosa, um óleo industrial.
Contém o agente do gás mostarda, hemaglutininas e glicosídeos tóxicos; causa a
doença da vaca louca, cegueira, desordens nervosas, adesão de hemácias e
depressão do sistema imunológico.
Isso é o que falam os detratores do óleo de canola.
Como fica o consumidor entre as conflitantes afirmações? Seria
o óleo de canola um sonho que virou realidade ou um veneno mortal? E por que a
canola capturou um espaço tão marcante entre os óleos utilizados pelos
alimentos processados?
HISTÓRIA
OCULTA
Em meados da década de 1980, a indústria, junto com a American
Heart Association, agências governamentais e universidades, decide substituir
as gorduras saturadas
“entupidoras de artérias” (manteiga,
toicinho, banha, gordura de coco, óleo de palma), por óleos
poliinsaturados (soja, milho, etc.) Mas logo se evidencia que
os poliinsaturados causam problemas à saúde.
A indústria não poderia continuar utilizando quantidades
grandes de óleos
poliinsaturados líquidos, face seus perigos. Mas não podia retornar ao emprego tradicional e saudável de gorduras
saturadas sem causar um alvoroço. Além disso, essas gorduras têm um
alto custo para as implacáveis margens de lucro da indústria.
A solução foi abraçar o uso de óleos monoinsaturados, tal como o óleo de oliva (azeite), que tem um efeito “melhor” do que os óleos
poliinsaturados nos níveis de colesterol e em outros parâmetros do sangue. Além
disso, Ancel keys e outros tinham
popularizado a noção que a dieta do Mediterrâneo – rica em azeite – protegeria
contra a doença cardíaca.
A Idéia de que o tradicional azeite fosse mais saudável que
modernos óleos industrialmente processados poderia ser facilmente aceita. Mas, tanto quanto gorduras
tradicionais, o azeite é caro; e sua produção, insuficiente. A indústria precisava encontrar um monoinsaturado barato.
O óleo de colza (Rapeseed oil), monoinsaturado, tinha sido
usado na China, Japão e Índia. Infelizmente, 2/3 de seus ácidos graxos
monoinsaturados são ácido erúcico, associado a lesões fibróticas no coração
(doença de Keshan). No fim dos anos 70, canadenses
produzem uma colza com pouco ácido erúcico e muito ácido oleico. O novo
óleo recebe nome de LEAR (Low Erucic Acid Rapessed).
CRIANDO O MARKETING DO
“LEAR”
Era preciso dar ao óleo um nome com bom apelo mercadológico.
Em 1978, ele é batizado de “Canola” (a partir de “canadian oil” – óleo
canadense), porque a nova colza era do Canadá. Mas nome não emplaca antes dos
anos 90.
A canola precisava também receber status de GRAS (geralmente
reconhecido como seguro) pelo FDA americano. O reconhecimento só veio em 1985,
suspeita-se que às custas de pagamento de 50 milhões de dólares pelo Canadá.
O marketing do óleo de canola centrou-se na difusão da idéia
de que ele é pobre em gorduras saturadas, rico em monoinsaturadas e em ômega-3,
tido este como bom para o coração e o sistema imunológico. O óleo de canola
começa a aparecer em livros de receitas. Consta que editores exigiam inclusão
de canola nas receitas.
Em 1997, Harper Collins [editora inglesa] contrata Artemis
Simopoulos para escrever livro de receitas exaltando o ômega-3. Simopoulos
publica The Omega Plan, em 1998,
reeditado no ano seguinte como The Omega
Diet. O óleo de canola, rico em
monoinsaturados e em ômega-3, aparece na maioria das receitas.
Livros e artigos na imprensa logram promover a canola no
mundo, e ela passa a ser usada em alimentos integrais, em frituras (na forma
hidrogenada) e vendida em supermercados.
PERIGOS EXAGERADOS
Por outro lado, a partir do artigo Blindness, Mad Cow Desease and Canola Oi (Cegueira, Doença da Vaca
Louca e Óleo de Canola), de John Thomas,
em 1996, passou a haver demonização descabida do óleo de canola.
Quanto ao fato de que a canola é usada na indústria, muitos
óleos e gorduras, além do de colza, têm usos industriais - o que não significa serem impróprios para consumo.
Relatos alarmistas sobre efeitos da canola – como tremores,
paralisias, arritmias cardíacas – não são encontrados em jornais médicos. O
professor Robert Wolke afirma não haver pesquisa mostrando efeito nocivo da
canola.
Mas a verdade é que o consumidor tem, sim, motivos para se
preocupar com canola. Alguns estudos, logo no início, colocaram em xeque os
benefícios do óleo e as próprias bases teóricas da hipótese da dieta cardíaca.
Os primeiros estudos foram desenvolvidos em 1978 com recursos
da Unilever na Holanda. Os animais alimentados com colza com altas taxas de
ácido erúcico mostraram retardo de crescimento e mudanças indesejáveis em
vários órgãos, especialmente o coração.
Em 1979, pesquisadores associaram os resultados de 23
experiências de quatro laboratórios independentes. Eles verificaram que as gorduras saturadas (ácidos palmítico
e esteárico) foram protetores contra
lesões ao coração; ao contrário, altos
níveis de ômega-3 estavam correlacionados com níveis elevados de lesões.
Eles verificaram uma fraca correlação entre lesões no coração e o ácido
erúcico.
Em 1982, o mesmo grupo examinou a interação entre gorduras
saturados com óleo LEAR e óleo de soja. Quando as gorduras saturadas foram
adicionadas, os ratos tiveram melhor crescimento e redução nas lesões do
coração.
Pesquisadores canadenses em 1997 verificaram que porcos
alimentados com fórmulas de substituição ao leite contendo óleo de canola
mostraram sinais de deficiência de vitamina E (vital para a saúde
cardiovascular), mesmo se esse composto tivesse adequada suplementação daquela
vitamina. No ano seguinte, constataram aumento no tempo de coagulação dos
porcos alimentados com óleo de canola e óleo de colza. Estas mudanças foram suavizadas pela adição de ácidos graxos saturados,
como manteiga de cacau ou gordura de coco.
Todos estes estudos apontam que, como o óleo de colza, seu predecessor, o óleo
canola está associado com lesões fibróticas no coração, causa deficiência de
vitamina E, mudanças indesejáveis nas plaquetas, encurta a expectativa de vida
quando é a única fonte lipídica da dieta,
e parece retardar o crescimento.
O mais interessante está no fato de que os problemas com o óleo canola NÃO são
relacionados ao seu conteúdo de ácido erúcico, mas sim ao alto nível de ômega-3 e baixo nível de gorduras saturadas.
ÓLEO DE COLZA NAS DIETAS TRADICIONAIS
O óleo de colza, usado tradicionalmente na China, Japão e
Índia, está associado à doença de Keshan (lesões fibróticas no coração). Quando
combinado, na dieta, com gorduras saturadas, nem mesmo o ácido erúcico presente
no óleo é problema: de fato, o ácido é útil no tratamento da
adrenoleucodistrofia (vide filme “O Óleo de Lorenzo”).
Em 1995, artigo no Wall Street Journal informa sobre alta
incidência de câncer pulmonar entre mulheres que respiravam vapores de óleo de
colza na cozinha. A explicação estava em que os pulmões não podem funcionar
saudavelmente “sem adequadas taxas de
gorduras saturadas”. Na Índia, infelizmente, mulheres começam a
substituir o tradiconal ghee (manteiga clarificada) por uma imitação feita de
óleo de soja parcialmente hidrogenado.
PROCESSAMENTO
A colza foi utilizada desde tempos antigos. Na China e na
Índia, mascates operavam pequenas pedras de pressão em temperaturas baixas para
obter o óleo absolutamente fresco.
O moderno processamento é completamente diferente. O óleo é
removido por pressão mecânica sob altas temperaturas e o uso de solventes de
extração. Vestígios do solvente permanecem no óleo. Como todos os óleos
vegetais modernos, o óleo canola passa por um processamento com várias etapas,
todas elas envolvendo altas temperaturas ou produtos químicos de segurança
questionável. Como tem altas taxas de ômega-3, facilmente fica rançoso, com
cheiro ruim, e precisa passar por desodorização – processo em que uma grande
porção de ômega-3 é transformada em ácidos graxos trans. Pesquisas
da Universidade da Florida em Gainesville, encontraram níveis de trans
de 4,6 por cento no óleo comercial líquido. O consumidor não tem nenhuma idéia sobre a presença de ácidos
graxos trans no óleo de canola, porque esse conteúdo não está
demonstrado no rótulo.
Nos alimentos processados, o problema é mais grave: uma
grande parte do óleo de canola utilizado é “endurecida” através do processo de
hidrogenação, o que introduz altos níveis de ácidos graxos trans no
produto final, algo em torno de 40%. Esses níveis mais altos trans significam
vida mais longa para esses alimentos processados nas prateleiras, uma textura
crocante nos biscoitos e nas bolachas - e mais riscos de doença crônica ao
consumidor.
O MITO DOS
MONOINSATURADOS
O óleo de canola veio a salvar a indústria, uma vez que a
promoção de óleos poliinsaturados, como soja e milho, foi se tornando cada vez
mais insustentável. Os cientistas poderiam endossar o óleo canola, com suas
reduzidas taxas de gordura saturada, com suas altas taxas de monoinsaturados e
por ser uma boa fonte de ômega-3. Mas
a maior parte do ômega–3 do
óleo de canola é transformada em gorduras trans durante o processo de desodorização; e
pesquisas continuam a provar que a gordura saturada é necessária e altamente
protetora.
Obviamente os ácidos graxos monoinsaturados não são
prejudiciais em quantidades moderadas, dentro do contexto de uma dieta
tradicional, mas existem indicações de que as gorduras monoinsaturadas em excesso, ao serem a principal fonte de gordura alimentar, podem inibir
a produção de prostaglandinas e estariam associadas com um risco
aumentado de câncer de mama.
Mesmo o dogma de
que os ácidos graxos monoinsaturados fazem bem ao coração está sob
questionamento. Em estudo de 1998, ratos alimentados com gorduras
monoinsaturadas (canola, azeite) ficaram mais propensos a problemas cardíacos
do que os alimentados com gorduras saturadas (banha, manteiga, etc.) ou
poliinsaturadas (óleos de soja, milho, etc).
Isso significa que
o tipo de dieta recomendada em livros como The Omega Diet (A
Dieta ômega) - com reduzidas taxas de saturados protetores, ancorada em
altos níveis de ômega-3 e nos ácidos graxos monoinsaturados, seja como azeite
de oliva ou óleo de canola, como fonte da maioria de calorias provenientes de
gorduras – pode, realmente,
contribuir para a doença do coração. Tais dietas foram apresentadas com
um grande ardil de marketing, mas nós precisamos reconhecê-los pelo que
realmente eles são - uma “payola” (jabá) pela indústria alimentar e uma
“fraudola” (“con-ola” ) para o público.
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Sobre as autoras:
Mary G. Enig, PhD é a autora de “Know Your Fats: The Complete
Primer for Understanding the Nutrition of Fats, Oils, and Cholesterol, Bethesda Press, maio, 2000. Peça sua cópia no site: www.enig.com/trans.html.
Sally
Fallon é a autora de Nourishing
Traditions: The Cookbook that Challenges Politically Correct Nutrition and the
Diet Dictocrats,
e “Eat Fat, Lose Fat”(juntamente com M.
Enig, PhD), além de um grande número de artigos sobre dietas e saúdes. Ela é a
presidente da Weston A. Price Foundation e fundadora da campanha pelo leite
bruto integral (A Campaign for Real Milk). Ela é a mãe de quatro crianças
saudáveis nutridas com alimentos integrais como manteiga, nata, ovos e carne.
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