quarta-feira, 19 de março de 2014

Canola - a fraude

CANOLA - A grande fraudola (THE GREAT CON-OLA)


 (NT: con: entre outros significados: abusar da boa fé, trapacear, iludir. - ola: sufixo de significado impreciso encontrado em uma variedade de palavras de cunho comercial (Crayola; granola; Victrola) e variações jocosas de certas palavras (crapola))

Artigo de: Sally Fallon e Mary G. Enig, PhD

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EDIÇÃO por NMM. Texto original (recolhido em 15 de dezembro de 2013):

Óleo de canola é "amplamente reconhecido como o mais sadio”: rico em ácido oleico e ômega-3, e pobre em gorduras saturadas, é útil na prevenção de doenças do coração.

Isso é que a indústria alimentar afirma sobre o óleo de canola.

Óleo de Canola é uma substância venenosa, um óleo industrial. Contém o agente do gás mostarda, hemaglutininas e glicosídeos tóxicos; causa a doença da vaca louca, cegueira, desordens nervosas, adesão de hemácias e depressão do sistema imunológico.

Isso é o que falam os detratores do óleo de canola.

Como fica o consumidor entre as conflitantes afirmações? Seria o óleo de canola um sonho que virou realidade ou um veneno mortal? E por que a canola capturou um espaço tão marcante entre os óleos utilizados pelos alimentos processados?

HISTÓRIA OCULTA

Em meados da década de 1980, a indústria, junto com a American Heart Association, agências governamentais e universidades, decide substituir as gorduras saturadas “entupidoras de artérias” (manteiga, toicinho, banha, gordura de coco, óleo de palma),  por óleos poliinsaturados (soja, milho, etc.) Mas logo se evidencia que os poliinsaturados causam problemas à saúde.

A indústria não poderia continuar utilizando quantidades grandes de óleos poliinsaturados líquidos, face seus perigos. Mas não podia retornar ao emprego tradicional e saudável de gorduras saturadas sem causar um alvoroço. Além disso, essas gorduras têm um alto custo para as implacáveis margens de lucro da indústria.

A solução foi abraçar o uso de óleos monoinsaturados, tal como o óleo de oliva (azeite), que tem um efeito “melhor” do que os óleos poliinsaturados nos níveis de colesterol e em outros parâmetros do sangue. Além disso, Ancel keys e outros  tinham popularizado a noção que a dieta do Mediterrâneo – rica em azeite – protegeria contra a doença cardíaca. 

A Idéia de que o tradicional azeite fosse mais saudável que modernos óleos industrialmente processados poderia ser  facilmente aceita. Mas, tanto quanto gorduras tradicionais, o azeite é caro; e sua produção, insuficiente. A indústria precisava encontrar um  monoinsaturado barato.

O óleo de colza (Rapeseed oil), monoinsaturado, tinha sido usado na China, Japão e Índia. Infelizmente, 2/3 de seus ácidos graxos monoinsaturados são ácido erúcico, associado a lesões fibróticas no coração (doença de Keshan). No fim dos anos 70, canadenses produzem uma colza com pouco ácido erúcico e muito ácido oleico. O novo óleo recebe nome de LEAR (Low Erucic Acid Rapessed).

CRIANDO O MARKETING DO “LEAR”

Era preciso dar ao óleo um nome com bom apelo mercadológico. Em 1978, ele é batizado de “Canola” (a partir de “canadian oil” – óleo canadense), porque a nova colza era do Canadá. Mas nome não emplaca antes dos anos 90.

A canola precisava também receber status de GRAS (geralmente reconhecido como seguro) pelo FDA americano. O reconhecimento só veio em 1985, suspeita-se que às custas de pagamento de 50 milhões de dólares pelo Canadá.

O marketing do óleo de canola centrou-se na difusão da idéia de que ele é pobre em gorduras saturadas, rico em monoinsaturadas e em ômega-3, tido este como bom para o coração e o sistema imunológico. O óleo de canola começa a aparecer em livros de receitas. Consta que editores exigiam inclusão de canola nas receitas.

Em 1997, Harper Collins [editora inglesa] contrata Artemis Simopoulos para escrever livro de receitas exaltando o ômega-3. Simopoulos publica The Omega Plan, em 1998, reeditado no ano seguinte como The Omega Diet. O óleo de canola, rico em monoinsaturados e em ômega-3, aparece na maioria das receitas.

Livros e artigos na imprensa logram promover a canola no mundo, e ela passa a ser usada em alimentos integrais, em frituras (na forma hidrogenada) e vendida em supermercados.

PERIGOS EXAGERADOS

Por outro lado, a partir do artigo Blindness, Mad Cow Desease and Canola Oi (Cegueira, Doença da Vaca Louca e Óleo de Canola), de John Thomas,  em 1996, passou a haver demonização descabida do óleo de canola.

Quanto ao fato de que a canola é usada na indústria, muitos óleos e gorduras, além do de colza, têm usos industriais  - o que não significa serem impróprios para consumo.

Relatos alarmistas sobre efeitos da canola – como tremores, paralisias, arritmias cardíacas – não são encontrados em jornais médicos. O professor Robert Wolke afirma não haver pesquisa mostrando efeito nocivo da canola.

Mas a verdade é que o consumidor tem, sim, motivos para se preocupar com canola. Alguns estudos, logo no início, colocaram em xeque os benefícios do óleo e as próprias bases teóricas da hipótese da dieta cardíaca.

Os primeiros estudos foram desenvolvidos em 1978 com recursos da Unilever na Holanda. Os animais alimentados com colza com altas taxas de ácido erúcico mostraram retardo de crescimento e mudanças indesejáveis em vários órgãos, especialmente o coração.

Em 1979, pesquisadores associaram os resultados de 23 experiências de quatro laboratórios independentes. Eles verificaram que as gorduras saturadas (ácidos palmítico e esteárico) foram protetores contra lesões ao coração; ao contrário, altos níveis de ômega-3 estavam correlacionados com níveis elevados de lesões. Eles verificaram uma fraca correlação entre lesões no coração e o ácido erúcico. 

Em 1982, o mesmo grupo examinou a interação entre gorduras saturados com óleo LEAR e óleo de soja. Quando as gorduras saturadas foram adicionadas, os ratos tiveram melhor crescimento e redução nas lesões do coração.

Pesquisadores canadenses em 1997 verificaram que porcos alimentados com fórmulas de substituição ao leite contendo óleo de canola mostraram sinais de deficiência de vitamina E (vital para a saúde cardiovascular), mesmo se esse composto tivesse adequada suplementação daquela vitamina. No ano seguinte, constataram aumento no tempo de coagulação dos porcos alimentados com óleo de canola e óleo de colza. Estas mudanças foram suavizadas pela adição de ácidos graxos saturados, como manteiga de cacau ou gordura de coco.

Todos estes estudos apontam que,  como o óleo de colza, seu predecessor, o óleo canola está associado com lesões fibróticas no coração, causa deficiência de vitamina E, mudanças indesejáveis nas plaquetas, encurta a expectativa de vida quando é a única fonte lipídica da dieta,  e parece retardar o crescimento. O mais interessante está no fato de que os problemas com o óleo canola NÃO são relacionados ao seu conteúdo de ácido erúcico, mas sim ao alto nível de ômega-3 e baixo nível de gorduras saturadas.

ÓLEO DE COLZA NAS DIETAS TRADICIONAIS

O óleo de colza, usado tradicionalmente na China, Japão e Índia, está associado à doença de Keshan (lesões fibróticas no coração). Quando combinado, na dieta, com gorduras saturadas, nem mesmo o ácido erúcico presente no óleo é problema: de fato, o ácido é útil no tratamento da adrenoleucodistrofia (vide filme “O Óleo de Lorenzo”).

Em 1995, artigo no Wall Street Journal informa sobre alta incidência de câncer pulmonar entre mulheres que respiravam vapores de óleo de colza na cozinha. A explicação estava em que os pulmões não podem funcionar saudavelmente “sem adequadas taxas de gorduras saturadas”. Na Índia, infelizmente, mulheres começam a substituir o tradiconal ghee (manteiga clarificada) por uma imitação feita de óleo de soja parcialmente hidrogenado.

PROCESSAMENTO

A colza foi utilizada desde tempos antigos. Na China e na Índia, mascates operavam pequenas pedras de pressão em temperaturas baixas para obter o óleo absolutamente fresco.

O moderno processamento é completamente diferente. O óleo é removido por pressão mecânica sob altas temperaturas e o uso de solventes de extração. Vestígios do solvente permanecem no óleo. Como todos os óleos vegetais modernos, o óleo canola passa por um processamento com várias etapas, todas elas envolvendo altas temperaturas ou produtos químicos de segurança questionável. Como tem altas taxas de ômega-3, facilmente fica rançoso, com cheiro ruim, e precisa passar por desodorização – processo em que uma grande porção de ômega-3 é transformada em ácidos graxos trans. Pesquisas da Universidade da Florida em Gainesville, encontraram níveis de trans de 4,6 por cento no óleo comercial líquido.  O consumidor não tem nenhuma idéia sobre a presença de ácidos graxos trans no óleo de canola, porque esse conteúdo não está demonstrado no rótulo.
Nos alimentos processados, o problema é mais grave: uma grande parte do óleo de canola utilizado é “endurecida” através do processo de hidrogenação, o que introduz altos níveis de ácidos graxos trans no produto final, algo em torno de 40%. Esses níveis mais altos trans significam vida mais longa para esses alimentos processados nas prateleiras, uma textura crocante nos biscoitos e nas bolachas - e mais riscos de doença crônica ao consumidor.

O MITO DOS MONOINSATURADOS

O óleo de canola veio a salvar a indústria, uma vez que a promoção de óleos poliinsaturados, como soja e milho, foi se tornando cada vez mais insustentável. Os cientistas poderiam endossar o óleo canola, com suas reduzidas taxas de gordura saturada, com suas altas taxas de monoinsaturados e por ser uma boa fonte de ômega-3. Mas a maior parte do ômega–3 do óleo de canola é transformada em gorduras trans durante o processo de desodorização; e pesquisas continuam a provar que a gordura saturada é necessária e altamente protetora.

Obviamente os ácidos graxos monoinsaturados não são prejudiciais em quantidades moderadas, dentro do contexto de uma dieta tradicional, mas existem indicações de que as gorduras monoinsaturadas em excesso, ao serem a principal fonte de gordura alimentar, podem inibir a produção de prostaglandinas  e estariam associadas com um risco aumentado de câncer de mama.

Mesmo o dogma de que os ácidos graxos monoinsaturados fazem bem ao coração está sob questionamento. Em estudo de 1998, ratos alimentados com gorduras monoinsaturadas (canola, azeite) ficaram mais propensos a problemas cardíacos do que os alimentados com gorduras saturadas (banha, manteiga, etc.) ou poliinsaturadas (óleos de soja, milho, etc).

Isso significa que o tipo de dieta recomendada em livros como The Omega Diet (A Dieta ômega) - com reduzidas taxas de saturados protetores, ancorada em altos níveis de ômega-3 e nos ácidos graxos monoinsaturados, seja como azeite de oliva ou óleo de canola, como fonte da maioria de calorias provenientes de gorduras – pode, realmente, contribuir para a doença do coração. Tais dietas foram apresentadas com um grande ardil de marketing, mas nós precisamos reconhecê-los pelo que realmente eles são  - uma “payola” (jabá) pela indústria alimentar e uma “fraudola” (“con-ola” ) para o público. 
  
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Sobre as autoras:  
Mary G. Enig, PhD é a autora de  “Know Your Fats: The Complete Primer for Understanding the Nutrition of Fats, Oils, and Cholesterol, Bethesda Press, maio, 2000Peça sua cópia no site: www.enig.com/trans.html.
Sally Fallon é a autora de Nourishing Traditions: The Cookbook that Challenges Politically Correct Nutrition and the Diet Dictocrats, e “Eat Fat, Lose Fat”(juntamente com M. Enig, PhD), além de um grande número de artigos sobre dietas e saúdes. Ela é a presidente da Weston A. Price Foundation e fundadora da campanha pelo leite bruto integral (A Campaign for Real Milk). Ela é a mãe de quatro crianças saudáveis nutridas com alimentos integrais como manteiga, nata, ovos e carne.


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