[Comentário no Facebook
em 17/02/2017.]
Nelson M. Mendes
Ok. Vamos imaginar que Dilma tenha sido um desastre na
Petrobrás, na Casa Civil e na Presidência. Mas não é por isso que o país entrou
em recessão. As causas são estruturais – já alertava o economista Adriano
Benayon (crítico daquilo que deveria ser criticado nos governos Lula e Dilma),
o qual, justamente por dizer a verdade, é marginalizado pela grande mídia. As
causas da recessão estão relacionadas ao caráter autofágico de um sistema para
cuja manutenção se inventam falácias como a de que os culpados da crise são
Lula, Dilma ou as “políticas sociais”.
O ódio a Lula é um fato. Desde que Lula apareceu como líder
sindical, ali pela segunda metade dos anos 70, ele é perseguido pela mídia e
pelos poderes estabelecidos. Isso não é opinião, é história documentada; há
estudos sobre isso. Só capas negativas de Veja foram literalmente centenas. A
um visitante da revista, disse Roberto Civita uma vez: “Você está vendo estas
capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no
Brasil.” (Pretensão de Civita, porque a Globo é capaz de dedicar um Jornal
Nacional inteiro para atacar o PT.) “Não ver a realidade” é realmente “lamentável”:
o impeachment foi um golpe, na opinião de juristas independentes, na visão de
um tribunal internacional reunido no Rio de Janeiro, e como sabe toda a
imprensa estrangeira. Quanto às palestras de Lula, foram muitas, realmente.
Lula é o ex-presidente que tem mais títulos de Doutor Honoris Causa. (Lula só
não tem um apartamento de milhões de euros em Paris, como FHC.) Recentemente ele
foi convidado para uma conferência sobre o combate à fome. Isso mostra que Lula
continua sendo um líder respeitado internacionalmente.
Informar-me é o que eu mais faço: não vejo TV aberta, não
leio Veja, não leio Época e outros órgãos de imprensa dedicados a “ocultar a
notícia”, como dizia Millôr Fernandes. Antes que o técnico fizesse um upgrade
no meu computador, eu tinha nos meus “favoritos” mais de 50 páginas
independentes, onde eu podia tomar antídotos contra a globalização da
ignorância, que afeta milhões de brasileiros. (Já recuperei mais de dez dos
meus sites favoritos.) Quanto às “convicções ideológicas”, o mais interessante
é que a expressão costuma ser brandida contra quem tem um pensamento
progressista, ou à esquerda. Todo pensamento alternativo é “ideologia”, quase
uma superstição; mas as falácias engendradas pela “Escola de Chicago” são pura
ciência. A “mão invisível do mercado” é uma lei da natureza. E vale lembrar uma
coisa: no século XX a “esquerda” esteve associada ao Socialismo, uma tentativa
não muito bem-sucedida (em razão do egoísmo humano e da contraofensiva do Capitalismo)
de implementar a Utopia. Mas esquerda sempre existiu e sempre existirá. Se não
existisse, ainda estaríamos nas cavernas, como caçadores e coletores. O
Capitalismo foi esquerda um dia, em oposição ao moribundo Feudalismo. E agora
(na verdade, há muito tempo) chegou a hora de ser substituído por alguma outra
coisa.
Eu proponho um exercício de honestidade intelectual e de
investigação psicológica: as pessoas realmente odeiam Dilma porque ela é “intratável”
e má administradora? Odeiam Lula porque ele tem um “péssimo caráter” e é “corrupto”?
Ora... as mesmas pessoas que odeiam não
apenas os petistas, mas qualquer político progressista, fizeram declarações
explícitas de amor a Eduardo Cunha, dizendo que ele era corrupto, mas estava “do
nosso lado” (contra o PT)... Caráter por caráter, o do fascista, misógino e
apologista da tortura, Jair Bolsonaro, é hediondo, em comparação com o caráter
de Lula; mas tenho certeza de que muitos aqui votariam em Bolsonaro apenas para
não votar em Lula.
Quanto às acusações de Hélio Bicudo, estamos falando de um
ex-petista, que abandonou o barco quando viu o iceberg do Mensalão (que Ali
Kamel, chefão do jornalismo da Globo, tentou ridiculamente transformar no “maior
escândalo da história da República” – isso no país da Privataria). Como todo
ex, Bicudo é um ressentido (como Marina, que ele viria a apoiar em 2010,
apoiando José Serra no segundo turno). Cospe no prato em que comeu. Lula, como
falei, é perseguido há 40 anos. Se ele
tivesse cometido delito muito menos grave do que aqueles de que é acusado, já
estaria há muito tempo preso e destruído.
Finalmente, não se trata de “endeusar” Lula. Eu tenho a ele
críticas muito mais severas e profundas do que aquelas, baseadas em mentiras e
propaganda, que resultam em panelaços e patos amarelos. Mas reconheço que um governante
pouco pode fazer diante de um Congresso composto basicamente de ratazanas
representantes de putrefatas oligarquias – que financiam também “jornalistas
amestrados”, patos amarelos e outros instrumentos com que o Sistema busca
inutilmente sua perpetuação.
O meteoro não veio. Mas mudanças virão.
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