Bolsonaro
só existe como opção visível por causa da Globo
[Extrato de entrevista do sociólogo
Jessé José Freire de Souza concedida ao jornalista
Paulo Henrique Arantes. Edição NMM. Texto integral em:
O capital financeiro age globalmente, e
a reação a ele é local, frágil.
O golpe no Brasil teve uma articulação
internacional, foi o interesse do capital financeiro em se apropriar de tudo
que possa rapinar: pré-sal, Petrobrás, destruir o capital tecnológico de empreiteiras,
orçamento público, etc. Tudo com ajuda nacional da mídia e dos seus sócios
internos. Dentre eles o aparelho jurídico do Estado, que funcionou e funciona,
com ou sem consciência disso, como “advogados
do capital financeiro” internacional. O capital financeiro quer uma
captura direta da política e do Estado.
A
própria realização de lucro do capital financeiro exige cada vez mais
desigualdade. Isso reflete numa nova forma de expropriação do trabalho coletivo
que é via orçamento – aliás pago pelos pobres e apropriado pelos rentistas -, e
é precisamente o que acontece no Brasil, o golpe foi feito para isso.
[O capital financeiro] desvaloriza a
política, as instituições políticas, usando a mídia e a balela da “corrupção
seletiva”, só dos políticos, escondendo a corrupção legal e ilegal do mercado
que compra direta ou indiretamente a mídia e a própria política. Nesta quadra
histórica, o dinheiro está se apropriando da política completamente.
A própria linguagem do dinheiro
criminalizou a política. O Dória no Brasil é o melhor exemplo disso; e o Trump
nos EUA, quando diz: “você deve me eleger porque eu não sou político”. Você só
pode dizer isso porque a “corrupção
real”, que é a do mercado, por meios legais e ilegais, é tornada invisível pela
mídia.
A base de tudo tem a ver com isso: você
tem que imbecilizar o público. O público
não é imbecil, ele é tornado imbecil pela mídia comprada direta ou
indiretamente para fazer este papel.
O fascismo hoje exerce mais uma violência simbólica,
“imbecilizando” o
público, embora a violência física seja utilizada hoje em dia também.
A base do fascismo no Brasil é a classe média. A mídia
manipula o falso moralismo dessa classe para que sirva de “tropa de choque” dos interesses inconfessos das elites.
O grande elemento aí, que é sempre esquecido, é a mídia. A mídia é o partido da
elite que rapina o país. A mídia representa, antes de tudo, interesses, mas “tira onda” de neutra. O dinheiro não tem boca – a
mídia é a boca do dinheiro, então ela vai manipular o povo a partir disso.
Não existiria Bolsonaro como opção viável sem a Rede
Globo. Você tem que lembrar, apenas para ficar num único exemplo, do jornalista
Merval Pereira, no jornal da “Globo News”, falando que vazamento ilegal é
“normal” e acontece sempre – imagine coisas assim ditas 500 vezes ao dia.
Como não existe contraposição de
opiniões, você vai criando um terreno favorável a preconceitos contra os
direitos individuais e, portanto, contra a própria democracia. Um cara como o
Bolsonaro vai ocupar um espaço que foi “construído” para ele. É a mesma coisa
do Trump. E quem fez isso foi a imprensa, não o Bolsonaro.
Dias atrás, eu vi, também na “Globo
News”, a turma de “analistas” dizendo que Cabral quebrou o Rio. É uma deslavada mentira.
Quem quebrou o Rio foi a mídia,
comandada pela Globo, associada à Lava Jato, que destruiu os empregos da
Petrobrás e de toda sua cadeia produtiva que é vital ao Rio. Depois você diz que foi a propina do
Cabral. Mas o que ele roubou é uma gota nesse oceano. É assim que você produz
uma fábrica de mentira cotidiana. O público não tem defesa contra isso.
a mais burra, melhor, a mais feita de tola de todas as classes
foi a classe média, que a partir de agora vai ter obrigatoriamente de pagar
muito mais que pagava antes por tudo. Já está acontecendo.
Para você apoiar a destruição do Estado
via captura do orçamento para o rentismo e a privatização dos serviços que o
Estado presta, você tem que ser rico ou otário.
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