sexta-feira, 24 de março de 2017

O Capital, o Fascismo e a Mídia

Bolsonaro só existe como opção visível por causa da Globo

[Extrato de entrevista do sociólogo Jessé José Freire de Souza concedida ao jornalista Paulo Henrique Arantes. Edição NMM. Texto integral em:

O capital financeiro age globalmente, e a reação a ele é local, frágil.

O golpe no Brasil teve uma articulação internacional, foi o interesse do capital financeiro em se apropriar de tudo que possa rapinar: pré-sal, Petrobrás, destruir o capital tecnológico de empreiteiras, orçamento público, etc. Tudo com ajuda nacional da mídia e dos seus sócios internos. Dentre eles o aparelho jurídico do Estado, que funcionou e funciona, com ou sem consciência disso, como “advogados do capital financeiro” internacional. O capital financeiro quer uma captura direta da política e do Estado.

A própria realização de lucro do capital financeiro exige cada vez mais desigualdade. Isso reflete numa nova forma de expropriação do trabalho coletivo que é via orçamento – aliás pago pelos pobres e apropriado pelos rentistas -, e é precisamente o que acontece no Brasil, o golpe foi feito para isso.

[O capital financeiro] desvaloriza a política, as instituições políticas, usando a mídia e a balela da “corrupção seletiva”, só dos políticos, escondendo a corrupção legal e ilegal do mercado que compra direta ou indiretamente a mídia e a própria política. Nesta quadra histórica, o dinheiro está se apropriando da política completamente.

A própria linguagem do dinheiro criminalizou a política. O Dória no Brasil é o melhor exemplo disso; e o Trump nos EUA, quando diz: “você deve me eleger porque eu não sou político”. Você só pode dizer isso porque a “corrupção real”, que é a do mercado, por meios legais e ilegais, é tornada invisível pela mídia.

A base de tudo tem a ver com isso: você tem que imbecilizar o público. O público não é imbecil, ele é tornado imbecil pela mídia comprada direta ou indiretamente para fazer este papel.

O fascismo hoje exerce mais uma violência simbólica, “imbecilizando” o público, embora a violência física seja utilizada hoje em dia também.

A base do fascismo no Brasil é a classe média. A mídia manipula o falso moralismo dessa classe para que sirva de “tropa de choque” dos interesses inconfessos das elites. O grande elemento aí, que é sempre esquecido, é a mídia. A mídia é o partido da elite que rapina o país. A mídia representa, antes de tudo, interesses, mas “tira onda” de neutra. O dinheiro não tem boca – a mídia é a boca do dinheiro, então ela vai manipular o povo a partir disso.

Não existiria Bolsonaro como opção viável sem a Rede Globo. Você tem que lembrar, apenas para ficar num único exemplo, do jornalista Merval Pereira, no jornal da “Globo News”, falando que vazamento ilegal é “normal” e acontece sempre – imagine coisas assim ditas 500 vezes ao dia.

Como não existe contraposição de opiniões, você vai criando um terreno favorável a preconceitos contra os direitos individuais e, portanto, contra a própria democracia. Um cara como o Bolsonaro vai ocupar um espaço que foi “construído” para ele. É a mesma coisa do Trump. E quem fez isso foi a imprensa, não o Bolsonaro.

Dias atrás, eu vi, também na “Globo News”, a turma de “analistas” dizendo que  Cabral quebrou o Rio. É uma deslavada mentira. Quem quebrou o Rio foi a mídia, comandada pela Globo, associada à Lava Jato, que destruiu os empregos da Petrobrás e de toda sua cadeia produtiva que é vital ao Rio. Depois você diz que foi a propina do Cabral. Mas o que ele roubou é uma gota nesse oceano. É assim que você produz uma fábrica de mentira cotidiana. O público não tem defesa contra isso.

a mais burra, melhor, a mais feita de tola de todas as classes foi a classe média, que a partir de agora vai ter obrigatoriamente de pagar muito mais que pagava antes por tudo. Já está acontecendo.

Para você apoiar a destruição do Estado via captura do orçamento para o rentismo e a privatização dos serviços que o Estado presta, você tem que ser rico ou otário.

Mais uma vez: as pessoas não nascem tolas, elas são feitas de tolas. E para mim a fábrica da tolice no Brasil é uma mídia que se apresenta como neutra e “serviço público” para, sorrateiramente, destilar seu veneno todo dia. Ela ganha dinheiro e poder com isso e representa os interesses de uma elite predatória.

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