segunda-feira, 3 de abril de 2017

Economistas e Palpites

Como a crise global abalou a reputação dos economistas


Luiz Gonzaga Belluzo.  Edição NMM. Texto original em:


No mundo desenvolvido, livros e artigos investem contra as cidadelas tão frágeis quanto soberbas da sabedoria econômica. Três jovens economistas do movimento Rethinking Economics – Joe Earle, Cahal Moran e Zach Ward-Perkins – escreveram um livro devastador em sua serenidade: Econocracy. Subtítulo: O perigo de deixar a economia para os especialistas. O livro recebeu avaliações elogiosas de Robert Skidelsky, o biógrafo de Keynes, e de Martin Wolf, editor e colunista do Financial Times. Wolf dá uma estocada no fígado das universidades que formam economistas com treinamento estreito e obtuso, viciados em “manipular equações baseadas em suposições irrealistas”.

A crise financeira global que ainda avassala o planeta desvelou a precariedade das teorias e previsões econômicas. A reputação dos economistas e o prestígio de sua arte de antecipar tendências sofrem danos sempre que o velho (e talvez nem tão surpreendente) capitalismo perpetra suas velhacarias.

Na era da informação, a coisa é ainda pior: em tempo real, os meios eletrônicos regurgitam uma fauna variada de palpiteiros e adivinhões
. Quando os negócios vão bem, o noticiário da mídia não consegue oferecer espaço suficiente para os profetas e oráculos da prosperidade eterna.

Chamo a atenção para as agruras de um renomado economista nos idos de 1929. Às vésperas do crash da 
Bolsa de Nova York, Irving Fisher declarou – extasiado diante das promessas de crescimento sem fim – que os preços das ações ainda estavam baixos. Fisher quebrou a cara, mas nem por isso foi punido com a expulsão da seleta galeria dos grandes.

Daqueles tempos a esta parte, é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que encontrar um estudante de economia que tenha lido Fisher ou pelo menos ouvido alguma notícia sobre sua obra. Esse solene desprezo pelos estudos clássicos sobre os ciclos e crises do capitalismo é a moda nos círculos acadêmicos americanizados do planeta.

Mas – é bom repetir – as façanhas do velho e nem sempre surpreendente capitalismo (pródigo em crashes e pânicos) lançaram no torvelinho da descrença as arrogâncias e certezas dos sabichões. Mas, para quem não sabe de seus prodígios, a fé não só é capaz de mover montanhas como também tem força para negar a realidade.

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