Como a crise global abalou a reputação dos economistas
Luiz Gonzaga Belluzo. Edição NMM.
Texto original em:
No
mundo desenvolvido, livros e artigos investem contra as cidadelas tão frágeis quanto soberbas da sabedoria econômica. Três
jovens economistas do movimento Rethinking Economics – Joe
Earle, Cahal Moran e Zach Ward-Perkins – escreveram um livro devastador em
sua serenidade: Econocracy. Subtítulo: O
perigo de deixar a economia para os especialistas. O livro recebeu avaliações
elogiosas de Robert Skidelsky, o
biógrafo de Keynes, e de Martin
Wolf, editor e colunista do Financial Times. Wolf dá uma estocada no fígado das universidades
que formam economistas com treinamento estreito e obtuso, viciados em
“manipular equações baseadas em suposições irrealistas”.
A crise financeira global que ainda avassala o planeta desvelou a precariedade das teorias e previsões econômicas. A
reputação dos economistas e o prestígio de sua arte de antecipar tendências
sofrem danos sempre que o velho (e talvez nem tão surpreendente) capitalismo
perpetra suas velhacarias.
Na era da informação, a coisa é ainda pior: em tempo real, os meios eletrônicos regurgitam uma fauna variada de palpiteiros e adivinhões. Quando os negócios vão bem, o noticiário da mídia não consegue oferecer espaço suficiente para os profetas e oráculos da prosperidade eterna.
Chamo a atenção para as agruras de um renomado economista nos idos de 1929. Às vésperas do crash da Bolsa de Nova York, Irving Fisher declarou – extasiado diante das promessas de crescimento sem fim – que os preços das ações ainda estavam baixos. Fisher quebrou a cara, mas nem por isso foi punido com a expulsão da seleta galeria dos grandes.
Daqueles tempos a esta parte, é mais fácil um camelo passar pelo
buraco da agulha do que encontrar um estudante de economia que tenha lido Fisher ou pelo menos ouvido alguma notícia sobre sua obra. Esse solene
desprezo pelos estudos clássicos sobre os ciclos e crises
do capitalismo é a moda nos círculos acadêmicos
americanizados do planeta.
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