segunda-feira, 19 de junho de 2017

Os Efeitos da Radioatividade Midiática

Nelson M. Mendes

As pessoas avaliam os fatos a partir de suas premissas ideológicas – em sua maioria deformações produzidas por uma espécie de radioatividade midiática que nos afeta a todos há décadas.  Então partimos do princípio de que Lula (juntamente com FHC!) queria “cubanizar o país” (como disse o filósofo Alexandre Frota), e de que o PT é o partido mais corrupto que já existiu. Essa é a narrativa de Veja, da Globo, dos jornalões em geral. Como desde pequenos fomos ensinados a temer e odiar qualquer coisa que tivesse o menor cheiro de “Comunismo”, “esquerda” – qualquer mínimo questionamento do sistema estabelecido – ,  automaticamente aceitamos a versão de que aquele partido que nos quer “cubanizar” só pode ser mesmo corrupto.  A acusação de corrupção é uma velha tática usada pelos “podres poderes” (Caetano Veloso) para desqualificar as correntes progressistas. Já ouviram falar em Carlos Lacerda? Pois é. Hoje não tem Lacerda, mas tem Mainardi, Jabor, Cora Rónai, Miriam Leitão. (O nível da direita caiu muito.)
Afetadas pela radioatividade midiática, as pessoas irão ver pelo em ovo: pedalinhos suntuosos, aviões mitológicos, fazendas quiméricas; mas serão incapazes de aceitar a prova concreta, o documento, o vídeo, a declaração do banco suíço – se os implicados forem os representantes da Velha Ordem. Se as evidências forem demasiado fortes, elas sacam um slogan de ocasião: “Cunha é corrupto, mas está do nosso lado!”
Algumas são imunes à radioatividade midiática. E por dois motivos: primeiro, porque não há nelas, muito desenvolvido, aquele “egoísmo basal” em que se enraíza o pensamento de direita – o ódio ao pobre, o racismo, a intolerância, o fascismo; segundo, porque jamais se contentam com as versões apresentadas pela TV e pelos jornais. Leem, pesquisam, refletem. Essa é a vacina contra a radioatividade.
Conheci um sujeito que, segundo ele próprio, ter-se-ia (vejam que bonito!) transformado num fascistão de carteirinha se não tivesse passado por uma experiência reveladora: fez faculdade de História...
Conheço outro que assume: “No tempo do Orkut eu era muito coxinha.” Ou seja: há uns poucos anos, quando o Orkut representava o que hoje representa o Facebook, ele estava entorpecido pela radioatividade midiática. Mas se curou. Leu, estudou, pesquisou. Hoje ele percebe claramente que existe uma narrativa, conduzida principalmente pelos profissionais da mídia a que o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman chamou “sicários da plutocracia” (mercenários pagos para mentir em favor do poder econômico – ou “poder real”), no sentido de comprometer, desacreditar ou demonizar tudo que signifique o menor movimento a favor da justiça social; mesmo que os sacrossantos interesses do Capital e das elites não sejam afetados, como procurou fazer o PT.
Infelizmente, são poucos os que se salvam. Como escrevi num comentário no Facebook, o que podem as vozes da lucidez contra as trombetas da grande mídia? E aqui me permito uma outra autocitação, do blog Satyagraha (até porque tenho falado exatamente a mesma coisa de várias formas):  “A máquina de fabricar zumbis é tão eficiente que eles julgam que realmente é vida e informação aquilo que é automatismo e desinformação. Acreditam-se independentes e informados porque veem televisão, leem revistas semanais e frequentam a Internet.  E seguem vomitando nas redes sociais aquilo que lhes foi inoculado desde que eram inocentes demais para sequer desconfiar de que algo pudesse estar errado.

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