Nelson M.
Mendes
As pessoas avaliam os fatos a partir de suas premissas
ideológicas – em sua maioria deformações produzidas por uma espécie de
radioatividade midiática que nos afeta a todos há décadas. Então partimos do princípio de que Lula
(juntamente com FHC!) queria “cubanizar o país” (como disse o filósofo
Alexandre Frota), e de que o PT é o partido mais corrupto que já existiu. Essa
é a narrativa de Veja, da Globo, dos jornalões em geral. Como desde pequenos
fomos ensinados a temer e odiar qualquer coisa que tivesse o menor cheiro de “Comunismo”,
“esquerda” – qualquer mínimo questionamento do sistema estabelecido – , automaticamente aceitamos a versão de que
aquele partido que nos quer “cubanizar” só pode ser mesmo corrupto. A acusação de corrupção é uma velha tática
usada pelos “podres poderes” (Caetano Veloso) para desqualificar as correntes
progressistas. Já ouviram falar em Carlos Lacerda? Pois é. Hoje não tem Lacerda,
mas tem Mainardi, Jabor, Cora Rónai, Miriam Leitão. (O nível da direita caiu
muito.)
Afetadas pela radioatividade midiática, as pessoas irão ver
pelo em ovo: pedalinhos suntuosos, aviões mitológicos, fazendas quiméricas; mas
serão incapazes de aceitar a prova concreta, o documento, o vídeo, a declaração
do banco suíço – se os implicados forem os representantes da Velha Ordem. Se as
evidências forem demasiado fortes, elas sacam um slogan de ocasião: “Cunha é
corrupto, mas está do nosso lado!”
Algumas são imunes à radioatividade midiática. E por dois
motivos: primeiro, porque não há nelas, muito desenvolvido, aquele “egoísmo
basal” em que se enraíza o pensamento de direita – o ódio ao pobre, o racismo,
a intolerância, o fascismo; segundo, porque jamais se contentam com as versões
apresentadas pela TV e pelos jornais. Leem, pesquisam, refletem. Essa é a
vacina contra a radioatividade.
Conheci um sujeito que, segundo ele próprio, ter-se-ia (vejam
que bonito!) transformado num fascistão de carteirinha se não tivesse passado
por uma experiência reveladora: fez faculdade de História...
Conheço outro que assume: “No tempo do Orkut eu era muito
coxinha.” Ou seja: há uns poucos anos, quando o Orkut representava o que hoje
representa o Facebook, ele estava entorpecido pela radioatividade midiática.
Mas se curou. Leu, estudou, pesquisou. Hoje ele percebe claramente que existe
uma narrativa, conduzida principalmente pelos profissionais da mídia a que o
Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman chamou “sicários da plutocracia” (mercenários
pagos para mentir em favor do poder econômico – ou “poder real”), no sentido de
comprometer, desacreditar ou demonizar tudo que signifique o menor movimento a
favor da justiça social; mesmo que os sacrossantos interesses do Capital e das
elites não sejam afetados, como procurou fazer o PT.
Infelizmente, são poucos os que se salvam. Como escrevi num
comentário no Facebook, o que podem as vozes da lucidez contra as trombetas da
grande mídia? E aqui me permito uma outra autocitação, do blog Satyagraha (até
porque tenho falado exatamente a mesma coisa de várias formas): “A máquina de fabricar zumbis é tão eficiente
que eles julgam que realmente é vida e informação aquilo que é automatismo e
desinformação. Acreditam-se independentes e informados porque veem televisão,
leem revistas semanais e frequentam a Internet. E seguem vomitando nas
redes sociais aquilo que lhes foi inoculado desde que eram inocentes demais
para sequer desconfiar de que algo pudesse estar errado.”
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