Uma observação sobre o título do texto: em determinados contextos,
pode ser difícil definir se um termo é substantivo ou adjetivo. No título do
presente texto, pode-se perfeitamente imaginar que “político” é o substantivo
que nomeia o ser humano dedicado à prática da Política (vereador, deputado,
etc.); nesse caso, estaríamos provavelmente falando de um nobre e idealista
político que teria sido iludido por seus colegas, por uma doutrina ou até pelo
próprio povo. Mas não: “político” é que é o adjetivo. O leitor deve estar
atento a essa distinção; porque ela é uma questão substantiva (“substantiva”,
aqui, é adjetivo).
Mas vamos ao texto.
Se você quiser continuar com seu ódio de classe, seus
preconceitos, seu desprezo pelo pobre, seu desconhecimento da História, sua
pretensão a sentar-se um dia à mesa principal da Casa-grande, fique à vontade.
Mas não se sinta inteligente, informado, descolado. Você é (tomando-se
emprestado trocadilho alheio) um “filho da pauta”: a pauta da grande mídia de
aproveitar seu visceral egoísmo e sua recalcitrante ignorância para
transformá-lo num feroz defensor de um sistema injusto e cruel. Você se sente muito “moderno”, “isento” e “científico” ao
classificar de “ideologias retrógradas” qualquer proposta ou simples
especulação que fuja ao pensamento único neoliberal. Você nem sabe o que é
Neoliberalismo; mas foi ensinado pela grande mídia, pelos mercenários
intelectuais (profissionais pagos para mentir em favor do poder econômico
–chamados por Paul Krugman de “sicários da Plutocracia”) a achar que “não há
alternativa” (M. Thatcher) ao atual sistema, e que qualquer outra coisa é
“comunismo”, “bolivarianismo”, “populismo” ou até obscurantismo. Você também
não sabe o que são essas coisas; mas o importante é que você foi doutrinado a
odiar tudo isso.
Mesmo no miolo do Capitalismo, no mundo corporativo, os
velhos conceitos de hierarquia, competitividade e controle autoritário dos
trabalhadores estão sendo superados: a tendência é dar mais responsabilidade e
liberdade a cada trabalhador, e colocar ênfase no homem, em vez de no lucro; e
o mais interessante é que essa postura resulta até mais lucrativa! Portanto,
você que defende furiosamente certas posturas senhoriais, que execra quaisquer
medidas com o mínimo teor socializante ou humanista, que berra que “nossa
bandeira jamais será vermelha” (música para uma elite que pouco se importa com
você), que considera “ideologia retrógrada” tudo o que destoe do utilitarismo
neoliberal, saiba que seu pensamento já é considerado anacrônico até mesmo
entre aqueles que continuam professando os cânones básicos do Capitalismo. Você
não é “moderninho”, esperto, “anticomunista”, “antibolivariano”: você é
ignorante e desatualizado; um dinossauro acéfalo.
É você uma inocente
vítima do Sistema? Nem tanto. O plano da Plutocracia só funciona por 3 motivos,
frequentemente superpostos: você é ignorante (não lê, acredita na grande
mídia); é egoísta (desconhece a empatia); e é ambicioso (sonha meramente com a
ascensão pessoal). Num vídeo da Ana Roxo (disponível no Youtube) está dito: “Se
você acha normal desigualdade social, criança subnutrida, o seu problema não é
político; o seu problema é ruindade: você é uma pessoa ruim, má.” Você talvez não
seja exatamente mau, talvez você se comova com as campanhas piegas e hipócritas
que a mídia frequentemente faz contra a fome, o câncer infantil, etc. Dar
esmolas miseráveis uma ou duas vezes por ano é uma antiquíssima receita que os
mais bem-aquinhoados usam para aplacar a consciência em relação a hediondas
injustiças sociais. Mas que ninguém ouse mexer no Sistema! Que ninguém ouse
alterar a engrenagem que (aparentemente) garante suas vantagens econômicas e
seu status social!
Você estaria ao lado
dos escravagistas, que consideravam a Abolição uma perspectiva suicida; estaria
ao lado da nobreza irresponsável e
perdulária que seria derrubada pela Revolução Francesa; estaria entre aqueles
que promoviam a caça às bruxas na Europa medieval; estaria entre os que
marcharam com Hitler e Mussolini; estaria entre os que participaram da “Marcha
da Família com Deus Pela Liberdade”, clamando pelo golpe plutomilitar destinado
à implantação de um modelo econômico excludente; estaria entre os que se
opuseram à redemocratização. Hoje você está entre os que apoiaram
entusiasticamente o golpe vergonhoso de 2016 contra a Presidente Dilma.
A seu lado estão os
latifundiários, os banqueiros, a imprensa corporativista, o Judiciário venal; e
figuras deploráveis como Bolsonaro, Malafaia, Lobão, Alexandre Frota. Você
jamais poderá citar Gandhi, Mandela, Luther King ou o nosso Tiradentes. Não
poderá citar Muhammad Ali, campeão do box e das causas cívicas. Ou Leon
Tolstoi, segundo o qual “os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas
costas”. Não poderá tampouco citar Noam Chomsky, Leonardo Boff, Chico Buarque,
Boaventura Santos, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Josué de Castro, Zygmunt Bauman,
Barbosa Lima Sobrinho, Alceu Amoroso Lima e muitos outros homens notáveis;
porque todos eles sempre se colocaram contra as injustiças da ordem
estabelecida – e você é exatamente um defensor da ordem estabelecida.
Você, portanto, não é “moderninho”
nem “antenado”. Exatamente o contrário. São esses grandes homens, que procuram
a mudança e pensam num mundo mais igualitário e feliz, que movem a História. Se
a Humanidade dependesse de pessoas como você, ainda estaria nas cavernas, coletando
frutos silvestres e caçando mamutes.
3 comentários:
vou até roubar sua ideia, se me permite, lógico !!
Fique à vontade. Ideias devem circular, para iluminar cantos escuros.
Compartilhando, com licença.
Postar um comentário