Paulo
Kliass: Venda da Eletrobras tira chance de retomar o desenvolvimento
Por Nocaute em 25 de agosto às 12h03
[2017]
Texto original:
Texto editado/NMM
O
Brasil já caiu uma vez no conto da privatização.
Vinte anos
depois, o governo de Michel Temer anuncia a venda da Eletrobras.
Em
entrevista ao Nocaute, o economista Paulo Kliass, especializado em gestão pública, explica por que essa
decisão compromete o futuro do Brasil e por que o discurso do governo de
privatizar para pagar juros da dívida pública é mentiroso.
_____
A
sociedade brasileira está se perguntando quais seriam as razões que o governo
teria utilizado para a privatização da Eletrobras.
A cortina de
fumaça para toda essa narrativa a favor da privatização é a questão fiscal. O
governo estaria com suas contas em dificuldade, o que é um fato.
E essa história
a sociedade brasileira já conhece muito bem. Na década de 90, há 20 anos, o
argumento era que se precisava privatizar as estatais federais para reduzir a
dívida pública brasileira. E assim foi feito.
A
Vale e as empresas todas do setor de telecomunicações e telefonia foram
vendidas a preço de banana.
Agora se
está querendo privatizar um patrimônio duramente construído pela sociedade
brasileira para pagar juros da dívida pública.
Na verdade,
o que se pretende é mais uma vez promover a liquidação do patrimônio estatal e
transferir essa empresa para o capital privado.
O que se diz
é que a Eletrobras dá prejuízo. Isso é uma meia verdade. As empresas públicas
são constituídas em áreas sensíveis, estratégicas. A Eletrobras representa
justamente esse setor, estratégico para qualquer país. Sem energia não se faz
nada.
E ela é um
grande conglomerado. Você tem a Eletronorte, a Chesf, a Companhia Hidrelétrica
do São Francisco, a Eletrosul, Furnas, a Eletronuclear, e os 50% a que o Brasil
tem direito sobre a binacional Itaipu.
No
passado, o argumento era de que a empresa privada era muito mais eficiente do
que uma empresa pública, e então o consumidor vai ser beneficiado porque você
vai ter tarifas mais baixas na geração de energia. Isso também é uma grande
falácia, uma grande mentira.
Você
pode pegar o setor que foi privatizado das telecomunicações, empresas de
telefonia e internet. O Brasil tem as maiores tarifas do mundo. Essas empresas são
as campeãs de queixas na Justiça e no Procon.
Elas
praticamente mandam na agência reguladora, a Anatel, que não representa de
maneira nenhuma os interesses dos consumidores.
Então, muito
provavelmente o que vai acontecer com os consumidores, sejam residenciais ou
industriais, da área de energia elétrica, é exatamente isso.
Não podemos
ter nenhuma ilusão. Quem comprar a Eletrobras vai ter no seu objetivo principal
o lucro. Ele vai estar pouco preocupado com a prestação de serviço público; assim
como aconteceu com a telefonia.
E eles vão
chamar de novo o Estado a fazer os aportes necessários para os investimentos. Então
é aquela velha máxima de que o Estado vai continuar com os ossos, e o filé-mignon
vai para o setor privado.
O pior
negócio que o Brasil pode fazer, mesmo do ponto de vista da privatização, é
vender uma empresa num momento de baixa. Isso vale para qualquer tipo de ativo
econômico e financeiro que se tenha.
Quem compra
faz um ótimo negócio. Exatamente porque está comprando uma empresa muito
valiosa por um preço bastante baixo.
O que cabe à
sociedade brasileira, ao movimento sindical, social, popular, é se organizar e
pressionar não apenas o governo, mas principalmente os seus representantes no
Parlamento, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, mostrando que a
sociedade brasileira precisa dessas empresas ainda com sua característica
pública numa área estratégica para nosso país, que é a de geração de energia
elétrica.
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