domingo, 27 de agosto de 2017

Novamente a Falácia das Privatizações

Paulo Kliass: Venda da Eletrobras tira chance de retomar o desenvolvimento
Por Nocaute em 25 de agosto às 12h03                                             [2017]

Texto original:

Texto editado/NMM

O Brasil já caiu uma vez no conto da privatização.
Em entrevista ao Nocaute, o economista Paulo Kliass, especializado em gestão pública, explica por que essa decisão compromete o futuro do Brasil e por que o discurso do governo de privatizar para pagar juros da dívida pública é mentiroso.
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A sociedade brasileira está se perguntando quais seriam as razões que o governo teria utilizado para a privatização da Eletrobras.
A cortina de fumaça para toda essa narrativa a favor da privatização é a questão fiscal. O governo estaria com suas contas em dificuldade, o que é um fato.
E essa história a sociedade brasileira já conhece muito bem. Na década de 90, há 20 anos, o argumento era que se precisava privatizar as estatais federais para reduzir a dívida pública brasileira. E assim foi feito.
A Vale e as empresas todas do setor de telecomunicações e telefonia foram vendidas a preço de banana.
Agora se está querendo privatizar um patrimônio duramente construído pela sociedade brasileira para pagar juros da dívida pública.
Na verdade, o que se pretende é mais uma vez promover a liquidação do patrimônio estatal e transferir essa empresa para o capital privado.
O que se diz é que a Eletrobras dá prejuízo. Isso é uma meia verdade. As empresas públicas são constituídas em áreas sensíveis, estratégicas. A Eletrobras representa justamente esse setor, estratégico para qualquer país. Sem energia não se faz nada.
E ela é um grande conglomerado. Você tem a Eletronorte, a Chesf, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Eletrosul, Furnas, a Eletronuclear, e os 50% a que o Brasil tem direito sobre a binacional Itaipu.
No passado, o argumento era de que a empresa privada era muito mais eficiente do que uma empresa pública, e então o consumidor vai ser beneficiado porque você vai ter tarifas mais baixas na geração de energia. Isso também é uma grande falácia, uma grande mentira.
Você pode pegar o setor que foi privatizado das telecomunicações, empresas de telefonia e internet. O Brasil tem as maiores tarifas do mundo. Essas empresas são as campeãs de queixas na Justiça e no Procon.
Elas praticamente mandam na agência reguladora, a Anatel, que não representa de maneira nenhuma os interesses dos consumidores.
Então, muito provavelmente o que vai acontecer com os consumidores, sejam residenciais ou industriais, da área de energia elétrica, é exatamente isso.
Não podemos ter nenhuma ilusão. Quem comprar a Eletrobras vai ter no seu objetivo principal o lucro. Ele vai estar pouco preocupado com a prestação de serviço público; assim como aconteceu com a telefonia.
E eles vão chamar de novo o Estado a fazer os aportes necessários para os investimentos. Então é aquela velha máxima de que o Estado vai continuar com os ossos, e o filé-mignon vai para o setor privado.
O pior negócio que o Brasil pode fazer, mesmo do ponto de vista da privatização, é vender uma empresa num momento de baixa. Isso vale para qualquer tipo de ativo econômico e financeiro que se tenha.
Quem compra faz um ótimo negócio. Exatamente porque está comprando uma empresa muito valiosa por um preço bastante baixo.

O que cabe à sociedade brasileira, ao movimento sindical, social, popular, é se organizar e pressionar não apenas o governo, mas principalmente os seus representantes no Parlamento, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, mostrando que a sociedade brasileira precisa dessas empresas ainda com sua característica pública numa área estratégica para nosso país, que é a de geração de energia elétrica.

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