2018-0625
Nelson M. Mendes
Neymar é tido como um dos maiores
craques brasileiros das últimas décadas. Muitos boleiros dirão que ele é habilidoso, criativo, capaz de abrir
defesas com seus dribles ou lançamentos precisos aos companheiros. É consenso
que ele está pelo menos entre os cinco maiores jogadores do mundo na
atualidade.
Hoje, no entanto, Neymar é uma
espécie de vilão, é uma decepção. Claro que o fato de ter tido uma fratura há
alguns meses explica que não esteja no melhor de sua forma física e técnica.
Mas o que incomoda a torcida brasileira e a imprensa é a atitude do jogador: os melindres, os chiliques, o comportamento cai-cai em campo, a preocupação frívola
com o penteado às vésperas da estreia na Copa do Mundo.
O jogador, frequentador assíduo das
redes sociais, publicou recentemente um post
dizendo que ninguém sabe o que ele passou para chegar ao lugar que alcançou.
Ele estaria naturalmente insinuando que teve uma vida de privações e
dificuldades; mas muitos informados jornalistas já desmascararam a farsa,
desmontaram o mito do herói desvalido que arrostou todos os perigos e desafios:
Neymar, praticamente desde a puberdade, já ganhava do Santos um salário com que
a imensa maioria do povo brasileiro jamais irá sequer sonhar.
As redes sociais são bênção e maldição típicas do nosso tempo. Elas potencializaram de forma
extraordinária a comunicação, tornaram possível a troca de ideias numa extensão
nunca vista na história conhecida da humanidade. Mas também propiciaram a
dissipação, o dispêndio de tempo e energia. A declaração do Barão de Itararé é
conhecida: “A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da
imbecilidade humana.” O que não diria ele hoje sobre a Internet – sobre as
redes sociais?... Elas representam uma conquista maravilhosa da ciência, do
engenho humano... colocada a serviço da estupidez, do preconceito, da
frivolidade.
“Quem nunca comeu melado, quando come
se lambuza.” As redes sociais ainda são um fenômeno relativamente recente. A
própria Internet nasceu ontem. É natural que muita gente se labuze com esse
pote de melado. Com o tempo, o fascínio vai diminuir; mas, por enquanto, a
febre da conectividade permanente assola o planeta, domina o Brasil – um dos
países onde as pessoas passam mais tempo na Internet, particularmente nas redes
sociais.
Neymar é um desses milhões de ratos de rede. E carrega todos os vícios
desses ratos: consome fake news, divulga frivolidades, pratica
o narcisismo explícito. E, também como todos os milhões de colegas roedores, permite que essa vida virtual interfira na sua vida real.
Há casos de pessoas de fato dependentes
– no sentido da dependência a drogas ou álcool – da conectividade, da fantasia
virtual. Não é o caso de Neymar, até porque a fortuna que ganha lhe dá
condições de transformar a própria vida num sonho concretizado. Mas das redes
sociais ele recebe permanentemente o apoio dos parças e a crítica dos anti.
Tendo crescido sob os mimos que normalmente recebem as “jovens promessas do
futebol”, Neymar fica amuado quando recebe críticas. E como seria possível que
o sucessor de Pelé, de Zico, fosse alvo de críticas da plebe ignara – ou de
jornalistas que nunca chutaram uma bola de futebol? Aí ele chora, veste o
personagem do sofredor que venceu as adversidades, dispara nas redes sociais ou
na mídia uma saraivada de agressões e ironias.
E segue para o ocaso sem ter jamais
atingido propriamente o zênite sonhado pelo povo e pela mídia. Neymar já tem 26
anos. Jamais será aquele craque inesquecível. Pelo contrário: prima donna melindrosa, sem ter
entregado o que dele se esperava, cairá no esquecimento pouco depois de
pendurar as chuteiras. Já há quem o esteja esquecendo hoje.
O que dói é que se pode fazer um
paralelo entre o caso Neymar e a trajetória do Brasil. Neymar era o craque do
século XXI, aquele jogador que manteria a tradição de grandes nomes do futebol
brasileiro. Era o “jogador do futuro” – um futuro que parecia presente.
Há quantas décadas o Brasil – o Brasil
dos golpes, retrocessos, do atraso, da burrice – é o “país do futuro”?...
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Apêndice
Neologismo surgido durante a Copa do Mundo na Rússia:
Neymar [Do port. vulgar Neymar] 1. Cair de forma teatral e espetaculosa, simulando dor torturante e rolando pelo chão em espasmos incontidos.
Obs.: o verbo traz apenas uma acepção; mas muitas decepções.
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Apêndice
Neologismo surgido durante a Copa do Mundo na Rússia:
Neymar [Do port. vulgar Neymar] 1. Cair de forma teatral e espetaculosa, simulando dor torturante e rolando pelo chão em espasmos incontidos.
Obs.: o verbo traz apenas uma acepção; mas muitas decepções.
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