segunda-feira, 25 de junho de 2018

Neymar, as redes sociais e o Brasil





2018-0625   Nelson M. Mendes


Neymar é tido como um dos maiores craques brasileiros das últimas décadas. Muitos boleiros dirão que ele é habilidoso, criativo, capaz de abrir defesas com seus dribles ou lançamentos precisos aos companheiros. É consenso que ele está pelo menos entre os cinco maiores jogadores do mundo na atualidade.
Hoje, no entanto, Neymar é uma espécie de vilão, é uma decepção. Claro que o fato de ter tido uma fratura há alguns meses explica que não esteja no melhor de sua forma física e técnica. Mas o que incomoda a torcida brasileira e a imprensa é a atitude do jogador: os melindres, os chiliques, o comportamento cai-cai em campo, a preocupação frívola com o penteado às vésperas da estreia na Copa do Mundo.
O jogador, frequentador assíduo das redes sociais, publicou recentemente um post dizendo que ninguém sabe o que ele passou para chegar ao lugar que alcançou. Ele estaria naturalmente insinuando que teve uma vida de privações e dificuldades; mas muitos informados jornalistas já desmascararam a farsa, desmontaram o mito do herói desvalido que arrostou todos os perigos e desafios: Neymar, praticamente desde a puberdade, já ganhava do Santos um salário com que a imensa maioria do povo brasileiro jamais irá sequer sonhar.
As redes sociais são bênção e maldição típicas do nosso tempo. Elas potencializaram de forma extraordinária a comunicação, tornaram possível a troca de ideias numa extensão nunca vista na história conhecida da humanidade. Mas também propiciaram a dissipação, o dispêndio de tempo e energia. A declaração do Barão de Itararé é conhecida: “A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.” O que não diria ele hoje sobre a Internet – sobre as redes sociais?... Elas representam uma conquista maravilhosa da ciência, do engenho humano... colocada a serviço da estupidez, do preconceito, da frivolidade.
“Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.” As redes sociais ainda são um fenômeno relativamente recente. A própria Internet nasceu ontem. É natural que muita gente se labuze com esse pote de melado. Com o tempo, o fascínio vai diminuir; mas, por enquanto, a febre da conectividade permanente assola o planeta, domina o Brasil – um dos países onde as pessoas passam mais tempo na Internet, particularmente nas redes sociais. 
Neymar é um desses milhões de ratos de rede. E carrega todos os vícios desses ratos: consome fake news, divulga frivolidades, pratica o narcisismo explícito. E, também como todos os milhões de colegas roedores, permite que essa vida virtual interfira na sua vida real.
Há casos de pessoas de fato dependentes – no sentido da dependência a drogas ou álcool – da conectividade, da fantasia virtual. Não é o caso de Neymar, até porque a fortuna que ganha lhe dá condições de transformar a própria vida num sonho concretizado. Mas das redes sociais ele recebe permanentemente o apoio dos parças e a crítica dos anti. Tendo crescido sob os mimos que normalmente recebem as “jovens promessas do futebol”, Neymar fica amuado quando recebe críticas. E como seria possível que o sucessor de Pelé, de Zico, fosse alvo de críticas da plebe ignara – ou de jornalistas que nunca chutaram uma bola de futebol? Aí ele chora, veste o personagem do sofredor que venceu as adversidades, dispara nas redes sociais ou na mídia uma saraivada de agressões e ironias.
E segue para o ocaso sem ter jamais atingido propriamente o zênite sonhado pelo povo e pela mídia. Neymar já tem 26 anos. Jamais será aquele craque inesquecível. Pelo contrário: prima donna melindrosa, sem ter entregado o que dele se esperava, cairá no esquecimento pouco depois de pendurar as chuteiras. Já há quem o esteja esquecendo hoje.
O que dói é que se pode fazer um paralelo entre o caso Neymar e a trajetória do Brasil. Neymar era o craque do século XXI, aquele jogador que manteria a tradição de grandes nomes do futebol brasileiro. Era o “jogador do futuro” – um futuro que parecia presente.
Há quantas décadas o Brasil – o Brasil dos golpes, retrocessos, do atraso, da burrice – é o “país do futuro”?...

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Apêndice

Neologismo surgido durante a Copa do Mundo na Rússia:

Neymar [Do port. vulgar Neymar] 1. Cair de forma teatral e espetaculosa, simulando dor torturante e rolando pelo chão em espasmos incontidos.

Obs.: o verbo traz apenas uma acepção; mas muitas decepções.

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