Nelson M. Mendes
[Logo abaixo deste
texto, a crônica sobre o Egito.]
Gritos ensandecidos e um foguetório
ridículo anunciavam a vitória do representante da extrema direita.
Onde foi que tudo começou?
Foi com a prisão de Lula?
Foi com o golpe contra Dilma?
Foi com as manifestações populares de
2013?
Talvez tudo tenha começado lá atrás, quando
a mídia, braço armado da Plutocracia (“A pena é mais poderosa que a espada.”),
trabalhou para destruir Brizola, Lula, e forjar Collor.
Não: tudo começou quando, no fim do
ciclo ditatorial inaugurado em 1964, as forças de sempre se articularam para
adiar o retorno da “Democracia” e entronizar no Planalto o presidente anódino e
inofensivo – Tancredo Neves – , cuja morte continuará levantando tantas suspeitas
quanto a do Papa João Paulo I, já que abriu caminho para o vice dos sonhos da
Plutocracia, o representante por excelência do continuísmo: José Sarney.
Não: tudo começou mesmo em 1964, quando
a Plutocracia (inclusive com ajuda norte-americana) manipulou a mídia (que
manipulou o povo) e mobilizou as Forças armadas para dar o golpe.
Não: tudo começou na década de 50,
quando a Plutocracia (com ajuda norte-americana) manipulou a mídia, o povo, e
acossou Getúlio Vargas, que ousara pensar num projeto nacionalista.
Não: tudo começou com a Guerra Fria,
quando os EUA passaram a esmagar o mundo (particularmente a América Latina) com
o peso de sua Propaganda.
Não: tudo começou com a revolução
cubana.
Não: tudo começou com a revolução
chinesa.
Não: tudo começou começou com o “New
Deal”, programa com que Roosevelt salvou o Capitalismo de uma crise talvez terminal,
mas que lhe custou a acusação de flertar com o “Comunismo”.
Não: tudo começou com a revolução russa.
Ou terá tudo começado com a revolução
francesa, que inaugurou a ordem burguesa, que se recusa a admitir seu
inevitável fim, como ocorre a todas as coisas?
Um notável professor de História que eu
tive costumava analisar os fenômenos segundo suas causas mediatas
e imediatas. Causas mediatas são
aquelas remotas, difíceis de distinguir, mas talvez até mais importantes. Causas
imediatas são aquelas que podemos facilmente reconhecer, porque estão próximas.
Não é muito difícil encontrar as causas
imediatas (aquelas compreendidas no período – digamos – de duas ou três
gerações) de um fenômeno à primeira vista incompreensível, como foi a eleição
do candidato que corporifica a negação dos interesses populares.
Haddad foi derrubado pelo antipetismo. O
antipetismo foi uma construção da mídia. A mídia trabalha contra as causas
populares, de modo geral; e é instrumento da propaganda “anticomunista”,
difundida de forma avassaladora a partir dos EUA especialmente depois da Segunda
Guerra Mundial.
As elites brasileiras, à bordo da mídia,
navegaram garbosamente no tsunami “anticomunista” norte-americano. O povo,
tradicionalmente desinformado (são milhões os analfabetos funcionais),
alarmou-se com o “perigo vermelho” e apressou-se em passar a defender os interesses
dos seus opressores.
Então a causa imediata do advento do retrocesso democrático foi esta: o
medo; medo do “Comunismo”.
Mas o que significa, de fato, esse medo?
Medo do “Comunismo” significa medo de
dividir, medo de perder. As aspas (finalmente explico...) sinalizam que,
tecnicamente, historicamente, jamais houve no mundo Comunismo stricto sensu, aquele idealizado por
Marx. Segundo Leonardo Boff, no Cristianismo primitivo funcionava algo que,
independentemente de conceituações acadêmicas, passei a chamar de “comunismo
informal”. Naquela sociedade, compartilhar
era o verbo mais praticado.
O medo do “Comunismo”, seja informal, seja oficial, é, pois, o medo de dividir, de compartilhar, de perder.
Foi esse medo, no fundo, o que tornou
possível o nazismo tropical.
O nome disso é egoísmo.
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