quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O elo entre Liberalismo e Nazifascismo


LIBERALISMO E NAZIFASCISMO POSSUEM MAIS AFINIDADES DO QUE VOCÊ IMAGINA

Seria mesmo o Liberalismo o maior inimigo do Fascismo?

 Em 2 de jan de 2017  Última Atualização 10 de jun de 2018
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Texto editado / NMM:

Em tempos nos quais o cinismo impera, vem sendo bastante difundida a máxima de que “o maior inimigo do Fascismo é o Liberalismo”. No entanto, há fatos para desmistificar tal falácia.

Um liberal na gênese do Fascismo

Vilfredo Pareto, economista liberal e sociólogo, inimigo mortal de qualquer protótipo de socialismo, contrário a qualquer intervencionismo no mercado e defensor da dominação das elites, foi um dos teóricos que produziram a ideologia precursora do Fascismo.
Pareto argumentou que a democracia era uma ilusão e que uma classe dominante sempre irá subsistir; acreditava que as desigualdades sociais faziam parte de uma ordem natural. Ele reivindicou uma redução drástica do Estado e conceituou o regime de Benito Mussolini como uma transição para esse Estado mínimo. “Nos primeiros anos de seu governo, Mussolini literalmente executou a política prescrita por Pareto, destruindo a liberdade política.” (BORKENAU, Franz. Pareto. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1936. p. 18.)
Pareto considerou o triunfo de Mussolini uma confirmação de suas ideias, especialmente a importância da força e seu desprezo por um sistema igualitário. A importância dele para o Fascismo foi equivalente à de Karl Marx para o Socialismo científico.

O Liberalismo como agenda das políticas econômicas de Mussolini

De 1922 a 1925, Mussolini e seu governo totalitário deram continuidade à política econômica do laissez-faire.
Depois da nomeação de Mussolini como primeiro-ministro, os industriais sentiram-se ainda mais recompensados com a designação de Alberto De Stefani, um intransigente liberal, como ministro das Finanças. De Stefani reduziu impostos, aboliu isenções fiscais que beneficiavam contribuintes de baixa renda, facilitou as transações com ações e a evasão fiscal reintroduzindo o anonimato (abolido por Giolitti), eliminou a regulamentação dos aluguéis, privatizou os seguros de vida (introduzidos por Giolitti) e transferiu a gestão do sistema de telefonia para o setor privado.” (SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009. p. 120)
Ademais, a ascensão do Fascismo (tal como a do Nazismo de Adolf Hitler na Alemanha) só foi possível com a colaboração e o suporte financeiro de grandes corporações ainda hoje poderosas: BMW, Fiat, IG Farben (Bayer), Volkswagen, Siemens, IBM, Chase Bank, Allianz, entre outros grupos de mídia, que financiaram esses regimes com o objetivo de frear o avanço do socialismo soviético na Europa.
“Os industriais não confiavam em Mussolini, que deu-se conta disto, tratando, em 1921, de adaptar sua linguagem para o liberalismo econômico e abandonar os princípios de intervencionismo estatal até então apregoados por ele. Em 1922, para todos os efeitos, aderira plenamente ao liberalismo econômico.”
(…)
“Os industriais, ao longo de 1922, mantiveram-se calados, como se não conseguissem reunir coragem para apoiar abertamente o Fascismo. À medida que os fascistas se fortaleciam, os industriais passaram a simpatizar com eles, como tantos outros que até recentemente defendiam a importância da Democracia.No momento em que Mussolini foi designado primeiro-ministro, a maioria dos capitalistas passou a apoiá-lo praticamente sem reservas.”
(…)
“Se dependesse de sua preferência, o novo governo seria chefiado por um liberal; apenas estavam convencidos de que os fascistas haviam se tornado a principal força antissocialista do país.” (SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009. pp. 115, 116, 118 e 119)
No dia 20 de setembro de 1922, em discurso pronunciado na cidade de UdineMussolini declarou:
Queremos retirar do Estado todos os seus poderes econômicos. Basta de ferroviários estatais, carteiros estatais, seguradores estatais. Basta deste Estado mantido à custa dos contribuintes e pondo em risco as exauridas finanças do Estado italiano.
No filme Fascismo Inc., o cineasta Chatzistefanou esmiúça a também estreita colaboração de industriais e banqueiros com os nazistas para perseguir e destruir o sindicalismo e os socialistas, a quem chamavam de “terroristas”. Detalhe: Hitler extinguiu o Partido Comunista alemão um dia depois de tomar posse.

Teóricos neoliberais justificaram e legitimaram o Nazifascismo

Os liberais do início do século XX e os liberais neoclássicos, que deram origem ao Neoliberalismo, defendiam o Fascismo e sua variante nazista como necessários para manter a ordem capitalista.
Declaração de Friedrich Hayek:
Hitler não precisou destruir a Democracia; limitou-se a tirar proveito da sua decadência e conseguiu o apoio de muitos que consideravam-no o único homem bastante forte para pôr as coisas em marcha.” (HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. 5. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990. p. 90)

Ludwig von Mises atuou como conselheiro econômico do governo fascista de Engelbert Dollfuss na Áustria. Em seu livro “Liberalismo — Segundo a tradição clássica”, ele reitera que o Fascismo foi um movimento político que teve como um de seus principais objetivos o combate ao Bolchevismo.
Nesta obra, Mises também não hesitou em legitimar, elogiar e, até mesmo, enaltecer o Fascismo:
“Não se pode negar que o Fascismo e movimentos semelhantes, visando ao estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que sua intervenção, até o momento, salvou a civilização europeia. O mérito que, por isso, o Fascismo obteve para si estará inscrito na História. Porém, embora sua política tenha propiciado salvação momentânea, não é do tipo que possa prometer sucesso continuado. O Fascismo constitui um expediente de emergência.” (VON MISES, Ludwig. Liberalismo – Segundo a Tradição Clássica / Ludwig von Mises. — São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. pp. 75 e 76)

A origem totalitária do Neoliberalismo

Antes de Augusto Pinochet liderar o golpe militar chileno que destituiu, Salvador Allende — com aprovação da burguesia e apoio financeiro dos Estados Unidos —, surgiu em alguns setores ligados à política externa dos EUA e da Grã-Bretanha um movimento cuja intenção era encaixar os governos desenvolvimentistas do Terceiro Mundo na lógica binária da Guerra Fria. Para os falcões, o nacionalismo seria o primeiro passo rumo ao totalitarismo comunista. Portanto, erradicar o desenvolvimentismo no Cone Sul tornara-se uma meta. Agências estavam engajadas em combater o desenvolvimentismo e o Marxismo no plano intelectual, bem como suas influências sobre a economia latino-americana. No que tange ao Chile, o plano consistia em financiar estudantes chilenos para aprender economia na mais reconhecidamente anticomunista escola do mundo — a Universidade de Chicago — de forma a combater economistas “vermelhos” como Raúl Prebisch. Naquela universidade, predominava Milton Friedman, um dos expoentes da Escola Monetarista e ferrenho defensor da liberdade irrestrita de mercado e do laissez-faire. Os Chicago Boys se tornaram verdadeiros embaixadores de ideias econômicas que na América Latina ficaram conhecidas como “Neoliberalismo”. Muitos deles aderiram ao movimento fascista chileno Pátria e Liberdade. Às vésperas do golpe, elaboraram um programa econômico que nortearia as ações da junta militar, um calhamaço conhecido como “O Tijolo”. O teor desse documento era muito similar ao livro de Friedman “Capitalismo e Liberdade” e propunha, dentre outras coisas, privatizações, desregulamentação e cortes nos gastos sociais, a clássica tríade do livre mercado.
Em princípio, as ideias dos Chicago Boys não encontraram campo fértil no Chile. Só depois do golpe de Estado foi possível pôr em prática suas ideias.
No 11 de setembro de 1973, a caserna deu as mãos à austeridade econômica para dar origem a uma das mais violentas ditaduras da História, que também contou com a assessoria e apoio aberto de Friedrich Hayek.
Assim, a primeira experiência neoliberal não se deu na Inglaterra de Thatcher ou nos Estados Unidos de Reagan. Nasceu, isso sim, gêmea de um sangrento regime militar. Em 1977, de quebra, Pinochet ainda entregou o Ministério das Finanças ao Chicago Boy Sérgio de Castro.

Considerações finais

A essa altura do texto já fica fácil compreender por quê:
  • o primeiro bloco de privatizações aconteceu na primeira nação fascista que o mundo conheceu, a Itália, nos anos 1920 (a publicação inglesa The Economist cunhou o termo “privatização” para denominar a política econômica fascista);
  • o segundo bloco de privatizações em massa (que inclusive superou a italiana fascista) ocorreu na segunda, a Alemanha nazista, nos anos 1930; e
  • após nascerem em berço fascista durante os anos que antecederam a 2ª Guerra Mundial, as privatizações voltaram a aparecer nos anos 1970, no governo fascista do ditador chileno Augusto Pinochet.
Não pretendemos colocar um sinal de igualdade entre Liberalismo e Fascismo. Porém, o Liberalismo não se constituiu em um entrave ao Fascismo, ele inclusive forneceu as justificativas ideológicas para sua expansão europeia — e mais tarde sul-americana.
A História comprova-nos que Fascismo e Liberalismo podem atuar em consonância, fundamentalmente no propósito do combate a seus maiores inimigos comuns: social-democratas, socialistas, comunistas, bolcheviques, marxistas… Isto é, todos aqueles que tinham uma visão crítica do capitalismo, propondo sua superação ou mesmo propondo políticas reformistas.
Fontes:
• UFCG – Bio de Vilfredo Pareto
• PARESCHI, Lorenzo; TOSCANI, Giuseppe  – Interacting Multiagent Systems: Kinetic Equations and Monte Carlo Methods
• EATWELL, Roger; WRIGHT, Antony – Contemporary Political Ideologies. London: Continuum. (páginas 38–39).
• AMOROSO, Luigi (janeiro de 1938). “Vilfredo Pareto”. Econometrica.

• UFSC – AUTORITARISMO E CHOQUE
• Jacobin – Capitalism and Nazism
• USP – A formulação do pensamento neoliberal na América Latina em perspectiva comparada: o pensamento econômico de Eugênio Gudin (Brasil), Martinez de Hoz (Argentina) e Sergio de Castro (Chile) (PDF)
• Cambridge Journal of Economics – 
The first privatisation: selling SOEs and privatising public monopolies in Fascist Italy (1922–1925)
• BARBIERI, Giovanni. Pareto e il fascismo.
• BORKENAU, Franz. Pareto. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1936.
• SASSOON, Donald. Mussolini e a ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

3 comentários:

CCOB disse...

Brilhante este trabalho, nos mostra com clareza, pelo comparativo histórico o que vem ocorrendo no Brasil,onde Guedes de forma clara nos apresenta os modelos que acredita e segue

CCOB disse...

Brilhante este trabalho, nos mostra com clareza, pelo comparativo histórico o que vem ocorrendo no Brasil,onde Guedes de forma clara nos apresenta os modelos que acredita e segue

CCOB disse...

Brilhante este trabalho, nos mostra com clareza, pelo comparativo histórico o que vem ocorrendo no Brasil,onde Guedes de forma clara nos apresenta os modelos que acredita e segue