quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

#Euavisei


Nelson M. Mendes



Eu avisei. Poucos teriam tanto direito de usar essa hashtag quanto eu.
Porque eu avisei. Eu alertei. Eu expliquei, com base em registros históricos, que o brasileiro tinha sido doutrinado a odiar qualquer sistema, qualquer país, qualquer pessoa que pudesse, mesmo que remotamente, ter algo a ver com as ideias de “igualdade”, “distribuição”, “compartilhamento”. Ou seja: no índex brasileiro (não nos ocupemos de outros países onde ocorre o mesmo fenômeno) estão o Socialismo, o Comunismo, muitos países onde esses sistemas jamais vigoraram, de fato, e nomes como Marx, Fidel, Mao – e até Chávez, até Lula...
Eu expliquei, em vários textos publicados no blog Satyagraha, que o grande Sistema Capitalista já há muito entrou em fase terminal, e que tem sobrevivido à custa de aparelhos: aparelhos diplomáticos, publicitários, políticos, econômicos, militares. Expliquei  também que todo organismo ou sistema luta pela sobrevivência – isso é natural; e que, no entanto, também é natural que todo organismo, sistema ou império tenha  seu fim. E o fim do Capitalismo, com os trajes neoliberais ou não, as máscaras do Neoliberalismo ou não, está próximo.
Como o nosso assunto é o Brasil, e como é preciso repetir e repetir certas coisas até que elas sejam ouvidas e compreendidas, vamos rememorar – sem ir para trás das fronteiras do século XX, até porque só iríamos encontrar os mesmos fatos com vetusta feição.
Quando Getúlio Vargas (perfil ditatorial e demais idiossincrasias à parte) foi perseguido, acusado de navegar num “mar de lama”, era o Capital que agia; quando Jango foi deposto (golpe de 1964), foi o Capital que agiu; quando, na primeira eleição presidencial depois da ditadura, o fantoche Collor foi eleito, foi o Capital que agiu. Há quem garanta que o próprio surgimento do PT foi obra maquiavélica do Capital: o “bruxo” Golbery operou para que um novo partido de esquerda dividisse a oposição com o partido de Brizola – esse, sim, o espectro temido pela direita.
Eu também expliquei que essa história de “Fim da História” era o fim da picada; porque a ideia é a de que a humanidade teria, com o Neoliberalismo, chegado a um sistema perfeito: não haveria mais luta de classes, esse negócio de direita X esquerda era coisa do passado.
Eu insisti (embora reconhecendo que clamava no deserto): dizer que não existe mais a antinomia direita/esquerda seria como dizer que foi revogada a lei física de ação/reação. Disse exaustivamente que o próprio Capitalismo já foi esquerda um dia.
Mas eu falava para as paredes. Discursava no deserto.
Depois dos governos em que o “esquerdista” Lula fez exatamente o que dele esperava o Capital, ainda que com respeitáveis concessões às demandas sociais, vieram os governos de Dilma, que também caprichou no cumprimento da cartilha neoliberal.
Mas Dilma não é Lula, a conjuntura econômica mundial era menos favorável, os problemas econômicos começaram a resultar em insatisfação popular. E o que aconteceu? O Capital, montado na sua gigantesca máquina publicitária, tratou logo de capitalizar aquela insatisfação popular: como tinha feito com Getúlio e Jango, inventou logo uma história de “corrupção”e, manipulando mídia, Congresso e Judiciário, conseguiu que a “ladra comunista”(!) sofresse o impeachment. Hoje está provado que o impeachment foi uma fraude, um golpe; o objetivo era colocar no Planalto o boneco amestrado Temer, muito mais obediente do que Dilma.
Todo mundo achou ótimo. Mas eu avisei.
Haveria eleições em 2018. Lula poderia mais uma vez se candidatar. E as pesquisas mostravam que, apesar de permanentemente alvejado por todas as armas do Capital (sobretudo a mídia), Lula era o favorito disparado. Ganharia fácil.
O Capital não podia esmorecer; aí inventou Moro. Inventou processos estapafúrdios, que envergonham para sempre a Justiça brasileira – que, de resto, já tinha mesmo uma péssima fama.
O público já tinha sido empanturrado de fakenews adrede engendradas para desqualificar Lula: seu filho seria dono de uma fazenda suntuosa, de uma Ferrari de ouro, de um avião de ouro, da Friboi... O próprio Lula apareceu numa capa fake da revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo. O objetivo da campanha era claro: mostrar ao povo que, enquanto ele sofria (agruras provocadas exatamente pelo Capitalismo...), Lula e família se locupletavam e enriqueciam, fingindo que eram “socialistas”.
Mas convencer o público não bastava: era preciso criar um fato jurídico, encarcerar Lula.
E aí entraram em cena algumas das figuras mais risíveis da história brasileira: Sérgio Moro, Dallagnol... e os indefectivelmente ignóbeis ministros do STF.
Eu também avisei: Lula está sendo vítima de perseguição jurídica. Isso tem até nome: lawfare.
122 notáveis juristas escreveram um livro – “Comentários a uma sentença anunciada – o processo Lula” – para provar que o processo contra Lula era uma fraude. Um professor de lógica escreveu um livro mostrando as incongruências, os absurdos, do ponto de vista lógico, da sentença contra Lula; e recebeu o apoio público de quase trinta doutores em Filosofia, Lógica, Matemática.
Mas nada disso adiantou. Como escrevi num dos meus últimos posts no Facebook, “contra a burrice e o egoísmo, a lógica, os fatos e os números são inúteis”. (Foi por isso que abandonei aquela rede social. Não aguentava mais faceboorrice.)
Mais uma vez é preciso explicar: a campanha do Capital em prol de seus interesses só funciona porque o povo tem medo do “Comunismo”; por trás do medo do “Comunismo” estão a burrice (alhos são confundidos com bugalhos) e o egoísmo (repulsa à ideia de compartilhar).
Com Lula encarcerado, uma vez perpetrada uma das maiores fraudes jurídicas de que se tem notícia, cabia agora ao povo fazer o que dele esperava o Capital: eleger Bolsonaro.
E quem era Bolsonaro? Bolsonaro tinha sido pintado pela mídia como o paladino da anticorrupção. E a corrupção, segundo a narrativa trombeteada pela mídia (mentindo sempre a serviço do Capital), tinha nome: PT – Partido dos Trabalhadores. Se Collor fora o “Caçador de Marajás” (os servidores públicos cujos altos salários seriam uma das principais causas dos problemas brasileiros), Bolsonaro era o “Caçador de Petistas”.
O Petismo tinha sido fraudulentamente associado a todas as mazelas brasileiras – que, segundo essa narrativa falaciosa, eram produto da corrupção. (O que é a grande mentira brasileira. No texto O lawfare que fere Lula, eu escrevi: “O Delegado José Castilho, que foi boicotado na investigação do Escândalo Banestado ao chegar perto da cúpula do governo FHC e do poder econômico, declarou: 'Me é difícil conciliar o sono à noite, só de pensar nas crianças abandonadas. Por trás de tudo isso está a corrupção.' Inocência do delegado. A corrupção não é o grande problema. O principal problema brasileiro é a desigualdade. Para mantê-la, os poderosos iludem as massas, inclusive com a quimera da corrupção. Prestidigitação é isso. Enquanto o mágico chama a atenção do público para detalhes sem importância, um elefante se materializa no fundo do palco.")
Então o povo, que já tinha sido doutrinado a odiar o “Comunismo” e o PT, resolveu (vergonha histórica!) apostar no burro nazista: elegeu o capitão deformado (quer dizer: reformado) Jair Bolsonaro.
Neste fim de 2018 estamos ainda sob o governo do títere Temer; mas a eleição e as declarações do burro nazista já tiveram efeitos devastadores: a conferência sobre o clima que a ONU organiza anualmente, e que em 2019 seria no Brasil (COP-25), foi transferida para Santiago depois das declarações de Bolsonaro e de seu futuro chanceler, que é contra o “alarmismo climático” e acha que as mudanças climáticas são um “dogma marxista”(!); os médicos cubanos, que prestavam inestimável serviço nos cantões perdidos do Brasil, fizeram as malas e foram embora.
Isso sem falar na escalação dos ministros do futuro governo: para cuidar da economia, um incompetente que nem percebeu ainda que o Neoliberalismo é um Titanic 95% naufragado; para o Itamarati, um especialistas em gafes e asneiras diplomáticas; para a agricultura, mulher conhecida como “musa do veneno”, em razão de seu apoio ao uso maciço dos eufemisticamente chamados “defensivos agrícolas”; para a pasta de Direitos Humanos, uma fundamentalista e delirante (a tal que viu Jesus no pé de goiaba) que faria um talibã parecer um moderado filósofo; para a Justiça, o adepto da fraude, da mentira, o inimigo da lógica e do Direito.
Para ser ministro bolsonazista, é preciso: ser burro e/ou mal- intencionado; ser burro e/ou desonesto; ser burro e/ou preconceituoso. Convém muitíssimo (conta muitos pontos na escala bolsonazista) ter uma ficha de arbitrariedades cometidas contra o “Comunismo”, contra negros, índios, gays, minorias.
Assim, o capitão deformado (quer dizer: reformado) vai se preparando para cumprir o seu papel de sabotador do Brasil, um país que, como dizia Brizola, poderia ter um “destino próprio”.
Eu avisei.

2 comentários:

Unknown disse...

Difícil avisar a quem não quer escutar. Difícil fazer ver aqueles que não querem ver. Difícil fazer entender aqueles que cultuam a própria ignorância adquirida nas mídias manipuladoras. Difícil salvar aqueles que cometem suicídio induzido pela própria ignorância.

Unknown disse...

Os ingnorrantes não procuram entender são ingratos e condena sem provas acreditando em mentiras malignas que acabam prejudicando a todos a te inocentes. Mas Deus o todo poderoso que fez o céu e a Terra e as fontes das aguas é o mar. Dará a recompensa a cada um que esta causando mal aos Brasileiros e as Nações JESUS no comando.