Nelson M. Mendes
Porque eu avisei. Eu alertei. Eu
expliquei, com base em registros históricos, que o brasileiro tinha sido
doutrinado a odiar qualquer sistema, qualquer país, qualquer pessoa que
pudesse, mesmo que remotamente, ter algo a ver com as ideias de “igualdade”, “distribuição”,
“compartilhamento”. Ou seja: no índex
brasileiro (não nos ocupemos de outros países onde ocorre o mesmo fenômeno)
estão o Socialismo, o Comunismo, muitos países onde esses sistemas jamais
vigoraram, de fato, e nomes como Marx, Fidel, Mao – e até Chávez, até Lula...
Eu expliquei, em vários textos
publicados no blog Satyagraha, que o
grande Sistema Capitalista já há muito entrou em fase terminal, e que tem
sobrevivido à custa de aparelhos: aparelhos diplomáticos, publicitários, políticos,
econômicos, militares. Expliquei também
que todo organismo ou sistema luta pela sobrevivência – isso é natural; e que,
no entanto, também é natural que todo organismo, sistema ou império tenha seu fim. E o fim do Capitalismo, com os
trajes neoliberais ou não, as máscaras do Neoliberalismo ou não, está próximo.
Como o nosso assunto é o Brasil, e como
é preciso repetir e repetir certas coisas até que elas sejam ouvidas e
compreendidas, vamos rememorar – sem ir para trás das fronteiras do século XX,
até porque só iríamos encontrar os mesmos fatos com vetusta feição.
Quando Getúlio Vargas (perfil ditatorial
e demais idiossincrasias à parte) foi perseguido, acusado de navegar num “mar
de lama”, era o Capital que agia; quando Jango foi deposto (golpe de 1964), foi
o Capital que agiu; quando, na primeira eleição presidencial depois da
ditadura, o fantoche Collor foi eleito, foi o Capital que agiu. Há quem garanta
que o próprio surgimento do PT foi obra maquiavélica do Capital: o “bruxo”
Golbery operou para que um novo partido de esquerda dividisse a oposição com o
partido de Brizola – esse, sim, o espectro temido pela direita.
Eu também expliquei que essa história de
“Fim da História” era o fim da picada; porque a ideia é a de que a humanidade
teria, com o Neoliberalismo, chegado a um sistema perfeito: não haveria mais
luta de classes, esse negócio de direita X esquerda era coisa do passado.
Eu insisti (embora reconhecendo que
clamava no deserto): dizer que não existe mais a antinomia direita/esquerda seria
como dizer que foi revogada a lei física de ação/reação. Disse exaustivamente
que o próprio Capitalismo já foi esquerda um dia.
Mas eu falava para as paredes.
Discursava no deserto.
Depois dos governos em que o
“esquerdista” Lula fez exatamente o que dele esperava o Capital, ainda que com
respeitáveis concessões às demandas sociais, vieram os governos de Dilma, que
também caprichou no cumprimento da cartilha neoliberal.
Mas Dilma não é Lula, a conjuntura
econômica mundial era menos favorável, os problemas econômicos começaram a
resultar em insatisfação popular. E o que aconteceu? O Capital, montado na sua
gigantesca máquina publicitária, tratou logo de capitalizar aquela insatisfação popular: como tinha feito com
Getúlio e Jango, inventou logo uma história de “corrupção”e, manipulando mídia,
Congresso e Judiciário, conseguiu que a “ladra comunista”(!) sofresse o
impeachment. Hoje está provado que o impeachment foi uma fraude, um golpe; o
objetivo era colocar no Planalto o boneco amestrado Temer, muito mais obediente
do que Dilma.
Todo mundo achou ótimo. Mas eu avisei.
Haveria eleições em 2018. Lula poderia
mais uma vez se candidatar. E as pesquisas mostravam que, apesar de
permanentemente alvejado por todas as armas do Capital (sobretudo a mídia),
Lula era o favorito disparado. Ganharia fácil.
O Capital não podia esmorecer; aí
inventou Moro. Inventou processos estapafúrdios, que envergonham para sempre a
Justiça brasileira – que, de resto, já tinha mesmo uma péssima fama.
O público já tinha sido empanturrado de fakenews adrede engendradas para
desqualificar Lula: seu filho seria dono de uma fazenda suntuosa, de uma
Ferrari de ouro, de um avião de ouro, da Friboi... O próprio Lula apareceu numa
capa fake da revista Forbes como um dos homens mais ricos do
mundo. O objetivo da campanha era claro: mostrar ao povo que, enquanto ele
sofria (agruras provocadas exatamente pelo Capitalismo...), Lula e família se
locupletavam e enriqueciam, fingindo que eram “socialistas”.
Mas convencer o público não bastava: era
preciso criar um fato jurídico, encarcerar Lula.
E aí entraram em cena algumas das
figuras mais risíveis da história brasileira: Sérgio Moro, Dallagnol... e os
indefectivelmente ignóbeis ministros do STF.
Eu também avisei: Lula está sendo vítima
de perseguição jurídica. Isso tem até nome: lawfare.
122 notáveis juristas escreveram um
livro – “Comentários a uma sentença anunciada – o processo Lula” – para provar
que o processo contra Lula era uma fraude. Um professor de lógica escreveu um
livro mostrando as incongruências, os absurdos, do ponto de vista lógico, da
sentença contra Lula; e recebeu o apoio público de quase trinta doutores em
Filosofia, Lógica, Matemática.
Mas nada disso adiantou. Como escrevi
num dos meus últimos posts no Facebook, “contra a burrice e o egoísmo, a
lógica, os fatos e os números são inúteis”. (Foi por isso que abandonei aquela
rede social. Não aguentava mais faceboorrice.)
Mais uma vez é preciso explicar: a
campanha do Capital em prol de seus interesses só funciona porque o povo tem
medo do “Comunismo”; por trás do medo do “Comunismo” estão a burrice (alhos são
confundidos com bugalhos) e o egoísmo (repulsa à ideia de compartilhar).
Com Lula encarcerado, uma vez perpetrada
uma das maiores fraudes jurídicas de que se tem notícia, cabia agora ao povo
fazer o que dele esperava o Capital: eleger Bolsonaro.
E quem era Bolsonaro? Bolsonaro tinha
sido pintado pela mídia como o paladino da anticorrupção. E a corrupção,
segundo a narrativa trombeteada pela mídia (mentindo sempre a serviço do
Capital), tinha nome: PT – Partido dos Trabalhadores. Se Collor fora o “Caçador
de Marajás” (os servidores públicos cujos altos salários seriam uma das principais
causas dos problemas brasileiros), Bolsonaro era o “Caçador de Petistas”.
O Petismo tinha sido fraudulentamente
associado a todas as mazelas brasileiras – que, segundo essa narrativa
falaciosa, eram produto da corrupção. (O que é a grande mentira brasileira. No
texto O lawfare que fere Lula, eu
escrevi: “O Delegado José Castilho, que foi boicotado na investigação do
Escândalo Banestado ao chegar perto da cúpula do governo FHC e do poder
econômico, declarou: 'Me é difícil conciliar o sono à noite, só de pensar nas crianças abandonadas. Por trás de tudo isso está a corrupção.' Inocência do delegado. A corrupção não é o grande problema. O principal problema brasileiro é a desigualdade. Para mantê-la, os poderosos iludem as massas, inclusive com a quimera da corrupção. Prestidigitação é isso. Enquanto o mágico chama a atenção do público para detalhes sem importância, um elefante se materializa no fundo do palco.")
Então o povo, que já tinha sido
doutrinado a odiar o “Comunismo” e o PT, resolveu (vergonha histórica!) apostar
no burro nazista: elegeu o capitão deformado (quer dizer: reformado) Jair Bolsonaro.
Neste fim de 2018 estamos ainda sob o governo
do títere Temer; mas a eleição e as declarações do burro nazista já tiveram
efeitos devastadores: a conferência sobre o clima que a ONU organiza
anualmente, e que em 2019 seria no Brasil (COP-25), foi transferida para
Santiago depois das declarações de Bolsonaro e de seu futuro chanceler, que é
contra o “alarmismo climático” e acha que as mudanças climáticas são um “dogma
marxista”(!); os médicos cubanos, que prestavam inestimável serviço nos cantões
perdidos do Brasil, fizeram as malas e foram embora.
Isso sem falar na escalação dos
ministros do futuro governo: para cuidar da economia, um incompetente que nem
percebeu ainda que o Neoliberalismo é um Titanic 95% naufragado; para o
Itamarati, um especialistas em gafes e asneiras diplomáticas; para a
agricultura, mulher conhecida como “musa do veneno”, em razão de seu apoio ao
uso maciço dos eufemisticamente chamados “defensivos agrícolas”; para a pasta
de Direitos Humanos, uma fundamentalista e delirante (a tal que viu Jesus no pé
de goiaba) que faria um talibã parecer um moderado filósofo; para a Justiça, o
adepto da fraude, da mentira, o inimigo da lógica e do Direito.
Para ser ministro bolsonazista, é
preciso: ser burro e/ou mal- intencionado; ser burro e/ou desonesto; ser burro
e/ou preconceituoso. Convém muitíssimo (conta muitos pontos na escala
bolsonazista) ter uma ficha de arbitrariedades cometidas contra o “Comunismo”,
contra negros, índios, gays, minorias.
Assim, o capitão deformado (quer dizer: reformado) vai se preparando para
cumprir o seu papel de sabotador do Brasil, um país que, como dizia Brizola,
poderia ter um “destino próprio”.
Eu avisei.
2 comentários:
Difícil avisar a quem não quer escutar. Difícil fazer ver aqueles que não querem ver. Difícil fazer entender aqueles que cultuam a própria ignorância adquirida nas mídias manipuladoras. Difícil salvar aqueles que cometem suicídio induzido pela própria ignorância.
Os ingnorrantes não procuram entender são ingratos e condena sem provas acreditando em mentiras malignas que acabam prejudicando a todos a te inocentes. Mas Deus o todo poderoso que fez o céu e a Terra e as fontes das aguas é o mar. Dará a recompensa a cada um que esta causando mal aos Brasileiros e as Nações JESUS no comando.
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