O real
projeto do governo do capitão
é a
barbárie social
Marcio Sotelo
Texto original:
https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/marcio-sotelo-o-real-projeto-do-governo-do-capitao-e-a-barbarie-social.html
Texto editado / NMM:
Texto editado / NMM:
A face hedionda do governo Bolsonaro
mostrou-se claramente: a reforma da previdência e o código Moro se
complementam.
A reforma da previdência
vai aprofundar a miséria da massa trabalhadora. Uma tal estrutura iníqua de
dominação não é mantida apenas com mecanismos ideológicos.
É preciso também a
violência do Estado para controle dos excluídos.
Essa é uma das
funções estruturais do direito penal e a realidade por trás da aparência do
Projeto Moro.
A extensão da
excludente de ilicitude para incluir “medo”, “surpresa” e “emoção”, na prática,
significa a legalização do homicídio para a polícia. Não atingirá quem mora no
Leblon ou nos Jardins.
O Estado neoliberal é grande para
punir, mas encolhe para ser utilizado como instrumento de acumulação.
A reforma da
previdência, a longo prazo, retira do Estado a função de gerir a previdência.
Assim, abre-se o
espaço para fundos privados, dominado por grandes grupos financeiros que passam
a controlar de acordo com a lógica do mercado uma massa formidável de recursos.
O resultado disso no Chile estamos vendo: suicídio de idosos.
O déficit da
previdência é a grande mentira do século 21, pelo menos até este ano da graça
de 2019. Ele simplesmente não existe.
É uma manobra
grosseira martelada incessantemente, dia e noite, pelos grandes órgãos de
comunicação.
Previdência, saúde
e assistência social compõem a seguridade social. Isto está no artigo 194 da
Constituição Federal.
As fontes de
financiamento dessas três áreas são Contribuições dos empregados e
empregadores, COFINS, PIS-PASEP, importações e até loterias.
Considerando essa massa
de recursos, a seguridade social tem superávit.
O que na verdade
sangra o orçamento da União é a dívida pública. É ela que suga a riqueza
produzida pelos trabalhadores para pagar juros e o serviço da dívida. Em 2018
foram dispendidos 380 bilhões de reais, algo entre 40 e 50% do orçamento da
União.
Parte dos recursos
para a dívida vem exatamente das fontes de financiamento da seguridade social que estão lá
no Art. 195 da Constituição e que deveriam apenas financiar a seguridade social.
Pelo mecanismo da DRU (Desvinculação de Receitas da União) esses recursos são
utilizados também para a dívida pública.
Então, é preciso
diminuir as despesas com a Previdência para que o superávit das fontes de
receita da seguridade social esteja disponível para o pagamento dos juros e
serviço da dívida.
O ajuste fiscal de
que precisamos é outro. Lucros e dividendos, por exemplo, estão isentos de
Imposto de Renda.
A monstruosidade
aparece quando, em vez de tributar lucros, corta-se o Benefício de Prestação
Continuada, pago a idosos pobres com mais de 60 anos.
O ajuste fiscal
precisa ser feito para que o Estado possa oferecer saúde, educação, bens
sociais, investir, gerar empregos. Mas esses gastos estão congelados porque o
parasitismo financeiro precisa de recursos.
Mais e mais as
classes dominantes refestelam-se no capitalismo financeiro parasitário
provocando a desindustrialização.
Segundo dados do
IBGE, a indústria responde hoje por apenas 11 por cento do PIB, a menor desde
os anos 50.
A
desindustrialização gera um efeito tremendo na base da sociedade. Circulação de
ativos financeiros não produz riqueza real.
Pauperiza-se a base
da sociedade, que não tem como consumir, e constitui-se o círculo vicioso da
desindustrialização.
Nesse cenário, que
não abre qualquer perspectiva para os despossuídos, é preciso um xerife Moro
para manter essa pirâmide social lotando presídios.
Transcrevo parte de uma
entrevista de John Ehrlichman, assessor de Nixon:.
“A campanha de Nixon em 1968 e a Casa Branca, depois, tinham dois
inimigos: a esquerda contrária à guerra (do Vietnam) e os negros (…) Sabíamos
que não podíamos tornar ilegal ser contra a guerra ou ser negro, mas ao fazer
com que as pessoas associassem aos hippies a maconha e aos negros a heroína, e
penalizar severamente ambas as substâncias, podíamos deter seus líderes,
realizar incursões em suas casas, interromper suas reuniões e difamá-los noite
após noite nos noticiários. Sabíamos que estávamos mentindo sobre as drogas?
Claro que sim”.
É uma confirmação
empírica do conceito de direito penal como meio de dominação pelo controle da
massa de excluídos.
O endurecimento das
leis penais é tanto maior quanto maior a desigualdade e a irracionalidade da
estrutura social. É para isto que serve o Código Moro.
No governo do
capitão, as duas pontas do laço que vai apertar mais o pescoço da massa
excluída estão nas mãos de Guedes e Moro.
Pouco importa para
os setores beneficiados quem seja o presidente. Pouco importa que seja notoriamente
despreparado, com um comportamento fora da do padrão de normalidade psicológica.
O caos e as trapalhadas
desse governo somente incomodam essa elite se põem em risco a reforma da
previdência, vale dizer, o capitalismo parasitário.
Aí então editoriais
e colunistas irados passam uma carraspana no tresloucado presidente e deixam
nas entrelinhas a ameaça de apeá-lo do poder. E eles o farão se realmente o
trapalhão se revelar incapaz de conduzir a reforma que eles querem.
Bolsonaro é uma
sombra. O real é esse projeto de acumulação e consequente pauperização da massa
e seus condutores são de verdade o poder hoje. O real é esse projeto de
barbárie social.
MARCIO SOTELO
FELIPPE é advogado e foi procurador-geral do Estado de São Paulo. É mestre em
Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP
Um comentário:
Este é um movimento mundial depois que demoliram o socialismo no mundo. Mas acredito no poder da dor. O sofrimento dará às massas a consciência necessária para se levantarem contra a opressão. Foi assim e assim será. Aí vale a máxima quanto pior, melhor.
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