sábado, 20 de abril de 2019

O Boçalnarismo Arrependido


O bolsonarismo arrependido já começou nas classes populares



Texto original:

http://www.ihu.unisinos.br/588449-o-bolsonarismo-arrependido-ja-comecou-nas-classes-populares



Texto editado / NMM:

 

Eis o artigo artigo publicado por The Intercept, 15-04-2019.


Vale retomar o que escrevi em minha coluna de 29 de outubro, logo após a vitória de BolsonaroOs eleitores de Bolsonaro foram movidos por onda de contágio que foi espalhando medo e uma esperança de mudança radical. É muita expectativa popular para pouco projeto. Isso não dará certo.

De novembro de 2016 a novembro de 2018, numa pesquisa etnográfica, percebemos que, conforme a eleição se aproximava, a adesão a Bolsonaro se transformava em um movimento emocional.

Até poucos meses antes da eleição, os eleitores de baixa renda eram jovens desempregados que se sentiam ameaçados pelo feminismo emergente na escola; ou homens brancos, dos 30 aos 50 anos, com trabalho precário. Nas motivações de voto, o desalento econômico se misturava a uma crise na masculinidade. Homens estavam desempregados, endividados, tinham um desejo íntimo de portar uma arma para se proteger das muitas ameaças — reais e imaginárias — que desestabilizam a ordem do mundo.

No final do período eleitoral, as pessoas falavam que votariam em Bolsonaro por causa da corrupção, para varrer comunismo, tirar o PT, conseguir emprego, melhorar a economia, ter segurança na escola do filho, matar bandido, mamadeira de piroca, ditadura gayzista, evitar invasão alienígena, resolver a unha encravada. Tudo. Tudo o que chegava pelo WhatsApp.

As pessoas apoiavam Bolsonaro pelos mais variados motivos. Muitas pessoas perguntavam: “ué, mas tem outro candidato?”A grande maioria de eleitores no final do processo achava que Bolsonaro não era uma opção ideal, mas que, ao menos, colocaria ordem na casa.

Tendo em vista esses perfis de eleitores, é evidente que a desilusão bateria logo na porta, pois foi uma esperança projetada sobre o nada.

Os estratos esmagados


Há uma significativa desilusão bolsonarista  justamente entre os estratos sociais que ganham de 2 a 5 salários mínimos. Em um artigo irretocável, Laura Carvalho mostra que, de 2014 a 2018, o PT perdeu adesão entre as camadas que sentiram a crise econômica de forma brutal.

Laura Carvalho acredita que o peso da insegurança econômica foi preponderante no Brasil, diferentemente da eleição de Trump nos Estados Unidos, em que o fator “preconceito” foi decisivo. Sem dúvidas, o peso econômico foi imenso, um ponto de partida que mostrou luz no fim do túnel para homens desesperados. Mas também entendo que a dicotomia economia/moral tem se demonstrado falsa.

Ainda que a penúria econômica tenha dado o primeiro pontapé entre os eleitores que se sentiam desamparados socialmente, o conservadorismo, o fundamentalismo religioso, a crise política, as fake news e o fator de “efervescência social” do final das eleições arrastaram milhões de eleitores na onda de contágio. [O editor – NMM – acrescentaria a tudo isso a burrice e o egoísmo.]

Agora, os eleitores começam a pular fora do barco.

Desilusão de baixo para cima


O clima de esperança parece ter cedido lugar ao desânimo.
O grupo da “masculinidade machucada” pela crise econômica não viu ainda a situação de emprego melhorar e tampouco sentiu os efeitos práticos do decreto presidencial de facilitação da posse armas. Acima de tudo, o trabalhador precarizado quer segurança e renda. E estamos muito longe de ver isso acontecer.

Aqueles que votaram por falta de opção voltaram ao lugar comum “de que político é tudo uma bosta”.

Ainda há aqueles eleitores que estão esperando sentados a tal da ordem na casa.

bolsonarista arrependido não é confesso. Mas ele reconhece o caos do país e já colocou Bolsonaro na vala comum do político ruim.

Um dos erros na avaliação do bolsonarismo é acreditar em tudo que se vê na internet, na malha de ódio da extrema direita. Os trolls possuem presença robusta na rede e fazem grande barulho. Quando eles são sujeitos de carne e osso — e não robôs —, representam uma pequena parte do eleitorado, um número insignificante perto de todo o resto que aderiu ao projeto por frustração na onda de contágio.

O eleitor não fanático até pode ter achado graça do personagem. Mas num país em crise como o Brasil, as trapalhadas do presidente terão cada vez menos apelo se não vierem com mudanças. Bolsonaro foi eleito por uma grande parte do eleitorado popular que cultiva no imaginário a ideia do pulso firme. Mas o que esse eleitorado tem visto é despreparo, mandos e desmandos via rede social e guerra de vaidades entre os membros do PSL. Sem um projeto de governo e passando o tempo preocupado com temas distantes do povo — de Cuba a Israel —, a desilusão só tende a piorar.

Há uma tendência muito maior agora à descrença com a democracia representativa e a política institucional.

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