quinta-feira, 4 de julho de 2019

Cretinices neoliberais


Texto original publicado por Alexandre de Oliveira Périgo no Facebook em 02/07/2019.
Texto editado / NMM:

Em geral a argumentação neoliberal só se sustenta ao ser repetida à exaustão pela grande imprensa, no melhor estilo Goebbels.
Listo quatro de minhas falácias neoliberais prediletas a seguir.
A primeira delas é que um estado enxuto é moderno, gasta pouco e é incorruptível; essa alegação desonesta serve tão somente para justificar a liquidação das estatais estratégicas para o país, seja porque desenvolvem tecnologia emancipatória, seja porque são responsáveis proteção social aos menos favorecidos. Eficiência e probidade não estão relacionadas ao tamanho de uma organização. E a corrupção está muito longe de ser mácula exclusiva das empresas públicas. Trabalho prestando serviços em grandes empresas há mais de vinte e cinco anos. A diminuição do estado e os cortes de verbas em empresas públicas apenas sucateiam os serviços e estimulam a corrupção. As maiores economias estão em pleno processo de reestatização - França e Inglaterra são exemplos claros disso. Por fim, nosso estado não é "inchado"; ao contrário, precisamos de mais funcionários públicos em diversas áreas, como educação e saúde.
Outra asneira neoliberal é aceitar a máxima mercantil de que toda organização é orientada para o lucro como sendo aplicável também para o estado. As empresas estatais não visam lucro, mas bem-estar e desenvolvimento.
A terceira cretinice neoliberal é a da meritocracia, que prega que qualquer pessoa com seu esforço pessoal pode obter sucesso; seus desdobramentos são o aumento do número de casos de depressão advinda do fracasso pessoal - uma verdadeira epidemia nacional. É desonesto admitir que pessoas partindo de realidades tão distintas possam obter sucesso apenas com o próprio esforço. Considero um crime a grande mídia usar casos isolados de sucesso pessoal como se fossem regra: quando Luciano Huck entrevista na televisão aquele negro pobre que, superando todas as dificuldades, tornou-se médico, o objetivo é transformar essa exceção em regra; nada mais cômodo do que colocar a responsabilidade da pobreza nas costas do cidadão desvalido, mantendo os alicerces do sistema que promove as desigualdades absolutamente intocados.
Deixei por último o mito do livre mercado. Nenhum neoliberal dorme sem rezar a cartilha da "autorregulação do mercado através de sua mão invisível", não é mesmo? Pois essa linha de raciocínio não passa de estratégia imperialista para manutenção da dominação do terceiro mundo. É só pesquisar: nenhum país na Terra é mais protecionista que os Estados Unidos. E o mesmo se passa com a União Européia. Eu fico a imaginar a cara, por exemplo, de um gerente de uma empresa transnacional fabricante de veículos e que comemorou essa medida de Bolsonaro no momento em que seus patrões decidirem que, uma vez que não existirá mais taxação entre os países da UE e do Mercosul, é melhor fabricar aquele sistema de freios veicular na planta da Eslovênia que na de São Caetano. Restará como consolo ao ex-gerente comer seu diploma de engenheiro e trabalhar como boia-fria numa lavoura de bananas.
Por que escrevo tudo isso? Porque é nosso papel cotidiano refutar essa ladainha neoliberal para que os mais incautos abram os olhos; podemos não conseguir, mas devemos morrer tentando.

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