Texto original:
A Globo está tendo trabalho para
desconstruir o monstro que ela mesma pariu
21 de janeiro de 2021, 07:07 h
Jair de Souza
Economista formado pela UFRJ,
mestre em linguística também pela UFRJ
Texto editado / NMM:
Por quase 30 anos, Bolsonaro andou perambulando entre o baixo clero parlamentar, defendendo os interesses de milicianos, cuidando de garantir uma boquinha na política para cada um de seus filhos.
Sua presença e projeção em termos de política geral
não ia além das declarações em favor da tortura e de torturadores.
No entanto, tudo mudou a partir do momento em que a
rede Globo e o conjunto das elites vinculadas aos interesses financeiros e
imperialistas tomaram a decisão de eliminar o protagonismo do PT para que elas
voltassem a assumir diretamente o controle do governo da nação, que haviam
perdido em 2002.
Num primeiro momento, acreditavam que logo
encontrariam algum nome de sua confiança .
Mas, nenhum dos nomes cogitados conseguiu emplacar e se tornar o pólo de
atração dessas massas que eles tinham atordoado em suas furibundas campanhas de
ódio. Não foi possível sustentar nem o nome de Aécio, nem o de Alckmin,
nem nenhum outro.
É provável que, naquele momento, o único ser confiável fosse o juiz Sérgio Moro, que havia
sido objeto de uma tremenda campanha de endeusamento publicitário capitaneada
pela rede Globo e acompanhada por todos os outros integrantes da corporação
midiática. No entanto, seria muito arriscado retirá-lo da importantíssima
função que ele estava exercendo naquele momento. Só ele tinha demonstrado ter
suficiente falta de pudor para decidir sem nenhuma base legal eliminar do jogo
político o candidato que despontava como o preferido em todas as enquetes de
opinião realizadas, em outras palavras, eliminar Lula do pleito eleitoral.
Sendo assim, à rede Globo e ao conjunto das elites
do dinheiro não lhes restou outra alternativa senão investir no nome de Jair
Bolsonaro.
E foi assim que a rede Globo, a elite financeira e
o grande capital imperialista decidiram dar à luz o “novo” Bolsonaro.
A Globo e seus aliados
midiáticos demonstraram ter um elevado nível
de competência, capaz de transformar um dos politiqueiros mais desprezíveis e
abomináveis de nossa história em um ser alheio às práticas de corrupção e
banditismo tão características do baixo clero parlamentar e das milícias com os
quais ele sempre esteve envolvido .
Mesmo dispondo de entrevistas realizadas por eles
mesmos, nas quais Jair Bolsonaro expunha tudo o que ele sempre significou, a
rede Globo e seus aliados preferiram fazer de conta que não sabiam de nada. Ou
seja, valia tudo para derrotar Lula e o PT.
Enquanto pôde se dedicar exclusivamente às medidas
do agrado de seus patrocinadores (eliminação das leis da CLT, reforma
previdenciária e fim das aposentadorias, redução dos investimentos em saúde e
educação, etc.), o apoio das elites ao governo Bolsonaro seguia de vento em
popa. Pelo menos era assim que a rede Globo e o resto da mídia corporativa dava
a entender.
Entrega do pré-sal às multinacionais,
desmantelamento da Petrobrás, destruição de nossa indústria naval,
aniquilamento de nossas maiores empresas de engenharia, milhões de novos
desempregados como consequência disto... Nada abalava a confiança da rede
Globo, do resto da mídia corporativa e do mercado em Jair Bolsonaro e em seu
fiel escudeiro Paulo Guedes.
No entanto, apareceu algo novo para aguar a festa
da rede Globo e de uma parte do capital rentista (uma parte, é bom deixar
claro, não de todo): a pandemia da covid-19.
Com a maneira monstruosa
como Bolsonaro está lidando com a pandemia, ficou quase impossível, para a rede
Globo e para vários outros grupos, continuar sustentando
uma boa imagem de Bolsonaro.
Está mais do que claro que a rede Globo, seus
aliados da corporação midiática, e o conjunto dos capitalistas financeiros não
estão nem um pouco chateados pela elevadíssima taxa de desemprego existente,
também não pela desarticulação do movimento sindical, menos ainda pela
privatização da Petrobrás, ou pela falta de recursos aos programas assistenciais
para as populações carentes. Não, nada disto. Nesse tipo de coisas, eles estão
inteiramente afinados com Bolsonaro e seu governo.
Neste momento, por questões relacionadas com o
descaso de Bolsonaro com a pandemia de covid-19, a Globo quer descontruir a imagem
de Bolsonaro. Esta vai ser uma tarefa dura para seus especialistas em
marketing.
A desconstrução da imagem de Bolsonaro é imperativa
e necessária, mas essa desconstrução deve vir acompanhada da desconstrução da
imagem da própria rede Globo e de toda a corporação midiática que a acompanha
em sua trajetória.
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