quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Mídia renega o filho feio

 


Texto original:

https://www.brasil247.com/blog/a-globo-esta-tendo-trabalho-para-desconstruir-o-monstro-que-ela-mesma-pariu

 

A Globo está tendo trabalho para desconstruir o monstro que ela mesma pariu

21 de janeiro de 2021, 07:07 h 

Jair de Souza

Economista formado pela UFRJ, mestre em linguística também pela UFRJ

 

 

Texto editado / NMM:

Por quase 30 anos, Bolsonaro andou perambulando entre o baixo clero parlamentar, defendendo os interesses de milicianos, cuidando de garantir uma boquinha na política para cada um de seus filhos.

Sua presença e projeção em termos de política geral não ia além das declarações em favor da tortura e de torturadores.

No entanto, tudo mudou a partir do momento em que a rede Globo e o conjunto das elites vinculadas aos interesses financeiros e imperialistas tomaram a decisão de eliminar o protagonismo do PT para que elas voltassem a assumir diretamente o controle do governo da nação, que haviam perdido em 2002.

Num primeiro momento, acreditavam que logo encontrariam algum nome de sua confiança . Mas, nenhum dos nomes cogitados conseguiu emplacar e se tornar o pólo de atração dessas massas que eles tinham atordoado em suas furibundas campanhas de ódio. Não foi possível sustentar nem  o nome de Aécio, nem o de Alckmin, nem nenhum outro.

É provável que, naquele momento, o único ser confiável fosse o juiz Sérgio Moro, que havia sido objeto de uma tremenda campanha de endeusamento publicitário capitaneada pela rede Globo e acompanhada por todos os outros integrantes da corporação midiática. No entanto, seria muito arriscado retirá-lo da importantíssima função que ele estava exercendo naquele momento. Só ele tinha demonstrado ter suficiente falta de pudor para decidir sem nenhuma base legal eliminar do jogo político o candidato que despontava como o preferido em todas as enquetes de opinião realizadas, em outras palavras, eliminar Lula do pleito eleitoral.

Sendo assim, à rede Globo e ao conjunto das elites do dinheiro não lhes restou outra alternativa senão investir no nome de Jair Bolsonaro.

E foi assim que a rede Globo, a elite financeira e o grande capital imperialista decidiram dar à luz o “novo” Bolsonaro.

A Globo e seus aliados midiáticos demonstraram ter um elevado nível de competência, capaz de transformar um dos politiqueiros mais desprezíveis e abomináveis de nossa história em um ser alheio às práticas de corrupção e banditismo tão características do baixo clero parlamentar e das milícias com os quais ele sempre esteve envolvido .

Mesmo dispondo de entrevistas realizadas por eles mesmos, nas quais Jair Bolsonaro expunha tudo o que ele sempre significou, a rede Globo e seus aliados preferiram fazer de conta que não sabiam de nada. Ou seja, valia tudo para derrotar Lula e o PT.

Enquanto pôde se dedicar exclusivamente às medidas do agrado de seus patrocinadores (eliminação das leis da CLT, reforma previdenciária e fim das aposentadorias, redução dos investimentos em saúde e educação, etc.), o apoio das elites ao governo Bolsonaro seguia de vento em popa. Pelo menos era assim que a rede Globo e o resto da mídia corporativa dava a entender.

Entrega do pré-sal às multinacionais, desmantelamento da Petrobrás, destruição de nossa indústria naval, aniquilamento de nossas maiores empresas de engenharia, milhões de novos desempregados como consequência disto... Nada abalava a confiança da rede Globo, do resto da mídia corporativa e do mercado em Jair Bolsonaro e em seu fiel escudeiro Paulo Guedes.

No entanto, apareceu algo novo para aguar a festa da rede Globo e de uma parte do capital rentista (uma parte, é bom deixar claro, não de todo): a pandemia da covid-19.

Com a maneira monstruosa como Bolsonaro está lidando com a pandemia, ficou quase impossível, para a rede Globo e para vários outros grupos, continuar sustentando uma boa imagem de Bolsonaro.

Está mais do que claro que a rede Globo, seus aliados da corporação midiática, e o conjunto dos capitalistas financeiros não estão nem um pouco chateados pela elevadíssima taxa de desemprego existente, também não pela desarticulação do movimento sindical, menos ainda pela privatização da Petrobrás, ou pela falta de recursos aos programas assistenciais para as populações carentes. Não, nada disto. Nesse tipo de coisas, eles estão inteiramente afinados com Bolsonaro e seu governo.

Neste momento, por questões relacionadas com o descaso de Bolsonaro com a pandemia de covid-19, a Globo quer descontruir a imagem de Bolsonaro. Esta vai ser uma tarefa dura para seus especialistas em marketing.

A desconstrução da imagem de Bolsonaro é imperativa e necessária, mas essa desconstrução deve vir acompanhada da desconstrução da imagem da própria rede Globo e de toda a corporação midiática que a acompanha em sua trajetória.

 

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