Nelson M.
Mendes
O mundo
está mudando.
A frase é
banal, e certamente foi pronunciada nos mais variados contextos históricos. Vivemos
um desses momentos.
O mundo
mudou quando o homem descobriu o fogo; quando inventou a roda; quando passou a fazer
cultivos e a criar animais; quando inventou a escrita; quando estabeleceu os
primeiros regimes de governo; quando passou pela Revolução Industrial; quando
ultrapassou a Revolução Industrial e entrou na atual espiral ascendente de
informação e tecnologia.
Uma coisa
não mudou muito: a motivação humana. Trata-se do que chamei de “egoísmo
basal”.
O
Capitalismo, cuja expressão doutrinária atual é a fraude chamada Neoliberalismo,
é a manifestação institucional desse egoísmo. Não custa repetir: os
manuais do Neoliberalismo estimulam os operadores econômicos a usar seu “animal
spirit” (espírito animal); e o lema de Wall Street é “Greed is good” (A cobiça
é boa).
Leonardo
Attuch, o capitão Kirk da nave 247, ao falar dos novos ventos que, neste 2021,
sopram no Brasil e no mundo, trazendo os perfumes da democracia, da justiça e
da verdade, pergunta, com um sorriso de cético esperançoso, se não estaríamos
entrando num período como a mítica “Era de Aquário”.
Os
estudiosos divergem sobre isso: alguns acham que já há vários anos estamos na
Era de Aquário; outros, que ainda não entramos nela. Há ainda aqueles,
obviamente, para quem “Era de Aquário” é apenas um nome poético para expressar
o eterno sonho humano com a utopia.
De
qualquer modo, acreditava-se que a Era de Aquário seria apenas um parêntese de
luz na trevosa Kali Yuga dos hindus, prevista para durar 432 mil anos,
dos quais teríamos percorrido pouco mais de 5100. Entretanto, o sábio Sri
Yukteswar esclarece que esses números estão totalmente equivocados: Kali
Yuga (que dura apenas 1200 anos) já ficou para trás; estamos há mais de 300
anos na algo mais auspiciosa Dwapara Yuga.
Deus sabe
o que faz.
Essa é
outra frase banal, e que irrita aqueles que não aceitam que a responsabilidade do
homem por seus atos seja terceirizada. Trata-se de uma – com licença da má
palava – santa irritação. Não é preciso falar de tudo o que se fez e faz em
nome da religião.
Tudo é
uma questão de contexto, de perspectiva, de quem diz o quê. A mesma
frase tem um sentido profundo na boca de um sábio. O papel do ativista político
e do empreendedor social é afastar Deus da cena e focar na luta de
classes, combater preconceitos de qualquer ordem, condenar o uso das
instituições em favor da perpetuação das injustiças sociais. O papel do sábio é
dar razão ao ativista e ao emprendedor, mas lembrar que eles podem não estar
vendo a floresta por causa das árvores.
A nave
247, depois de atravessar céus turbulentos e sombrios, parece agora encontrar
atmosfera progressivamente mais tranquila e límpida. Quando o capitão Attuch
olha pela janelinha, ele vê a restauração da democracia na América Latina, o
declínio do nefasto império estadunidense, a aproximação de China e Rússia em
prol da construção de um mundo multipolar, a comprovação de que a presidente
Dilma sofreu um golpe, assim como a de que o ex-presidente Lula foi vítima da
maior fraude judicial da História. E vê também que o pior governo da história
do Brasil parece estar por um fio.
A nave,
ao contrário de outras muito mais poderosas e que vêm de longas jornadas, é
tripulada por pessoas de verdade. A palavra ‘verdade’, aqui, é o diferencial.
A chamada
mídia corporativa, ou hegemônica, é a voz do poder econômico transnacional; a
voz daquela minoria para quem o capital está acima do homem; para quem o importante
não é salvar vidas, mas garantir os lucros. Os principais colunistas dessa
mídia monopolista são pagos para mentir em favor do poder econômico; são os “mercenários
da plutocracia”, na definição do prêmio Nobel de economia Paul Krugman.
A mídia alternativa,
ou contra-hegemônica, trabalha exatamente na defesa da verdade e da justiça;
trabalha pelo todo da sociedade, em suma.
(Foi
bebendo nessas fontes independentes que este modesto articulista amador pôde escrever,
já em 2017 – muito antes da Vaza a Jato, portanto, – o ensaio “O lawfare que fere Lula”.)
A tripulação
da nave 247 é composta de pessoas que conhecem a empatia e sonham com a justiça,
o bem comum. E os passageiros são em sua imensa maioria do mesmo quilate. Satyagraha
(apreço pela verdade) manifesta-se não
apenas no modo como as notícias são dadas e analisadas (“informação é prata /
conhecimento é ouro”, diz a música de abertura da TV 247), como na amistosa informalidade
que prevalece nas transmissões. Não há bonecos eletrônicos, não há fantoches
leitores de teleprompter. Ora é o Paulo Moreira Leite que se ausenta
para pegar alguma coisa, deixando vazia a cadeira, ora é a Tereza Cruvinel que deixa
cair o celular, fazendo a imagem dar cambalhotas, ora é o gato de Dafne que se
desloca no fundo da cena.
A Dafne
da mitologia recusou o amor do melhor partido do Olimpo: Apolo. Preferia
correr livremente pelas florestas. Queria independência.
Dafne Ashton,
tripulante da nave 247, obviamente prefere circular pelos céus do
livre-pensamento, a encarcerar-se em gaiolas onde seria obrigada a piar
conforme a voz do dono.
A ninfa
247, como a homônima mitológica, transformou-se em árvore para fugir ao
assédio; mas uma árvore pródiga, que nos brinda com os frutos da verdade, da
justiça e da esperança.
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