domingo, 20 de julho de 2025

A turma (ou turba) da bufunfa

 


 

Texto original de Paulo Nogueira Batista Jr., em 18/07/2025

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Texto editado / NMM:

Não sei se vocês conhecem esse conceito econômico, talvez a única contribuição que fiz à literatura econômica.

A turma da bufunfa é um poderoso agrupamento de banqueiros, financistas, rentistas e empresários não-financeiros de grande porte, acolitados por economistas e jornalistas serviçais. É um grupo muito influente, que se dedica a acumular dinheiro, custe o que custar, ignorando na cara dura preocupações sociais e nacionais.

Nem são propriamente brasileiros, mas “cidadãos do mundo” no pior sentido da expressão.

São às vezes referidos como “Faria Lima” [rua que é centro financeiro de São Paulo e do Brasil]; mas essa designação é muito restrita para um fenômeno que tem alcance internacional. São outras vezes chamados de “mercado”; mas esse termo é muito neutro e não indica tratar-se de uma confraria sinistra e atuante.

Formam uma plutocracia nociva, capaz de desestabilizar países inteiros, até países grandes. Deixados soltos, são capazes de danificar o planeta, como estamos vendo no século 21, com a degradação ambiental, a pobreza, a desigualdade social e a instabilidade recorrente das economias financeirizadas do Ocidente.

Um leitor me sugeriu, certa vez, dar mais precisão à teoria e falar em “turba da bufunfa”; em vez de “turma”, que é uma palavra simpática.

A ala tupiniquim dessa turba é, além disso, estritamente subserviente aos Estados Unidos, e não tem nem vestígios de imaginação e criatividade.

Devo ressalvar que há importantes exceções a isso no meio financeiro ou com passagem por ele. Mas são casos isolados.

Um destacado integrante da turba da bufunfa

Um banqueiro ou especulador de grande porte olha os pobres mortais de cima para baixo.

Não lhe faltam ocasiões para soltar o verbo, não raro em mau português, salpicado desnecessariamente de termos em inglês. A própria linguagem é colonizada. O banqueiro pode até parecer um idiota. Mas sabe ganhar dinheiro, legal ou ilegalmente, geralmente, recorrendo a tráfico de influência, corrupção e evasão fiscal.

Dou um exemplo: Luís Stuhlberger é um destacado e respeitado integrante da turba da bufunfa local.

As suas opiniões, publicadas com destaque pelo jornal Valor (30 de maio, p. C3), contêm tudo que há de pior na turba da bufunfa.

Segundo ele, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre diversos itens e, em especial, sobre remessas de recursos para o exterior, foi um sinal de “perigo” e “assustador”.

A tributação das remessas para fora do país e outras medidas que penalizam a alta renda permitem, declarou ele, continuar subsidiando as classes menos privilegiadas.

O que pessoas como Stuhlberger querem é manter a liberdade para os movimentos de capital, uma das muitas heranças desastradas do governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo Stuhlberger, os controles de capitais deram errado em toda parte. Falso. Ao contrário, há casos notáveis de sucesso na aplicação de restrições à entrada e saída de capitais. Pode-se destacar Índia e China. [A excessiva liberdade financeira provocou crises gravíssimas, como a de 1929 e a de 2008.]

A China, um caso de sucesso estrondoso, mantém até hoje controles rigorosos sobre a movimentação transfronteiriça de capital. E não teria alcançado o que alcançou se tivesse aceitado o receituário neoliberal que vitimou e vitima até hoje diversas economias latino-americanas.

A Argentina é o exemplo mais espetacular, mas o Brasil também sofre desse problema. Liberdade para os capitais privados implica imobilizar, pelo menos em parte, as políticas monetárias, cambial e fiscal.

Economistas serviçais

As opiniões de um banqueiro ou financista, sobre questões macroeconômicas e macropolíticas, são acatadas na mídia, por burrice ou por interesses escusos, como perfeitamente válidas.

No entanto, nem sempre o capitalista financeiro quer se expor em público. Recorre então aos economistas do mercado. Contrata a peso de ouro, um ex-presidente ou ex-diretor do Banco Central, por exemplo, que passa a servir de porta-voz dos seus interesses, em público e nos bastidores.

Como sempre digo, a longa dedicação ao mercado parece provocar progressivo estreitamento do horizonte intelectual. O sujeito começa como economista promissor e termina como soldadinho de chumbo da turba da bufunfa.

É o que acontece com os que passam pela porta giratória do Banco Central.

Por antever possiblidades lucrativas, diversos economistas se dispõem a passar uma temporada no BC ou em outro setor da área econômica do governo, mesmo ganhando por um tempo salários relativamente baixos. Não importa. Terão futuro promissor, desde que dancem conforme a música enquanto lá estão. Depois, apoiados pela mídia tradicional, consolidam a “credibilidade” conquistada com subserviência. E, mais importante, embolsam a bufunfa.

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