Texto original de Paulo Nogueira Batista Jr., em
18/07/2025
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Texto
editado / NMM:
Não sei se
vocês conhecem esse conceito econômico, talvez a única contribuição que fiz à
literatura econômica.
A turma
da bufunfa é um poderoso agrupamento de banqueiros, financistas, rentistas
e empresários não-financeiros de grande porte, acolitados por economistas e
jornalistas serviçais. É um grupo muito influente, que se dedica a acumular
dinheiro, custe o que custar, ignorando na cara dura preocupações sociais e
nacionais.
Nem são
propriamente brasileiros, mas “cidadãos do mundo” no pior sentido da expressão.
São às vezes
referidos como “Faria Lima” [rua que é centro financeiro de São Paulo e do
Brasil]; mas essa designação é muito restrita para um fenômeno que tem alcance
internacional. São outras vezes chamados de “mercado”; mas esse termo é muito
neutro e não indica tratar-se de uma confraria sinistra e atuante.
Formam uma
plutocracia nociva, capaz de desestabilizar países inteiros, até países
grandes. Deixados soltos, são capazes de danificar o planeta, como estamos
vendo no século 21, com a degradação ambiental, a pobreza, a desigualdade
social e a instabilidade recorrente das economias financeirizadas do Ocidente.
Um leitor me
sugeriu, certa vez, dar mais precisão à teoria e falar em “turba da bufunfa”;
em vez de “turma”, que é uma palavra simpática.
A ala
tupiniquim dessa turba é, além disso, estritamente subserviente aos Estados
Unidos, e não tem nem vestígios de imaginação e criatividade.
Devo
ressalvar que há importantes exceções a isso no meio financeiro ou com passagem
por ele. Mas são casos isolados.
Um
destacado integrante da turba da bufunfa
Um banqueiro
ou especulador de grande porte olha os pobres mortais de cima para baixo.
Não lhe
faltam ocasiões para soltar o verbo, não raro em mau português, salpicado
desnecessariamente de termos em inglês. A própria linguagem é colonizada. O
banqueiro pode até parecer um idiota. Mas sabe ganhar dinheiro, legal ou
ilegalmente, geralmente, recorrendo a tráfico de influência, corrupção e evasão
fiscal.
Dou um
exemplo: Luís Stuhlberger é um destacado e respeitado integrante da turba da
bufunfa local.
As suas
opiniões, publicadas com destaque pelo jornal Valor (30 de
maio, p. C3), contêm tudo que há de pior na turba da bufunfa.
Segundo ele,
o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre diversos itens e,
em especial, sobre remessas de recursos para o exterior, foi um sinal de
“perigo” e “assustador”.
A tributação
das remessas para fora do país e outras medidas que penalizam a alta renda
permitem, declarou ele, continuar subsidiando as classes menos privilegiadas.
O que
pessoas como Stuhlberger querem é manter a liberdade para os movimentos de
capital, uma das muitas heranças desastradas do governo Fernando Henrique
Cardoso.
Segundo
Stuhlberger, os controles de capitais deram errado em toda parte. Falso. Ao
contrário, há casos notáveis de sucesso na aplicação de restrições à entrada e
saída de capitais. Pode-se destacar Índia e China. [A excessiva liberdade
financeira provocou crises gravíssimas, como a de 1929 e a de 2008.]
A China, um
caso de sucesso estrondoso, mantém até hoje controles rigorosos sobre a
movimentação transfronteiriça de capital. E não teria alcançado o que
alcançou se tivesse aceitado o receituário neoliberal que vitimou e vitima até
hoje diversas economias latino-americanas.
A Argentina
é o exemplo mais espetacular, mas o Brasil também sofre desse problema.
Liberdade para os capitais privados implica imobilizar, pelo menos em parte, as
políticas monetárias, cambial e fiscal.
Economistas
serviçais
As opiniões
de um banqueiro ou financista, sobre questões macroeconômicas e macropolíticas,
são acatadas na mídia, por burrice ou por interesses escusos, como
perfeitamente válidas.
No entanto,
nem sempre o capitalista financeiro quer se expor em público. Recorre então aos
economistas do mercado. Contrata a peso de ouro, um ex-presidente ou ex-diretor
do Banco Central, por exemplo, que passa a servir de porta-voz dos seus
interesses, em público e nos bastidores.
Como sempre
digo, a longa dedicação ao mercado parece provocar progressivo estreitamento do
horizonte intelectual. O sujeito começa como economista promissor e termina
como soldadinho de chumbo da turba da bufunfa.
É o que
acontece com os que passam pela porta giratória do Banco Central.
Por antever
possiblidades lucrativas, diversos economistas se dispõem a passar uma
temporada no BC ou em outro setor da área econômica do governo, mesmo ganhando
por um tempo salários relativamente baixos. Não importa. Terão futuro
promissor, desde que dancem conforme a música enquanto lá estão. Depois,
apoiados pela mídia tradicional, consolidam a “credibilidade” conquistada com
subserviência. E, mais importante, embolsam a bufunfa.
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