Ilustração:
NMM
Texto original
de Luís Pellegrini no Brasil247
Texto
editado / NMM:
No dia 22
último, a atual administração norte-americana anunciou que deixará a UNESCO,
uma agência da ONU que trabalha para promover a paz através da cooperação em
educação, ciência, cultura, comunicação e informação. É a mais importante
organização do mundo no gênero.
Entre os
motivos oficiais para a retirada:
•
Desalinhamento com a política “America First” – A UNESCO promove uma agenda
social e cultural considerada “divisiva” e “woke”, além de não refletir os
interesses nacionais dos EUA.
• Admissão
da Palestina como Estado-membro da UNESCO, em 2011 – decisão que, segundo eles,
alimenta um viés anti-Israel dentro da organização.
• Políticas
de diversidade por parte da UNESCO – Programas antirracistas e iniciativas de
gênero.
Trump já
havia rompido com a UNESCO no seu primeiro governo; e o país voltara para a
organização no governo Biden. Ao retirar os EUA de uma das principais
instituições internacionais dedicadas à cultura, educação e ciência, Trump
mostra desprezo pela construção coletiva do conhecimento e da memória global.
Trump também
abandonou o Acordo de Paris para o Clima, no exato momento em que o planeta
mais precisa de diálogo e colaboração.
Trump, durante
seu primeiro mandato (2017–2021) e no de agora, retirou os Estados Unidos de
várias parcerias e acordos de cooperação internacional: OMS (Organização
Mundial da Saúde), em plena pandemia da Covid-19; TPP-Transpacific, um
importante acordo comercial estratégico com 11 países da Ásia e Oceania; Acordo
Nuclear com o Irã; Pacto Global para Migração da ONU; Conselho de Direitos
Humanos da ONU. E abandonou vários acordos de Cooperação Científica e
Ambiental.
Chegamos
agora à fase exacerbada do “America First”, e a pergunta é: trata-se de
nacionalismo patológico ou de isolamento cultural?
A nação que
sempre se alimentou da imigração, da diversidade e da troca cultural tornou-se,
sob Trump e a retórica do “America First”, um bastião de resistência e ojeriza
contra tudo que cheira a pluralismo.
Ao
incentivar políticas anti-imigratórias, atacar minorias e promover um discurso
de “valores americanos tradicionais”, Trump não apenas dividiu a sociedade do
seu país, mas empobreceu a identidade nacional.
Trump também
promoveu cortes sistemáticos em instituições culturais e científicas, deslegitimou
universidades, cientistas e jornalistas – pilares fundamentais de qualquer
sociedade democrática e culturalmente vibrante.
Trump
afastou os Estados Unidos do convívio simbólico e político com outras nações
democráticas, em detrimento do cosmopolitismo construtivo.
Ao promover
uma cultura do medo, do ressentimento e da simplificação, Trump enfraqueceu os
EUA como potência cultural.
A
consequência é clara: os EUA, ao se isolar culturalmente, perdem sua capacidade
de liderar simbolicamente – e talvez, no futuro não distante, também econômica
e politicamente.
Por tudo
isso, Trump faz com que seu país corra o risco de tornar-se irrelevante. E o
que talvez seja o mais triste e importante, é que Trump não é uma exceção
passageira. Ele expressa um movimento profundo dentro da sociedade americana – um desejo de retorno ao passado, a um mito de
pureza e grandeza nacional. Mas, ao tentar se proteger do mundo, os EUA
arriscam deixar de pertencer a ele. O isolamento cultural de uma potência é
sinal claro de decadência e o primeiro passo para sua irrelevância histórica.
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