segunda-feira, 28 de julho de 2025

"America First", cultura por último: uma nação em declínio

 

 

Ilustração: NMM

 

Texto original de Luís Pellegrini no Brasil247

Texto editado / NMM:

No dia 22 último, a atual administração norte-americana anunciou que deixará a UNESCO, uma agência da ONU que trabalha para promover a paz através da cooperação em educação, ciência, cultura, comunicação e informação. É a mais importante organização do mundo no gênero.

Entre os motivos oficiais para a retirada:

• Desalinhamento com a política “America First” – A UNESCO promove uma agenda social e cultural considerada “divisiva” e “woke”, além de não refletir os interesses nacionais dos EUA.

• Admissão da Palestina como Estado-membro da UNESCO, em 2011 – decisão que, segundo eles, alimenta um viés anti-Israel dentro da organização.

• Políticas de diversidade por parte da UNESCO – Programas antirracistas e iniciativas de gênero.

Trump já havia rompido com a UNESCO no seu primeiro governo; e o país voltara para a organização no governo Biden. Ao retirar os EUA de uma das principais instituições internacionais dedicadas à cultura, educação e ciência, Trump mostra desprezo pela construção coletiva do conhecimento e da memória global.

Trump também abandonou o Acordo de Paris para o Clima, no exato momento em que o planeta mais precisa de diálogo e colaboração.

Trump, durante seu primeiro mandato (2017–2021) e no de agora, retirou os Estados Unidos de várias parcerias e acordos de cooperação internacional: OMS (Organização Mundial da Saúde), em plena pandemia da Covid-19; TPP-Transpacific, um importante acordo comercial estratégico com 11 países da Ásia e Oceania; Acordo Nuclear com o Irã; Pacto Global para Migração da ONU; Conselho de Direitos Humanos da ONU. E abandonou vários acordos de Cooperação Científica e Ambiental.

Chegamos agora à fase exacerbada do “America First”, e a pergunta é: trata-se de nacionalismo patológico ou de isolamento cultural?

A nação que sempre se alimentou da imigração, da diversidade e da troca cultural tornou-se, sob Trump e a retórica do “America First”, um bastião de resistência e ojeriza contra tudo que cheira a pluralismo.

Ao incentivar políticas anti-imigratórias, atacar minorias e promover um discurso de “valores americanos tradicionais”, Trump não apenas dividiu a sociedade do seu país, mas empobreceu a identidade nacional.

Trump também promoveu cortes sistemáticos em instituições culturais e científicas, deslegitimou universidades, cientistas e jornalistas – pilares fundamentais de qualquer sociedade democrática e culturalmente vibrante.

Trump afastou os Estados Unidos do convívio simbólico e político com outras nações democráticas, em detrimento do cosmopolitismo construtivo.

Ao promover uma cultura do medo, do ressentimento e da simplificação, Trump enfraqueceu os EUA como potência cultural.

A consequência é clara: os EUA, ao se isolar culturalmente, perdem sua capacidade de liderar simbolicamente – e talvez, no futuro não distante, também econômica e politicamente.

Por tudo isso, Trump faz com que seu país corra o risco de tornar-se irrelevante. E o que talvez seja o mais triste e importante, é que Trump não é uma exceção passageira. Ele expressa um movimento profundo dentro da sociedade americana – um desejo de retorno ao passado, a um mito de pureza e grandeza nacional. Mas, ao tentar se proteger do mundo, os EUA arriscam deixar de pertencer a ele. O isolamento cultural de uma potência é sinal claro de decadência e o primeiro passo para sua irrelevância histórica.


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