Nelson M. Mendes
Um bolsonazi brasiliensis insiste em que o Fascismo, “pelo menos na
parte econômica”, “é exatamente o que prega a esquerda no Brasil”. Isso nos faz
lembrar imediatamente dos bravos militantes virtuais que ousaram discutir com a
embaixada alemã sobre o significado político do Nazismo... Mas eu entendo o
“raciosuíno”, como diz um amigo: é que, tendo o Nazismo sido histórica e
inapelavelmente definido como coisa nefasta, do mal, para as mentes globotomizadas,
midiotizadas, ele só pode ser uma
coisa de esquerda.
O problema, o incômodo está
“na parte econômica”: os coxapaneleiros ou analfascistas, doutrinados há
décadas pela Fábrica de Zumbis, fazem questão de que o governo adote políticas econômicas ao gosto das
potências hegemônicas e da “oligarquia financeira anglo-americana”, como diz o
sábio e informadíssimo economista Adriano Benayon. Nem pensar em adotar algumas
medidas daqueles países nórdicos vermelhos!
Rezam todos ao Tio Sam no altar de Wall Street, o centro de um pensamento que
já resultou em crises dolorosas como as de 1929 e 2008.
De fato, o “medo vermelho”,
que analisei no texto Manual de autoajuda do iludido político II, é o que explica, em última instância, que muitas pessoas votem no candidato da extrema-direita (muitos
consideram ofensiva a expressão “burro
nazista” – que, na verdade, é até um eufemismo). O Nazismo propriamente dito
– o original, o verdadeiro – também cresceu e engordou porque muitos o consideravam
um escudo contra o “Comunismo”.
A questão é sempre essa: o
medo da esquerda, o medo da mudança. Alguns “mercenários da Plutocracia”
(expressão do prêmio Nobel “comunista” Paul Krugman) chegaram a sustentar que
não existe mais esquerda; chegamos ao “fim da História”; “there is no
alternative”. Ora, isso seria como dizer que a lei de ação/reação não opera
mais na Física. O próprio Capitalismo foi mudança, representou a esquerda um
dia!
Mas seu tempo já passou.
1% da população concentra 50% da riqueza mundial, e a tendência à concentração
continua. As três pessoas mais ricas do mundo têm riqueza equivalente à dos 48
países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas. E ainda tem gente achando
que “there is no alternative”. Que isso é avanço. Modernidade. Que o problema é
o “Comunismo” – um sistema que, de fato, nunca
foi implantado no mundo - informação
que também pode ser encontrada no Manual
de autoajuda II.
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Outra singularidade do bolsonazi brasiliensis típico é a
certeza irracional de que a mídia é “dominada pela esquerda”. Realmente, o
Estadão, a Folha, O Globo, a Veja e todas as grandes emissoras de TV
(principalmente a Globo) são redutos esquerdistas. Willian Bonner, Merval Pereira, Arnaldo
Jabor, Eliane Cantanhêde, Sardenberg, Mirian Leitão e muitos outros mercenários
são “vermelhos”. Ali Kamel, o poderoso chefão do jornalismo da Globo, é um
“comunista” inveterado, do tipo que come criancinhas entre baforadas de
charutos cubanos! Para o bolsonazi
brasiliensis, o burro nazista é “perseguido” unanimemente por essa imprensa
“vermelhista”, como dizia o inesquecível personagem Odorico Paraguaçu, criação
do imortal Dias Gomes. Recomenda-se a
leitura da seguinte entrevista: “Bolsonaro
só existe como opção visível por causa da Globo”.
Foi por me alarmar com uma
afirmação sobre o esquerdismo da
nossa imprensa, bem como sobre a perseguição
ao candidato nazista, e contestá-la, que fui acusado de “arrogância,
prepotência e falta de humildade, típicas da mentalidade esquerdista”. (Pausa
para rir.)
Este meu blog chama-se Satyagraha – termo que
significa “apreço pela verdade”. Desde que comecei a participar de debates na
Internet (primeiro nos chats, depois
nas redes sociais), muito antes de abrir o blog, eu sempre norteei minhas
participações por satyagraha. Incomodavam-me
as falácias, quando não as mentiras deslavadas. Por isso, quando li que a
imprensa “perseguia” o candidato construído em grande parte pela imprensa (como
foi Collor), eu tive de intervir.
E por causa disso fui acusado de ter “mentalidade esquerdista”
(o que certamente explica defeitos como arrogância, prepotência e muitos
outros). Por conta de minhas participações nas redes sociais, eu já fui acusado
de “petista” (ou “petralha”) e até de “comunista”. Nada disso é verdade, mas eu
consigo compreender os acusadores: é que a maioria das pessoas tem uma
tendência à simplificação, ao reducionismo; logo, se eu digo, baseado no
parecer de mais de 100 juristas e na avaliação de cerca de 30 doutores em
Filosofia, Lógica e Matemática, que Lula foi vítima de um processo fraudulento,
injusto, é porque eu sou a favor da corrupção e “petista” – ou até “comunista”.
Bem, eu confesso: sou esquerdista. Mas no sentido em que
Gandhi era de esquerda; Mandela era de esquerda; Luther King era de esquerda;
Leonado Boff é de esquerda; Cristo era de esquerda! (Alguém pode me mostrar
passagem bíblica em que Jesus aparece confraternizando com os poderosos e se
colocando contra o povo?)
Um comentário:
Texto excelente, mostra de forma transparente o nosso momento, e tudo de forma leve e ironizando como não existe outra forma, para descrever os trastes que ocupam o poder hoje no Brasil.
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