Nelson M.
Mendes
“Dentro
de todo ser humano há um vazio.”
E uma das
pretensões da arte é explicar e preencher esse vazio. No Paraíso não havia
poetas, músicos, pintores, escultores. Não havia nem agricultores!
Expulso
do Paraíso (ainda bem!), o homem viu-se cara a cara com o Vazio. Ele contempla o
sublime abismo de si mesmo; mas não sabe disso, e teme o abismo. E suas canções
ecoam na voragem do tempo.
O autor
destas reflexões precisa fazer uma confissão: não tenho cultura musical. Não
tenho bandas de rock prediletas, comprei dois ou três discos na vida. Por isso,
peço desculpas se vier a falar besteira.
Porque vou
ousar dizer que João Ninguém parece ter a genealogia de um Belchior, um Raul
Seixas; seria uma espécie de Renato Russo expurgado das neuroses do Planalto
Central. Ele critica a nossa opção civilizatória, questiona a vida urbana
alienante, insurge-se contra “a dura poesia concreta” (Caetano) de nossas
esquinas. Seu violão, em alguns momentos, lembra os violeiros na linha de
Renato Teixeira. Mas não há escapismo, não há romantismo rural em seu
trabalho: a crítica é pertinente, bem-vinda, mas esperançosa. “O lá é aqui
mesmo.”
Ao se
apresentar no pátio do Teatro Popular Oscar Niemeyer, no estilo “banquinho e
violão”, dentro do projeto Som na Cidade, João tinha como cenário a Baía
de Guanabara e um céu carregado, que parecia ilustrar em cinzas e negros a sua lúcida
vocalização.
Mas que
fique claro: não há rendição ao pessimismo, ao niilismo. Uma das funções da
arte, como dissemos, é preencher ou explicar o Vazio. A bordo de seu violão, João
flutua sobre ele, e deixa a mensagem inestimável:
“O mundo
precisa de mais pessoas mais felizes. Isso é apenas um toque.”
2 comentários:
Obrigado por ter assistido a minha apresentação, meu amigo. E muito obrigado pelas palavras também. Você deixou um recém-pai, já demasiadamente emotivo, ainda mais emocionado. ♥️🙏
Fantástica colocação! Muito bom o texto!
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