domingo, 30 de setembro de 2018

O pensamento do bolsonazi brasiliensis




Nelson M. Mendes






Um bolsonazi brasiliensis insiste em que o Fascismo, “pelo menos na parte econômica”, “é exatamente o que prega a esquerda no Brasil”. Isso nos faz lembrar imediatamente dos bravos militantes virtuais que ousaram discutir com a embaixada alemã sobre o significado político do Nazismo... Mas eu entendo o “raciosuíno”, como diz um amigo: é que, tendo o Nazismo sido histórica e inapelavelmente definido como coisa nefasta, do mal, para as mentes globotomizadas, midiotizadas, ele só pode ser uma coisa de esquerda.

O problema, o incômodo está “na parte econômica”: os coxapaneleiros ou analfascistas, doutrinados há décadas pela Fábrica de Zumbis, fazem questão de que o governo adote políticas econômicas ao gosto das potências hegemônicas e da “oligarquia financeira anglo-americana”, como diz o sábio e informadíssimo economista Adriano Benayon. Nem pensar em adotar algumas medidas daqueles países nórdicos vermelhos! Rezam todos ao Tio Sam no altar de Wall Street, o centro de um pensamento que já resultou em crises dolorosas como as de 1929 e 2008.

De fato, o “medo vermelho”, que analisei no texto Manual de autoajuda do iludido político II, é o que explica, em última instância, que muitas pessoas votem no candidato da extrema-direita (muitos consideram ofensiva a expressão “burro nazista” – que, na verdade, é até um eufemismo). O Nazismo propriamente dito – o original, o verdadeiro – também cresceu e engordou porque muitos o consideravam um escudo contra o “Comunismo”.

A questão é sempre essa: o medo da esquerda, o medo da mudança. Alguns “mercenários da Plutocracia” (expressão do prêmio Nobel “comunista” Paul Krugman) chegaram a sustentar que não existe mais esquerda; chegamos ao “fim da História”; “there is no alternative”. Ora, isso seria como dizer que a lei de ação/reação não opera mais na Física. O próprio Capitalismo foi mudança, representou a esquerda um dia!

Mas seu tempo já passou. 1% da população concentra 50% da riqueza mundial, e a tendência à concentração continua. As três pessoas mais ricas do mundo têm riqueza equivalente à dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas. E ainda tem gente achando que “there is no alternative”. Que isso é avanço. Modernidade. Que o problema é o “Comunismo” – um sistema que, de fato, nunca foi implantado no mundo  - informação que também pode ser encontrada no Manual de autoajuda II.
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Outra singularidade do bolsonazi brasiliensis típico é a certeza irracional de que a mídia é “dominada pela esquerda”. Realmente, o Estadão, a Folha, O Globo, a Veja e todas as grandes emissoras de TV (principalmente a Globo) são redutos esquerdistas.  Willian Bonner, Merval Pereira, Arnaldo Jabor, Eliane Cantanhêde, Sardenberg, Mirian Leitão e muitos outros mercenários são “vermelhos”. Ali Kamel, o poderoso chefão do jornalismo da Globo, é um “comunista” inveterado, do tipo que come criancinhas entre baforadas de charutos cubanos! Para o bolsonazi brasiliensis, o burro nazista é “perseguido” unanimemente por essa imprensa “vermelhista”, como dizia o inesquecível personagem Odorico Paraguaçu, criação do imortal Dias Gomes.  Recomenda-se a leitura da seguinte entrevista: Bolsonaro só existe como opção visível por causa da Globo”.  

Foi por me alarmar com uma afirmação sobre o esquerdismo da nossa imprensa, bem como sobre a perseguição ao candidato nazista, e contestá-la, que fui acusado de “arrogância, prepotência e falta de humildade, típicas da mentalidade esquerdista”. (Pausa para rir.)
Este meu blog chama-se Satyagraha – termo que significa “apreço pela verdade”. Desde que comecei a participar de debates na Internet (primeiro nos chats, depois nas redes sociais), muito antes de abrir o blog, eu sempre norteei minhas participações por satyagraha. Incomodavam-me as falácias, quando não as mentiras deslavadas. Por isso, quando li que a imprensa “perseguia” o candidato construído em grande parte pela imprensa (como foi Collor), eu tive de intervir.

E por causa disso fui acusado de ter “mentalidade esquerdista” (o que certamente explica defeitos como arrogância, prepotência e muitos outros). Por conta de minhas participações nas redes sociais, eu já fui acusado de “petista” (ou “petralha”) e até de “comunista”. Nada disso é verdade, mas eu consigo compreender os acusadores: é que a maioria das pessoas tem uma tendência à simplificação, ao reducionismo; logo, se eu digo, baseado no parecer de mais de 100 juristas e na avaliação de cerca de 30 doutores em Filosofia, Lógica e Matemática, que Lula foi vítima de um processo fraudulento, injusto, é porque eu sou a favor da corrupção e “petista” – ou até “comunista”. Bem, eu confesso: sou esquerdista. Mas no sentido em que Gandhi era de esquerda; Mandela era de esquerda; Luther King era de esquerda; Leonado Boff é de esquerda; Cristo era de esquerda! (Alguém pode me mostrar passagem bíblica em que Jesus aparece confraternizando com os poderosos e se colocando contra o povo?)

Um comentário:

CCOB disse...

Texto excelente, mostra de forma transparente o nosso momento, e tudo de forma leve e ironizando como não existe outra forma, para descrever os trastes que ocupam o poder hoje no Brasil.