Nelson M. Mendes
Amigo, você apresenta aí, nesses vídeos, três figuras – vou logo dizendo – que não merecem o menor respeito: 1) um jornalista que foi porta-voz de general-ditador, porta-voz da mentira durante a pandemia e que continua sendo porta-voz do nazismo nacional; 2) uma deputada bolsonazista; 3) um senador bolsonazista.
O vídeo narrado pelo jornalista nazista
e mentiroso repete o que muitos tentam há décadas: dizer que houve violência
“dos dois lados”, que os opositores à Ditadura eram tão cruéis como os
militares que a comandavam. O jornazista (o trocadilho não é meu) é o cara que disse, a respeito da Covid-19 (link do vídeo aqui): “Não existe doença que não tenha tratamento, meu Deus do
Céu. [...] Ou que não tenha prevenção. [...]” Em primeiro lugar, o jornazista
diz uma imbecilidade sem tamanho; porque existem muitas doenças sem
tratamento – inclusive Covid-19, que, como todas as gripes, tem tratamento apenas
sintomático. Ele fala do uso do “protocolo” contra o vírus: o tal “Kit Covid”,
que incluía Cloroquina, Ivermectina e mais alguns medicamentos. Mas já em 29 de
março de 2021 a UFMG (a exemplo de outras instituições e especialistas)
publicava que “é importante ressaltar que não há tratamento medicamentoso que comprovadamente previna ou cure a Covid-19. Pelo contrário, evidências
científicas mostram que além de não darem resultado, medicamentos do chamado
“Kit Covid” podem causar danos ao organismo.” Na verdade, pode-se ler a um
clique no Google: “Ivermectina é indicada para o tratamento de várias
condições causadas por vermes ou parasitas.” Já a Cloroquina é indicada
para o “tratamento da malária e amebíase hepática”, entre outras doenças. Nenhum
estudo científico sério associa Cloroquina e Ivermectina ao tratamento da Covid-19. Mas o bolsojornazista propagava essas mentiras sobre o milagroso “Kit
Covid”, e queria, como seu mestre Jair, que as pessoas se aglomerassem e se
contaminassem. A única solução era a vacina; mas o Jair Boçal Fascista recusou 11 vezes ofertas para compras da vacina. Primeiro, porque, como
sabemos, era negacionista, achava que a Covid-19 era uma “gripezinha”; depois,
porque era negocionista, isto é: queria fazer negócio, ganhar gordas
propinas na compra da vacina. Quando era informado do crescimento exponencial
das mortes pela Covid-19, respondia com deboche: “E daí? Não sou coveiro.”
Em outros momentos, provocava: “Parem de mimimi. Vão ficar chorando até
quando?” (Ele, entratanto, se tiver uma dor de barriga, é logo internado, sob
assistência de uma dúzia de médicos...)
Quando se alega que, durante a ditadura
inaugurada em 1964, a violência do regime era idêntica à dos que se rebelavam
contra ela, devemos lembrar a frase do líder negro americano Malcom X, que se
levantou contra a horrenda perseguição que sofriam os negros (eu ficava chocado
com as cenas que via na TV): “Não confunda a reação do oprimido com a
violência do opressor.” Mesmo uma pessoa pacífica pode reagir, por
impaciência ou desespero. Mas, para o cínico jornazista, a crueldade dos
militares, que sequestravam, torturavam e matavam equivalia à reação daqueles
jovens malucos que sonhavam com um país mais justo e com mais liberdade.
Eu era criança em 1964. E, como nunca
participei de qualquer movimento, não me interessava por política, nunca senti
os efeitos do regime que eu chamo (só eu chamo) de plutomilitar.
Explico: Plutocracia significa basicamente governo exercido pelos ricos, ou
para os ricos; e aquele era um regime militar, mas que representava os ricos –
inclusive os ricos estrangeiros...
Mas muita gente sentiu esses efeitos. As
pessoas eram arrancadas de casa sem explicações. E muita gente NUNCA MAIS
voltava para casa. Esse foi o tema do filme Ainda estou aqui, que
ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional. Até meu pai, que nunca teve
qualquer participação política, qualquer tipo de ativismo, se desfez de vários
livros que poderiam talvez ser considerados “subversivos”... (Bastaria que
tivessem capa vermelha!)
Só aos poucos a verdade vem aparecendo.
Primeiro, porque até o fim da Ditadura, em 1985, verdade nenhuma aparecia,
mesmo; depois, porque a grande mídia sempre fez o jogo dos poderosos e varria
tudo para debaixo do tapete. Quando houve o impeachment da presidente
Dilma (um golpe, como hoje o MUNDO TODO sabe), Jair Boçal Fascista, na época
deputado, dedicou seu voto pelo impeachment a Brilhante Ustra, um
conhecidíssimo torturador. Ora, esse cara torturava pessoas na frente dos
filhos, enfiava rato na vagina das mulheres sob tortura, praticava todo tipo de
barbaridades. Mas, para o Boçal Fascista, ele era herói. Aliás, Jair disse que
a ditadura matou pouco: “Tinha que ter matado uns trinta mil.” O Boçal
declarou, na Câmara (não a amigos num bar): “Se um dia eu tiver poderes para
tal, não vai ter um centavo para ONG, um centavo para qualquer órgão
relacionado a direitos humanos.” Entretanto, desde que a condenação do
Boçal Fascista começou a despontar como inevitável, ele e toda a sua corja, que sempre
sustentaram que “bandido bom é bandido morto”, passaram a falar em direitos
humanos; e em anistia – muito antes que de fato fosse condenado! O machão que
se disse favorável à tortura está agora posando de velhinho decrépito e
doente. (Mas vira de repente um atleta se puder concorrer à presidência – o que
é impossível, porque já em 2023 foi declarado inelegível pelo TSE.)
O golpe de 1964, supostamente para
evitar o “comunismo” no Brasil, teve participação ativa dos Estados Unidos.
Isso está mais do que documentado: existem até áudios em que o embaixador
americano no Brasil, Lincoln Gordon, conversava com autoridades americanas
sobre o assunto. Os Estados Unidos organizaram até a chamada “Operação Brother Sam”: uma esquadra (inluindo um porta-aviões) foi enviada para o
litoral brasileiro, a fim de apoiar o golpe plutomilitar (lembre-se de
que só eu uso esse termo) caso fosse necessário. Não foi: Jango, para evitar um
“banho de sangue”, aceitou a derrota e abriu caminho para os militares; que
depois promoveriam o banho de sangue mais covarde possível, porque contra
pessoas presas e sob tortura. Quando o regime plutomilitar já estava
instalado, alguém fez chegar ao presidente americano a informação de que
pessoas estavam sendo torturadas e mortas no Brasil. O presidente respondeu que
era bom, porque muitas pessoas mereciam morrer...
Esse general Augusto Heleno, que foi
condenado, juntamente com o Boçal Fascista e outros bandidos, por tentativa de
golpe de Estado, foi ajudante de ordens do general Sylvio Frota, que não queria
a “abertura democrática” promovida por Geisel. O cara era mais linha-dura que
Geisel, que ele achava “frouxo com os comunistas”! (Lembrando que qualquer um
podia ser acusado de “comunista”.) Heleno vem dessa tradição mais que fascista
– que é a mesma do Boçal. Fiquei sabendo, em editorial do site Brasil 247, que,
antes do movimento antidemocrático que o Boçal Fascista começou a comandar
praticamente desde que tomou posse em 2019, os militares tinham feito “onze intervenções” no país, sendo “a mais notória” a ditadura de 1964. Há duas
diferenças entre o golpe de 1964 e o de 2019/2023: o primeiro visava derrubar
um governo democraticamente eleito, e conseguiu; o segundo visava impedir
que um governo democraticamente eleito tomasse posse, e não conseguiu. (Assim
como Frota tentou derrubar Geisel, o “frouxo”, e não conseguiu.)
Todos esses caras do PL (e demais
partidos de direita ou do “centrão”) representam o desejo de um regime
ditatorial, a serviço dos super-ricos e dos Estados Unidos. (Você viu os
bolsonaristas, no sete de setembro de 2025, desfilando com uma gigantesca bandeira
americana?) E eles arrotam honestidade, mas são corruptos ao cubo. A família
Bolsonaro, em alguns anos, comprou 107 imóveis, 51 deles pagos em DINHEIRO VIVO. E isso foi
descoberto pelo UOL, que está muito, muito longe de ser um portal “comunista”.
Para comparar: Lula foi condenado sem provas no caso do apartamento
vagabundo no Guarujá, que nunca foi dele; assim como nunca foi dele o tal sítio
de Atibaia, que um amigo lhe emprestava de vez em quando. O livro Comentários
a uma sentença anunciada: o processo Lula traz artigos de 122 juristas,
mostrando os crimes que Moro, Dallagnol e toda a quadrilha de Curitiba
cometeram para que Lula fosse preso e impedido de concorrer em 2018. E o livro Falácias
de Moro, do professor de Lógica e Filosofia Euclides Mance, mostra os
absurdos, as falácias que Moro engendrou para culpar Lula. (Falácia é mentira
de máscara e gravata.)
Eu acho que foram os americanos que
inventaram não apenas o nome, mas a própria técnica do lawfare.
E acho que inventaram também a chamada guerra híbrida. Eu ia
tentar definir guerra híbrida; mas a definição do Google é perfeita: “A guerra
híbrida é um tipo de conflito não convencional que mescla táticas militares com
métodos não militares, como desinformação, ciberataques, interferência
eleitoral, guerra de propaganda e pressão econômica e diplomática, para
alcançar objetivos políticos sem recorrer a uma guerra aberta.” Esse filme já
passou e continua passando em várias partes do mundo. Inclusive, óbvio, no
Brasil. E sabe quem é o principal ator (tremendo canastrão) do filme, hoje? Um
certo Donald Trump, o Nero do século 21, um criminoso psicopata que, assim como
nosso Jair, jamais deveria ter chegado à presidência.
Como sabemos, a interferência dos
Estados Unidos no mundo não é nova. Aliás, os países poderosos sempre se
meteram em terras alheias. A História é um registro imenso de invasões,
guerras. O filósofo Krishnamurti lembrou
que foi encontrada um tijolo, no Oriente Médio, em que alguém tinha
escrito esperar que uma certa guerra fosse a última da história da humanidade;
o detalhe é que o tijolo tem 5 mil anos... A escravidão de povos era
praticamente a norma na Antiguidade. Pessoas das mais variadas culturas e cores
(não apenas negros e indígenas) eram
escravizadas. Mas, mesmo na passagem do século 19 para o 20, países europeus
exploravam colonialmente países pobres. No chamado “Congo belga”, sob domínio
do rei Leopoldo II, atrocidades impensáveis eram cometidas. Veja o que
encontrei na Internet: “No Congo de Leopoldo, o ato de decepar a mão ou o
braço dos nativos era comum quando eles não conseguiam cumprir suas cotas
de extração do látex para a produção de
borracha. Outros castigos físicos e torturas eram aplicados regularmente por
uma milícia (Force Publique) financiada pelo rei [...] no final do século XIX.”
Veja você: nós não estamos falando de Gengis Khan, de Calígula, de Átila, de
algum sanguinário chefe tribal da remota antiguidade: estamos falando do rei de
um prestigiado país da civilizada Europa dos nossos tempos.
Até ali pela primeira metade do século
20, quem mandava no mundo era a Inglaterra. Mas os EUA já vinham aparecendo
como player mundial; e, depois da Segunda Grande Guerra, assumiram o
posto de potência nº 1. E aí, claro, passaram a explorar com mais intensidade
os países que poderiam ter riquezas do seu interesse. Como o Brasil, por
exemplo – que, aliás, sempre teve elites dispostas a entregar o país ao
colonizador; elites representadas no Congresso por parlamentares como esses do
PL ou partidos semelhantes, e na mídia por jornazistas como o antigo
porta-voz de general-ditador.
Abaixo, no primeiro gráfico, aparecem as
intervenções dos EUA em outros países desde a Segunda Guerra Mundial; o Brasil
sofreu intervenção em 1964, quando se instalou a Ditadura, e em 2016, quando
Dilma sofreu o chamado golpe “jurídico, parlamentar e midiático”. (Faltou
mencionar a prisão ilegal de Lula, que também teve dedo americano!) No segundo
gráfico, à direita, são mencionados apenas os golpes de Estado propriamente
ditos – como aquele que Jair tentou e pelo qual pegou 27 anos de cadeia. Esses
gráficos mostram que os EUA se metem em todo canto. E continuam se metendo. E,
como podemos ver, com entusiástico e criminoso apoio de brasileiros, incluindo
gente com sobrenome do último general-ditador ou do pior presidente brasileiro
da História.
Encontro no Google: “Os Estados Unidos
mantêm centenas de bases militares [...] de 750 a 800 bases em mais de 80
países, embora o número exato possa ser mais elevado devido à falta de
publicação completa de dados pelo Pentágono.” Que outro país tem 800 bases
militares espalhadas pelo mundo? O mesmo Google (que é uma multinacional
americana) diz: “A Rússia mantém um número relativamente pequeno de bases
militares significativas no exterior [...]” E as bases são em geral nos países
que fizeram parte da antiga União Soviética; há no máximo uma ou outra no
Oriente Médio. Já a China possui umas três bases. E nem a Rússia nem a China
têm bases do outro lado do mundo...
Eu li, chocado (mas não surpreso), o
livro Confissões de um assassino econômico, do americano John
Perkins. A Amazon traz uma resenha: “Este livro narra uma história
verídica que expõe intrigas internacionais, corrupção e atividades pouco
divulgadas do governo americano e de grandes empresas multinacionais, com
consequências avassaladoras para a democracia e para o mundo como um todo.
[...]” O livro mostra os bastidores das operações mais sujas promovidas pelos
EUA para desestabilizar e até “assassinar” economicamente muitos países. O
autor diz, logo no prefácio: “Os impérios nunca duram para sempre. [...] Nenhum
país [...] pode subsistir a longo prazo pela exploração dos outros.”
Até as estrelas morrem; mas não morrem
em silêncio: elas explodem. O Google diz que esse é “um dos eventos mais
luminosos e violentos do Universo.” E o que está acontecendo com os Estados
Unidos?
No texto A burrice do fim do mundo, que escrevi em 2019, eu digo que “a ordem mundial,
predominantemente capitalista, deverá morrer devorando as próprias entranhas.”
E prossigo: “Todo organismo ou sistema apresentam, no seu fim, ‘arrancos de
cachorro atropelado’, como dizia Nelson Rodrigues [...]. O Capitalismo [...]
veio para legitimar aquilo que, em princípio, a civilização pretendia superar:
a ‘lei da selva’, o ‘direito’ que tem o mais forte de esmagar e expropriar o
mais fraco. [...] e os manuais do Neoliberalismo usam explicitamente a
expressão ‘instinto animal’ (animal instinct) em referência a uma
qualidade, uma competência que devem desenvolver os operadores econômicos. Obviamente, uma tal
proposta civilizatória é natimorta.”
O centro do Capitalismo – EUA/Europa
ocidental – está devorando as próprias entranhas. O emprego do “instinto
animal” só deu certo para uma elite insignificante de milionários e
bilionários. Nas ruas dos EUA, sobretudo (mas também na Europa), milhares de
desempregados caminham como zumbis, sob o efeito de fentanil. A decadência do
império salta aos olhos.
Enquanto isso, o Brasil, sem ter feito
nenhuma revolução, tem inflação controlada, baixíssimo índice de desemprego
(5,6%), está crescendo, na média, três vezes mais do que previam os economistas
que trabalham para o “mercado”; e está
resistindo garbosamente às pressões que o império decadente (mas ainda
poderoso) está fazendo contra o país. Trump, o Nero contemporâneo, tentou, em
parte instigado pelo traidor filho de ex-presidente miliciano e pelo traidor
neto de general-ditador, impedir que o Boçal Fascista fosse julgado pelo crime
de tentativa de golpe de Estado. Nero 21 então aplicou tarifas de 50% aos
produtos que exportamos para os EUA.
Além disso, cassou de algumas autoridades o visto de entrada nos EUA e
aplicou, contra ministros do STF, a Lei Magnitsky, que bloqueia bens que a pessoa possa ter nos
Estados Unidos, mas, mais que isso, pode bloquear também operações financeiras
que dependam de sistemas americanos; até um cartão de crédito de bandeira
americana (como Visa e Mastercard) poderia ser bloqueado. A lei tinha sido
criada, no governo Obama, para punir grandes criminosos – traficantes,
genocidas. Mas o Nero contemporâneo (que confessadamente acha que pode fazer o
que quiser, porque “sou o presidente dos Estados Unidos”), resolveu aplicar a
lei, inicialmente, contra Alexandre de Moraes (e mais tarde contra sua
esposa!), relator do processo que finalmente, em 11 de setembro de 2025,
condenou o Boçal Fascista a mais de 27 anos de prisão. Nero 21 queria que o presidente Lula
interviesse no STF para barrar o processo. Em julho de 2025, chegou a mandar ao
Boçal uma carta de solidariedade, em que diz: “This trial must end
immediately.” (“Esse julgamento deve terminar imediatamente.”) Ora, Lula não
tem qualquer poder sobre o STF (e, se tivesse, com certeza não agiria em favor
do Boçal Fascista). Nero 21 queria que Lula cometesse um crime! Como Lula se
manteve firme, Nero aproveitou o pretexto do julgamento do “Trump dos trópicos”
(como Jair é conhecido nos EUA) para atacar um dos tijolos do BRICS, o Brasil.
(Obviamente estou fazendo um trocadilho com ‘brick’, que é ‘tijolo’ em inglês.)
O que o pretenso “imperador do mundo”
deseja é impedir ou retardar a consolidação do chamado “mundo multipolar” – o mundo em que não há mais um
valentão mandando em tudo e em todos, e sim um conjunto de nações trabalhando
em paz pelo progresso global. É exatamente esse o objetivo do BRICS, de que
fazem parte, além do Brasil, entre os fundadores, também Rússia, Índia,
China e África do Sul. Muitos outros
países aderiram ao grupo mais tardiamente, na condição de efetivos ou
parceiros.
A alegação de Nero 21, para impor ao
nossos produtos tarifas de 50%, foi que a relação comercial com o Brasil era
injusta para os EUA. Ora, essa é mais uma das absurdas mentiras
inventadas por quem tem o poder – na linha da fábula O lobo e o cordeiro,
em que o lobo, embora estivesse rio acima, acusa o cordeiro de sujar a água que
o lobo estava bebendo. A verdade é que, nos últimos 15 anos, os EUA tiveram 410
bilhões de dólares de vantagem no comércio com o Brasil. Ou seja: a chamada
“balança comercial” é amplamente favorável aos EUA.
Como foi dito, assim como nenhuma
estrela morre sem fazer tumulto, o
império americano (aliás, título de
excelente livro do francês Claude Julien, publicado nos anos 70) está
esperneando, espumando, rosnando, mordendo; como um cachorro hidrófobo.
Além de taxar produtos brasileiros em
50% e aplicar sanções a algumas autoridades, especialmente ministros do STF,
Nero 21 demorou a conceder vistos de entrada nos EUA aos membros da delegação
brasileira que iriam com Lula à Assembleia Geral da ONU. O Ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, finalmente recebeu o seu – mas sob várias restrições à sua
movimentação nos EUA. Padilha, dignamente, se recusou a viajar.
E por que o Nero 21 colocou obstáculos à
entrada de Alexande Padilha? Porque ele, quando ocupou o mesmo cargo de
Ministro da Saúde no governo Dilma, criou o programa “Mais Médicos”, que enviou
médicos cubanos para cantões do Brasil aos quais médicos brasileiros não
queriam ir. (Detalhe: médicos cubanos realizam missões semelhantes no mundo
inteiro.)
Nero 21, autoritária e ilegalmente, já
havia negado o visto a Mahmoud Abas,
Presidente da Autoridade Palestina, cancelou também o visto do
presidente colombiano Gustavo Petro, que se manifestou contra o genocídio em
Gaza, e negou o da presidente do PSOL Paula Coradi, sem apresentar explicações.
Enfim, Nero 21 age exatamente como seu homônimo histórico.
Parece que, hoje, ter o visto de entrada
nos EUA negado é atestado de bons antecedentes!
Nero 21, com essas atitudes ilegais,
criminosas, está apressando o fim do império. Muitos analistas sustentam que os
EUA já são uma ditadura. Mas, para muitos historiadores e cientistas
políticos, eles estão apenas deixando claro o que sempre foram debaixo das
aparência e da propaganda. “Democracia aquilo nunca foi” – disse o
informadíssimo sociólogo e analista geopolítico Lejeune Mirhan. Hoje, no país
da “liberdade de expressão”, onde é possível marchar com uma bandeira nazista e
pregar a morte de negros, quem se manifesta contra o genocído praticado por
Israel contra os palestinos é espancado e preso. Nero 21 chegou a congelar o repasse de US$ 2 bilhões para a Universidade de Harvard, que permitiu
protestos estudantis pró-Palestina em 2024. Entendeu? Para Nero 21, perseguir
(e até matar) negros e latinos é tranquilo; mas falar mal de judeus sionistas,
que, sob comando do Hitler 21 (Netanyahu), estão cometendo um dos maiores e
mais covardes massacres de nossa era – ah, isso é um crime inaceitável. Se você
quiser ter uma ideia do massacre, dê uma olhada em O sionazismo e o verbo ‘judiar’, em que eu condenso cinco textos que mostram a situação
do ponto de vista humano.
Lula ignorou as pressões e rosnados do
Nero 21, abriu novos mercados, e as vendas brasileiras até aumentaram... O
julgamento da quadrilha que tentou dar o golpe está sendo considerado exemplar:
o mundo inteiro reconhece que a Democracia brasileira conseguiu fazer o que a
americana não fez; porque o presidente americano deveria ter sido condenado por
um crime semelhante ao cometido pelo Boçal Fascista que presidiu nosso país.
Pois bem: com todo o sucesso que está
tendo na condução do país, econômica e socialmente, com todo o prestígio
internacional, Lula tem índices de aprovação mais ou menos equivalentes aos de
desaprovação. Por quê? Não deveria Lula estar com algo como 87% de aprovação, como no fim do seu segundo mandato, em 2010? O povo é maluco?
desinformado? burro?
Talvez devêssemos responder, como nas
provas de antigamente: “Todas as respostas acima.”
As pessoas que participaram daquele
quebra-quebra em 8 de janeiro de 2023, que rezam para pneus ou para ETs, que
acham que o Brasil é governado por um dos cinco ou seis clones de Lula – essas
pessoas certamente são malucas.
Mas muitas pessoas não são tão insanas:
simplesmente odeiam Lula, odeiam o PT. Por quê? Elas não saberiam responder. Mas
eu sei: são décadas de propaganda contra o PT, contra qualquer político ou
partido que pense no povo. Conheço pessoalmente gente que odeia o PT sem saber
por quê. Há vídeos simplesmente hilários de pessoas entrevistadas em
manifestações da extrema-direita, apoiadoras do Boçal Fascista. Elas não
conseguem fazer uma frase com três palavras para explicar o que estão fazendo
na manifestação... Essas pessoas são desinformadas e/ou burras,
mesmo.
Muita gente acredita de fato que a Terra
é plana. 7% dos americanos acham que leite achocolatado é produzido por vacas marrons! Um amigo médico ouviu, num congresso, que 50% da população
brasileira tem deficiências cognitivas resultantes de desnutrição na infância.
Vamos simplificar: metade da população é deficiente mental porque não se
alimentou adequadamente (ou passou fome, mesmo) na infância.
Fico sabendo, pelo Google (a
enciclopédia e o oráculo da nossa era), que o Brasil ainda tem 9,1 milhões de
analfabetos; e que “29% das pessoas entre 15 e 64 anos são analfabetas
funcionais”, ou seja: não conseguem entender o que leem. Essa legião de
deficientes e analfabetos (reais ou funcionais) é o gado
que se deixa envenenar pelas mentiras (hoje conhecidas como fake news).
O Brasil tem tradição de fake news
– muito antes que a expressão existisse, muito antes que existisse a Internet.
As fake news (no feminino, porque traduzo como “notícias falsas”) são um
dos instrumentos usados pelo poder econômico transnacional para fazer valer
seus interesses. No texto “O caso Veja” e o ocaso da mentira,
baseado no livro do jornalista Luís Nassif, transcrevi uma passagem da revista
Veja, citada numa dissertação de mestrado, que mostra como a revista, já nos
anos 80, perseguia Lula: “[...] Em caso de vitória de Lula, existe a
possibilidade de elevação da temperatura social do país, com greves e invasões
de terras numa escala como nunca se viu.” Eu comento, na sequência: “Todos os
brasileiros minimamente informados sabem que a elevação produzida pelos
governos petistas foi a do nível socioeconômico do povo, de modo geral. Nem o
chamado ‘poder econômico-financeiro’ teve do que reclamar!”
Em anos mais recentes, as mais variadas
mentiras circularam sobre a Lula e o PT: que se Lula se viesse a ser
presidente, uma pessoa com um apartamento de dois quartos teria de dividir o
apartamento com um estranho; que o governo distribuiria nas escolas o “kit
gay”; que o PT tinha dado mamadeiras eróticas para as crianças; que o filho de
Lula tinha uma Ferrari de ouro e uma imensa fazenda (cuja foto, que circulou
nas redes sociais, era na verdade a da sede da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, em Piracicaba-SP); que Lula fecharia igrejas evangélicas... A
lista é imensa. Mas a mentira mais prestigiada é a do “Lula ladrão.”
Muitas mentiras, sobretudo as que
resultaram em processos contra Lula, foram construídas a partir de Washington.
(Não nos esqueçamos dos confessos “assassinos econômicos”, que são apenas um
dos muitos tipos de agentes do império usados para destruir e dominar outros
países.) Hoje não se tem mais dúvidas de que Moro e Dallagnol foram preparados
pelos EUA nas técnicas do lawfare. Muitos juristas apontavam que
absurdas ilegalidades estavam sendo cometidas pelo juiz de Curitiba – que, para
começo de assunto, jamais deveria ter sido indicado para aquele processo, uma
vez que o suposto crime do triplex não havia ocorrido em Curitiba. Mas nem
mesmo os juristas mais atentos e os jornalistas mais informados podiam imaginar
que o bicho era mais feio do que se pensava.
O hacker Walter Delgatti, que por
motivos pessoais havia começado a espionar mensagens de celular trocadas por
pessoas do meio jurídico, terminou descobrindo que Moro e Dallagnol estavam
articulando a condenação de Lula. Ou seja: o juiz, que deveria ser imparcial,
que só deveria agir a partir do trabalho do procurador, havia se transformado
em mais um procurador, mais um acusador. De fato, o juizeco de Curitiba dava
orientações sobre a investigação, e dizia a Dallagnol que entrasse com qualquer
medida judicial, por mais esdrúxula e ilegal que fosse, que ele avalizaria.
Capas de revista, muitas vezes,
apresentaram Moro como adversário de Lula. (Toda a grande mídia torcia para
Moro.) Uma delas chegou a mostrá-los como adversários num ringue de box! Ora,
juiz não pode ser adversário de ninguém: juiz tem que ler os autos, ouvir o réu, ouvir o
promotor, ouvir o advogado, ouvir as testemunhas, e, então, com base na lei,
decidir. Como sabemos, tudo o que Moro fez, em conluio com o igualmente mafioso
procurador Dallagnol, foi violar a lei. Lula tinha de ser impedido de concorrer
à presidência de qualquer jeito. O enredo do filme nós conhecemos: Lula foi
condenado num processo fraudulento, semelhante aos do Nazismo ou da
Santa Inquisição, ficou 580 dias preso injustamente e aproveitou para ler
dezenas de livros, tornando-se um líder ainda mais preparado. Finalmente,
sobretudo a partir da revelação das conversas entre Moro e os demais bandidos
da máfia judicial de Curitiba, captadas pelo hacker Delgatti, divulgadas pelo
site The Intercept e autenticadas por perícia da PF, o STF teve de
declarar Moro um juiz parcial e anular as condenações de Lula. (Em tempo: um
juiz ser declarado oficialmente parcial é como um médico ser declarado
assassino de seus pacientes.) Como o Brasil é formado por uma legião de
analfabetos desinformados, Moro conseguiu se eleger senador; assim como
Dallagnol se elegeu deputado federal – mas foi cassado por haver burlado a
legislação eleitoral. Por enquanto, Moro continua falando besteiras no Senado e
levando lá uma ou outra sarrafada de algum colega mais esclarecido e respeitável.
Mas muitos prognosticam que o Marreco será abatido num futuro não muito
distante.Em outubro de 2025 ele começou a julgado pela 1ª turma do STF por ter
acusado Gilmar Mendes, em vídeo que correu a Internet, de vender habeas
corpus; mas ele deverá ser futuramente julgado e condenado por crimes muito
mais graves; sobretudo o de ter comandado, na Lava a Jato, um
violento ataque à economia brasileira, que resultou na queda do PIB, e na extinção de 4,4 milhões de empregos.
Os estadunidenses são reconhecidamente
idiotas e desinformados. (Lembremos do leite achocolatado.) Em geral, nem sabem
apontar o Brasil num mapa. (O próprio Reagan, uma vez, chamou o Brasil de
Bolívia.) Mas o chamado “complexo militar-industrial” (e financeiro,
acrescentaria eu) sabe muito bem o que quer – e sempre quis muito. Livros como Admirável
mundo novo, de Huxley; e 1984, de George Orwell, mostram
como uma certa elite pode transformar o povo num rebanho obediente.
E o complexo
militar-industrial-financeiro não se contenta em tanger o próprio gado para o
curral: ele, sempre de olho nas riquezas alheias – ouro, diamantes, petróleo,
minerais especiais de grande valor para a tecnologia atual, biodiversidade,
dados (informações), etc. – trata de estender seus tentáculos a todo o mundo;
para conquistar o “gado” brasileiro, por exemplo.
Os Estados Unidos, particularmente
depois da Segunda Guerra Mundial, se especializaram num outro tipo de
intervenção, além da militar, em que tinham muita prática. Aliás, o já citado
livro Confissões de um assassino econômico explica que a invasão
militar era o último recurso. Se bem me lembro da sequência, primeiro os
agentes estadunidenes (os “assassinos econômicos”) tentavam sabotar a economia
do país hospedeiro; depois, subornavam os dirigentes locais; se não
tivessem sucesso, podiam matar esses dirigentes; finalmente, se tudo falhasse,
o governo estadunidense providenciava uma invasão militar. A propósito: neste
momento, o governo do Nero contemporâneo mantém navios de guerra estacionados
no Caribe, ameaçando a Venezuela, que tem a maior reserva de petróleo do mundo,
a pretexto de combater o narcotráfico. Mas os EUA não vão invadir a Venezuela;
porque, segundo o jornalista americano Brian Mier, eles fizeram, em seus
supercomputadores, várias simulações de guerra com a Venezuela – e perderam em
todas. A Venezuela é bem armada, tem um exército nacionalista (ao
contrário do nosso), e conta, além do exército regular, com a Milícia Nacional
Bolivariana – uma organização que tem milhares de pessoas com treinamento
militar. Estima-se que 4,5 milhões de pessoas poderiam se integrar a essa milícia
do bem. Por tudo isso é que os EUA sabem que a Venezuela seria um inferno –
um novo Vietnã.
Mas eu dizia que invasão militar é
sempre o último recurso – embora, como
pudemos ver nos gráficos, o recurso militar tenha sido amplamente
utilizado. Eles começam com o soft power (que eu traduziria como
“conversa mansa”): a influência cultural, sobreudo através do cinema. A partir
de Hollywood, um fluxo avassalador de informações distorcidas e valores
estadunidenses tem inundado o mundo há muito tempo. São décadas de lavagem cerebral
– brainwashing, em Inglês – termo aliás criado pelo jornalista estadunidense
Edward Hunter em 1950. Todos nós aprendemos, com os filmes, que os indígenas,
os mexicanos, os russos, os japoneses e chineses eram os “bandidos”; os
estadunidenses, em geral branquinhos, bonitinhos, musculosos e espertos, eram
os “mocinhos”. Ainda hoje essa ideia predomina na cabeça de muita gente.
Hoje o Japão ocidentalizou-se e virou “mocinho”. O
“bicho-papão”, hoje, é a China – mais temida e odiada do que a própria Rússia.
Por quê?
Todos nós – o mundo todo, aliás –
ficamos impressionados com o fato de que Lula tirou milhões de pessoas da
extrema miséria. Já em 2014, no governo Dilma, que tinha continuado muitas
políticas de Lula, o Brasil saiu pela primeira vez do chamado Mapa da Fome,
da ONU. Com o impeachment fraudulento e o governo do traidor
Temer, o país despencou ladeira abaixo em todos os sentidos: econômico, social,
cultural, político. Nós vimos como o trabalhador foi prejudicado depois que
Dilma foi derrubada e assumiu Temer, que implementou políticas que jamais
tinham feito parte do programa de governo da Dilma. No governo do Boçal
Fascista, o Brasil voltou ao Mapa da Fome. 33 milhões de pessoas passavam fome
quando Lula assumiu seu terceiro mandato. Em 2023, 24,4 milhões de pessoas já
tinham saído da situação de fome. Em meados de 2025, a ONU tirou o Brasil do Mapa
da Fome pela segunda vez. Um feito impressionante. Mas nada comparável ao que
fez a China, que, desde o final dos nos 1970, tirou quase um bilhão de pessoas
da miséria!
É por isso que a China é odiada. Como é
que o Capitalismo, que, segundo o próprio Google, “tem a acumulação de capital
como seu objetivo primordial”, vai admitir que a riqueza seja distribuída, que
não haja uma multidão de miseráveis (chamados jocosamente por Collor de
“descamisados”) sustentando uma elite de ricos e bilionários?
Minha sogra conheceu uma mulher que, se
ouvia alguém falar a palavra “social” – ação social, problema social, etc. –,
já ficava achando que a pessoa era “comunista”. Ora, nesse caso até você,
Amigo, seria “comunista”; porque me lembro perfeitamente que você falava em
ajudar as pessoas carentes, mesmo que fosse preciso subir favelas. (Você pode
ter esquecido; mas isso ficou gravado na minha memória dos 15 anos.) E você
estaria na boa companhia de outros “comunistas”: Mandela, Gandhi, Luther King,
Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Padre Júlio Lancellotti, São Francisco de
Assis, Lula... e até Jesus Cristo. (As comunidades cristãs primitivas, aliás,
viviam num regime de partilha, de solidariedade, de fraternidade, que poderia
até ser chamado de “comunismo” – muitos séculos antes que a palavra existisse.
E só mais uma coisa: o Comunismo, tal como idealizado por Marx, jamais existiu
em lugar algum do mundo. O que houve no tempo de Stalin foi uma ditadura
comandada por um psicopata.)
O que acontece é que há uma luta
terrível para manter as coisas como estão – basicamente um sistema em que uma
grande base de pobres e até miseráveis sustenta uma pequena elite de ricos e
bilionários: o Capitalismo, atualmente amparado por uma “doutrina de proveta”, o Neoliberalismo. Com isso, a concentração de renda só tem aumentado
no mundo. Até nos EUA existem milhões de pessoas na miséria. Cristo aprovaria
essa injustiça? Claro que não. Mas os pastores mercenários, “vendilhões do
templo” (nem é preciso citar nomes), não só aprovam, como promovem essa
injustiça.
Mas o Capitalismo, embora já tenha uns
500 anos, não é o sistema definitivo. Nada é definitivo. (Excetuando a Verdade,
com ‘v’ maiúsculo, aquela difundida por grandes sábios, como explicou Cristo:
“Passará o Céu e a Terra, mas minhas palavras não passarão.”) Eu até vi um
documentário que me deixou preocupado: segundo os cientistas, a taxa de
natalidade de estrelas está mais baixa que a taxa de mortalidade.
Mais estrelas estão morrendo, que nascendo. Isso significa que, em algum
momento do futuro, o universo ficará escuro e gelado.
A Civilização é uma construção
constante. Assim como é constante e antigo aquele fenômeno que apenas no século
19 receberia um nome, dado por um certo Karl Marx: luta de classes. Não foi
Marx que inventou a luta de classes; assim como não foi Newton que inventou a
lei da gravidade. Ela existia no Egito, na Grécia, em Roma, na Índia... A
Revolução Russa de 1917 aconteceu principalmente porque o povo tinha uma vida
miserável, oprimido pela monarquia. Em 1789 já tinha havido a Revolução
Francesa, pelo mesmo motivo. (A propósito: muita gente sente calafrios quando
ouve falar em “esquerda”. Mas sabe quando a palavra ganhou esse sentido
político? Exatamente na época da Revolução Francesa: na Assembleia Nacional, os
parlamentares partidários do rei, conservadores, se sentavam à direita
do presidente da assembleia; e os opositores, à esquerda. Foi só no
século 20, em grande parte por causa da propaganda americana, que “esquerda”
virou praticamente sinônimo de “comunismo”.)
Esquerda significa basicamente mudança.
A História só se move para a esquerda. Na passagem do Feudalismo para o
Capitalismo, o Capitalismo representava a esquerda! Os senhores feudais,
grandes proprietários de terra e exploradores dos camponeses, representavam a
direita, ou seja: queriam que as coisas permanecessem como estavam. Eles eram
os nobres. Mas já surgia o Mercantilismo, que foi uma espécie de embrião do
Capitalismo. Surgiam os comerciantes, que se reuniam nas pequenas cidades e que
eram desprezados pela nobreza feudal. Acabo de encontrar no Google a explicação
que me foi dada por um velho professor de História: “Vilão” vem do latim
villanum, e originalmente a palavra era usada para designar aquele que nasceu
ou habitava em uma vila. Entendeu? Para os senhores feudais (os
nobres), os comerciantes eram pessoas ruins; e viviam nas vilas. Vem daí o
sentido virtuoso da palavra nobre; e o sentido depreciativo da
palavra vilão.
Hoje os antigos vilões representam a
burguesia, a “gente de bem”. E os nossos senhores feudais (o agronegócio) estão
totalmente integrados ao Capitalismo: usam tecnologia de última geração, têm
jatinhos particulares (eventualmente usados para transportar meia-tonelada de cocaína), têm ações na Bolsa de Nova Iorque, luxuosos iates e dinheiro em
paraísos fiscais.
Em junho de 2024, eu escrevi um texto – A verdade sobre a corrupção –
retomando um assunto sobre o qual eu tinha lido mais de 10 anos antes: a
questão da “grande corrupção”, nas palavras do saudoso jornalista Pedro
Porfírio. Trata-se da roubalheira gigantesca nos meios empresarial e
financeiro. Em geral, a mídia só fala da corrupção dos políticos, que ganham
apenas gorjetas; mas eis que, no dia 28 de agosto de 2025, foi deflagrada a Operação Carbono Oculto, “considerada a maior ofensiva contra o crime
organizado no país”. O interessante dessa operação é que ela atingiu o coração
do Capitalismo no Brasil: o Mercado Financeiro, representado pela Avenida
Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, que acolheu 30 bilhões da organização
criminosa PCC. (Nem é tanto, considerando que os deputados arrancam do governo,
com “emendas pix” e outros artifícios, mais de 50 bilhões – que ninguém sabe
exatamente em que são aplicados.) Até a grande mídia, muito a contragosto, teve
de dar a notícia. Mas repare: ela sumiu das telas de TV, dos grandes portais de
Internet. Porque não interessa à grande mídia (praticamente toda ela, hoje,
pertencente a grupos financeiros) que se confirme e divulgue aquilo que muita
gente (eu, inclusive) sempre soube: a relação entre crime organizado e Mercado
Financeiro (gosto de grafar em maiúsculas para frisar o caráter institucional)
não é eventual, não acontece de vez em quando; na verdade, o Mercado Financeiro
é que é grande organização criminosa, que
abriga tudo.
“Na guerra, a primeira vítima é a verdade.” Eu
conhecia a frase; mas, quando fui ao Google buscar-lhe a autoria, descobri que
ela é atribuída a várias pessoas, a começar pelo dramaturgo grego Ésquilo...
Bem, da Antiguidade para cá, acho que as coisas só pioraram: a arte de mentir
foi extraordinariamente aperfeiçoada.
O que a grande mídia faz é mentir.
Sempre fez. Ela, que sempre defendeu os interesses dos ricos e poderosos, hoje
pertence quase toda a grupos financeiros; portanto, defende ainda com mais
empenho os interesses dos ricos e poderosos. O prêmio Nobel de Economia, Paul
Krugman, chamou de “mercenários da Plutocracia” aqueles jornalistas que são
pagos para mentir em favor do poder econômico – ou seja, em favor da
Plutocracia. (Eu poderia fazer uma lista, que tem nomes bem conhecidos; mas
confesso que prefiro evitar a náusea.)
Nesses nossos tempos de Internet, a
mentira encontrou terreno muito mais propício ainda para se propagar como fogo
em capim seco. Muitas pessoas não se informam, não leem, não pesquisam; vivem
nas suas bolhas de WhatsApp, Facebook, Instagram, Tik Tok. Recebem e engolem
passivamente as mais absurdas fake news; e as compartilham
automaticamente, muitas vezes sem terem nem mesmo tomado realmente conhecimento
do assunto. Há estudos sérios sobre isso.
É nesse terreno que figuras hediondas
como o jornazista do vídeo sobre os “subversivos” pós-golpe de 1964 criam
raízes, florescem e lançam ao vento suas sementes nefastas.
O dia 21 de setembro de 2025 marcou o fim do
inverno; no Brasil, foi o dia em que milhares de pessoas foram às ruas, em
várias cidades do Brasil, protestar contra a “PEC da blindagem” (a qual
exigiria a autorização do Congresso para que deputados ou senadores viessem a
ser processados por seus crimes) e contra o projeto de anistia aos golpistas
que tentaram a manter o Boçal Fascista no poder, impedindo que Lula assumisse o
terceiro mandato. No Rio, o evento em Copacabana foi histórico: no alto do
carro de som, figuras quase mitológicas da MPB, como Chico Buarque, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Ivan Lins e Paulinho da Viola (para citar apenas os mais
velhos), mais uma vez vocalizaram, pelas canções ou breves discursos, seu apego
pela justiça, pela democracia, pela verdade.
Devemos ter sempre em mente a questão da
verdade. O nome deste blog é Satyagraha, que significa “apreço
pela verdade”. Esse era um dos princípios ético-filosóficos em que Gandhi se
sustentava.
Ora, a verdade é artigo raro. Sempre
foi. Muitas mentiras, como aquelas sobre as riquezas de Lula ou sobre a
Covid-19 (um crime que pode ter resultado na morte de 400 mil pessoas, segundo
especialistas), podem surgir espontaneamente ou ser criadas em laboratório.
Mas a coisa pode ser pior: há tentativas de criar fatos. Para ficarmos
apenas no Brasil e apenas do século 20 para cá:
1) Em 1937 os militares elaboraram o Plano Cohen, “uma das maiores falsificações da história
brasileira”, segundo a própria Wikipédia. O plano previa tumultos, incêndios e
até assassinatos – tudo atribuído aos “comunistas”. Prossegue a Wikipédia:
“Como parte da farsa, ele foi ‘descoberto’ pelas Forças Armadas [...] e, enfim,
foi utilizado para legitimar o golpe de Estado que implantou o Estado Novo.”
2) Em 1968, o brigadeiro Burnier, de
triste memória, planejou atos terroristas, entre os quais explodir o gasômetro, no Rio de Janeiro. Informa a Wikipédia: “Apenas a explosão do
gasômetro, planejada para ocorrer na hora do rush, mataria em torno de 10 mil
pessoas. A culpa seria atribuída aos comunistas [...]” Estávamos no auge da
ditadura plutomilitar (conduzida pelo militares, porém a serviço dos
ricos), mas os militares queriam um pretexto para convencer a opinião pública
de que era preciso agir ainda com mais violência. O Capitão Sérgio Ribeiro
Miranda de Carvalho (conhecido como Sérgio Macaco) foi encarregado de cumprir a
missão terrorista; ele se negou, e disse
que daria “conhecimento de tais fatos ao ministro”. O Capitão Sérgio Macaco,
depois disso, foi perseguido na Aeronáutica. Em 1992, o STF determinou que ele
deveria receber a patente de brigadeiro – mas ele morreu dois anos depois sem
que a decisão do STF tivesse sido cumprida. Na história brasileira, entretanto,
ele figura como herói que evitou a morte de milhares de pessoas inocentes.
3) Em 1981, houve o famoso Atentado do Riocentro. Era o governo de João Figueiredo, o último general-presidente
da ditadura plutomilitar, que parecia empenhado em surfar a onda da
“abertura democrática” e fingir que era ele que produzia a onda. Mas muitos
generais – de farda ou de pijama – não concordavam com a abertura. Atentados
militares terroristas (é bom enfatizar o termo)
já vinham ocorrendo em toda parte. No ano anterior, Lyda Monteiro,
secretária da OAB, havia morrido ao abrir uma carta-bomba endereçada ao
presidente da Ordem. Houve banca de jornal incendiada porque vendia jornal que
fazia oposição à Ditadura. Enfim, os “gorilas” não queriam largar o osso, não
admitiam passar o poder aos civis. Por isso, mais uma vez planejaram um
atentado, “com o objetivo de incriminar grupos que se opunham à ditadura
militar no Brasil” – nas palavras da Wikipédia. Ou seja: mais uma vez, iam colocar
a culpa nos “comunistas”.
No Riocentro, naquela noite de abril de
1981, ocorria um espetáculo, em comemoração ao Dia do Trabalhador, em que
grandes nomes da MPB (muitos dos quais estariam no show “sem anistia” em 2025,
em Copacabana) entretinham 20 mil pessoas.
O saudoso Alceu Amoroso Lima escreveu,
no Jornal do Brasil, um artigo em que ele enfatizava o caráter de justiça
divina (as palavras são minhas, mas a ideia era essa) que marcou o
episódio: a bomba explodiu dentro do carro (um Puma), no estacionamento. Um
sargento morreu, e um capitão ficou ferido. As 20 mil pessoas talvez nem tenham
ouvido a explosão.
Vemos, portanto, que, além da tradição
de mentiras, de propaganda, de lavagem cerebral, há uma tradição de atentados
com false flag (falsa bandeira). Isto é: atentados planejados ou
realizados por um determinado grupo, com a intenção de culpabilizar um outro
grupo, ou até outro país. Muitos não deram certo, ou nem chegaram a ser
realizados. (Na véspera do Natal de 2022, por exemplo, falhou o plano,
engendrado pelo bolsonarismo inconformado com a derrota, de explodir um
caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, o que poderia resultar na morte de
centenas de pessoas.) Mas o jornalista Sebastião Nery fez uma lista de uma
meia-dúzia de atentados que realmente aconteceram e produziram os efeitos
desejados, em várias partes do Brasil. Temos, portanto, de estar em guarda
contra contra o terrorismo de Estado – como o praticado por Israel e pelos EUA
–, a desinformação, a mentira.
Como as mentiras ditas pelo Boçal
Fascista que desgovernou o Brasil até
2022. Ao pesquisar na Internet, sou informado de que o genocida “mentiu 6.676
vezes durante o seu governo”; o que dá uma média de “4,58 mentiras por dia”, de
acordo com a Agência Aos Fatos. Mas a informação foi divulgada pelo PT;
portanto, caberia buscar outra fonte. Encontro várias, mas uma me chama a
atenção: uma noticia de que Jair contou “1 mentira a cada 3 minutos no Jornal Nacional [...]” O que há de interessante nessa notícia é que ela foi
divulgada pelo insuspeito Estadão, o jornal que, em 2018, disse que, entre
Haddad e o Boçal Fascista, o eleitor estava diante de “uma escolha muito
difícil”. Sim, foi esse o título do editorial em 8 de outubro de 2018! De
fato, era muito difícil escolher: Haddad, um professor com PhD, tinha sido
excelente ministro da Educação e excelente prefeito de São Paulo; Jair é um
miliciano psicopata que nunca na vida fez nada que preste.(Hoje Haddad é o
excelente Ministro da Fazenda do terceiro governo Lula; e foi a mão que
elaborou o PL que concede isenção de IR a quem ganha até 5000 reais – o que era
promessa de campanha de Lula.)
Até o Estadão teve de reconhecer que o
miliciano, além de boçal, covarde, preguiçoso, ladrão e genocida, era um
mentiroso de primeira ordem.
Enfim, o que eu quero dizer é que nós
temos sido enganados. Mentiras – ou fake news – levaram ao suicídio de
Getúlio, ao golpe contra Jango (que era fazendeiro e de comunista não tinha
nada), ao golpe contra Dilma, à prisão de Lula...
Esse Congresso atual é considerado por
muitos o pior da História. Ocorrem-me imediatamente alguns nomes de deputados e
senadores desprezíveis, que trabalham contra a verdade, contra o povo, contra a
ética – mas frequentemente em nome de
Jesus... Em vez de trabalhar pelas causas de interesse do povo, fazem
encenações para gravar vídeos que serão divulgados nas redes sociais. E
defendem propostas como o aumento do número de deputados, a blindagem para
bandidos e o perdão para golpistas – todas elas devidamente sepultadas por
causa do clamor popular.
Por motivos de assepsia, não vou citar
nomes; mas esses deputados e senadores são em geral filiados a partidos que
defendem os super-ricos, como PL, União Brasil, Republicanos, Novo e outros
menos conhecidos.
Amigo, a essa altura você deve estar
pensando que sou “ateu e comunista”. Bem aqui vai uma informação: não sou
comunista, e muito menos ateu. Eu até acho que aquele Comunismo idealizado por
Marx foi mais uma proposta de instalação da Utopia, de criação de um mundo
menos desigual. Em 2018 escrevi um texto
– Analfascistas e Esquerdoentes – abordando o assunto: “Ressalte-se que a mera mudança de sistema econômico
ou regime politico pode não representar o passaporte para o Paraíso. Platão já
falava disso: Como são encantadoras as
pessoas! [...] acreditam que, por meio de reformas, terminarão com as
desonestidades e canalhices da espécie humana [...] Na verdade, muitos
sábios contemporâneos falam a mesma coisa: a mudança social (verdadeira,
profunda, profícua) terá que ser antecedida pela mudança pessoal. A qualidade
da água de um rio depende da qualidade das infinitas gotas que o formam.”
Portanto, eu sou “comunista” no sentido
em que São Francisco e Gandhi eram comunistas. Gandhi dizia expressamente não
acreditar que o Comunismo pudesse ser implantado na marra (claro que não
foram essas as palavras), de cima para baixo; mas acreditava no que eu chamo de
comunismo informal, aquele regime, baseado na boa vontade e na
solidariedade, que prevalecia nas comunidades cristãs primitivas, antes
que existissem o Vaticano, o Papa, aquela coisa toda. (No entanto, enquanto
isso, temos de ir tentando fazer reformas, criar leis e tribunais para evitar
que os criminosos se locupletem e sabotem os progressos civilizacionais que poderiam pelo menos minorar os sofrimentos humanos.)
Quanto a ser ateu: não tenho religião,
embora respeite todas. Nunca tive paciência para missas ou quaisquer cerimônias
religiosas. (E só agora, prestes a fazer 72 anos, estou lendo a Bíblia, na
qual, aliás, estou encontrando um monte de absurdos! Acredito que as coisas
melhorarão quando eu chegar ao Novo Testamento...) Mas ateu não sou de jeito
nenhum. Ao professar o ateísmo, eu estaria contrariando minha natureza tão
radicalmente como se adotasse uma religião qualquer. Um filósofo inglês – Paul
Brunton – disse uma coisa com que me identifico bastante: “Não tenho religião e
tenho todas.” Na verdade – que nenhum evangélico nos ouça –, todas as religiões
são uma só. Faz diferença se falamos Deus, Dieu, God ou Alá?
Assim como existem muitas línguas, muitas culturas, existem muitas religiões;
ponto final. E existem as pessoas, como eu, que têm sua própria religião –
digamos assim – e colhem gotinhas de sabedoria de todas as outras, assim como o beija-flor bebe o néctar de
inúmeras flores.